quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MEU FIM

I

Súbito!
Vejo-me cantando
Mas meu canto não é daqueles
Cantos que acalma,
É como uma lamuria dentro d'alma
E neste canto, vou reclinando,
O som vai se apagando até
Que caio num sono profundo
Logo me vejo preso
A estas correntes parnasianas
Sou açoitado pelos gládios simbolistas
E assim continuo em meu delírio
Em febre vago dentre o pelourinho da morte
Assombra-me os ombros uma energia
Magnânima, profana ou divina ?
Não importa!
Tolo é aquele que se preocupa
Com a origem da idéia!
A minha mente é uma colméia
Zunem abelhas com o pólen profano
Onde querem e vão! Assim executam
O trabalho mundano!
Soberano desejo aparece em mim
Quero sair da forma humana
Transformar-me em uma palha, numa lasca de cana
Quero adubar a terra podre,
Quero que com meu corpo decomposto nasça algo vivo
Mais vivo do que sou hoje, ou já fui um dia!

II

Desperto!
Meia Noite bate nas horas mortas
Perdi o tempo,
Quantos dias se passaram em meu sono?
Dormi setes dias e esta é a sétima noite
Meu Deus! Acordei na sétima noite!
A lua pálida, porcelanada, gigante no céu
Meu corpo pesado, e me sinto tão só
E ainda tão cansado...Levanto!
Com um gesto involuntário, volto a lamuriarar
Aquela canção, em minha mente
Ouço sons de órgãos e violinos...
Um sibemol e um sustenido
Onde um lírico negro e um tenor albino
Cantam a morte dos ventos que me refrescam
Tento contemplar a natureza,
À olho da janela...fúnebre!
Tudo morto! Árvores paradas,
Sem sequer mexer um galho,
Nem uma folha cai ao chão,
Não há flores e nem frutos
Olho a estrada de barro,
Nada...nada...nada...
Nem mesmo a cadela que ladrara antes
Está viva, nem mesmo um maldito grilo criquilava
Minha visão era tenra, embaçada,
Via tudo num surrealismo insano
E num cubismo profano
Tudo era quadrado, tudo era retângulo!
O mundo era uma janela
Que não levava a lugar algum!

III

Saio de casa!
Descalço, desnudo
Sem nada que me apegasse ao mundo
Andei, vaguei...
Pela madrugada afora
Passaram ruas, estradas,
Até que cheguei ao pé da serra!
Uma bruma maldita passeava
Exibindo seu alvo véu
Como uma noiva que fora abandonada no altar
E eu ainda a vagar...
Numa calma destruidora, vou descendo
A serra até chegar ao mar
Fito-o de frente, suas negras águas
Misturavam-se com a madrugada
É como se o mar e o céu penumbroso
Fossem ambos um único elemento
Andei mais a frente, e sentei-me numa rocha
Sentia as mordiscadas das piranhas nos pés
E na perna já subiam os caranguejos
É como se o mar soubesse que eu iria morrer
O céu sendo coberto por nuvens pavorosas
Já trovejava! O mar agora se destaca do céu
Ondas raivosas, ventos uivantes...
O mar e o céu numa fúria épica!
Olho dentre as rochas...
Uma pequena poça d'água me chama a atenção
Olho-a e vejo o reflexo de alguém semelhante
Com que fui um dia, mas agora com uma feição sofrida
Vejo-me criança, adolescente, adulto, velho e morto
Neste reflexo sombrio,
Um pensamento me vem
Após um colossal arrepio...
É hora da minha morte!
E sem muito a questionar!
Olho o céu e olho também o mar...

IV

A aurora tingiu o céu
Trazendo a calmaria natural
Meu corpo já era pó,
Eu já sentia o afago sepulcral
E naquela poça, onde me vi,
Nadavam microorganismos
Que carregavam a minha genética...
Ficaram com meus silogismos
Ficaram com minha alma, nada de minha matéria caquética!

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