quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Confissões

Sou uma criatura devidamente regada por vontades que não sei definir quais são.

Um imbecil, é deve ser. Provavelmente não sou o único, mas hoje estou me sentindo um saco vazio, um saco de arroz vazio. É claro, que muitos podem estar lendo isso e pensando ''lá vem o Gabriel com seu melodrama''. Isso mesmo, sou eu mesmo e todo meu melodrama, algum problema? Como diria alguns amigos meus, ninguém dorme com os meus olhos pra saber o que sinto, como também não sei o que todos sentem, normal.

Desempregado, deslocado, incomodado e... Muitos outros ''ados''. Mas que merda! Eis-me sentado nesta cadeira de rodinhas tomando café em plena madrugada esperando que amanheça. E que, por sinal, minha vida ultimamente está sendo à base de esperar. Espere sua hora vai chegar, espere algo bom vai vir, espere isso, aquilo também... blá blá blá... eu odeio esse negócio de esperar!!!

Quer saber? Realmente perdi o pique de escrever... Afinal, terei que esperar alguém ler, terei de esperar algo acontecer e tal não é mesmo?

O fato que mais odeio é querer fazer algo e não poder por algum motivo alheio. Eu até condeno quem tem oportunidade e não corre atrás, mas querer correr e não ter caminhos isso sim, é a gota d'água!

Enfim... A vida segue, na espera de algo... Na espera...

Silêncio, cadeira, café e espere...
(teve até um ar familiar)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

METAMORFOSE

Dedicado a P.S.


Plena virtude de mistério envolta,

Ancora do bálsamo restaurador

Uma alva mulher do mundo revolta

Lava a alma com suas lágrimas

A cada minuto perturbador!



Surge então em seus olhos a Fênix,

Um animal épico que a faz renascer

Removendo as brumas de seu coração

Um segundo e a mulher, sem perceber,

Agora tem a forma de um imperial dragão

Ganhou os céus, equilibrou-se num Yin

Yang da mais amorosa perfeição!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A ESCADA

Numa arcaica sinfonia
Aos berros duma cobra
Minha mente se desdobra
Para escapar desta medíocre hierarquia.

Os que tem sobre os que não tem
Malditos! Pobrezinhos dos que em solavancos
Levam a vida à miíde nos barrancos
Enquanto outros tudo e todos nos bolsos contém!

A Terra, esta torpe morada
que deveria ser Mãe acolhedora
Ao invés de ser redonda, devia ser uma escada!

Onde (sabemos) cada um teria seu patamar
Uns dormiriam em sedas, já outros numa manjedoura.
Crítico! Os tadinhos todos pelos becos a chorar!

CÂNTICO

"eu queria, nem que fosse por um instante apenas, existir"

No alto do céu, no mais alto cume
Onde nem mesmo Deus pode tocar
Existe um estrela negra
Ela, de máxima leveza,
Exala um aroma púrpuro.
De si goteja um líquido leitoso
Mais gelado do que a neve.
Mesmo colossal, ninguém a percebeu
Está além da vida e da morte,
Do céu e o inferno. Esta estrela , sou Eu!

MONÓLOGO DE UM IMORTAL

Nauseante!
No andar lendo das horas,
assim mesmo de repente,
Interroguei-me à respeito
Destas rubras dúvidas que,
Com força tamanha assombram-me os joelhos...
Malditas! Como a mitológica Fênix
Sempre renascem depois de mortas.
"- Como se mata um imortal?"
...
Eu, assim como minhas dúvidas,
Sou um imortal assombrado
Pela previsível força da
Imortalidade transcendental!

ELA

(oferecido à J. A.)

Onde ela está?
Por que ela não aparece?
Apareça mulher!
Solte seus negros mantos
Doirados de madeixa
Brilhe seus olhos com estrela d'água
Exale o aroma
De sua respiração.
Seu poro, doce mulher,
É onde quero morar
Quero semrpe te ver (ter)
Pois você é minha serenata ao luar!

A BANDEIRA

Fitas grossas e rubras
Despencaram dos pulsos
Da moça virgem...
Perdera seu amor primeiro
E numa explosão de angústia
Encontrou seu objetivo derradeiro.
Adornado, o corpo em roxo
Contrastado com as fitas vermelhas pulsantes
Transformou-se numa bandeira
Das dores todas de Amor...

domingo, 17 de janeiro de 2010

"Certas horas..."

"Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijo na boca...
E nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama...
Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...
Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...
Alguém que ria de nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade
inquestionável...
Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:
Acho que você está errado, mas estou do seu lado...
Ou alguém que apenas diga:
Sou seu amor! E estou Aqui!"


William Shakespear

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Desabafo Sem Pensar

Liberdade! O que é, por fim, a tal Liberdade? Tenho medo de sua semântica! Hoje tive um grande desentendimento familiar, eu como sempre constatei o que julgo meu direito, obviamente não pude dizer muito, pois não estou em casa. Isso mesmo, eis que cheguei no ponto xis da questão! Não estou em casa, não me sinto livre. Podem ser da família sim, mas mesmo nos tempo de hoje acho que após certa idade temos que sair do ninho. Tudo o que você faz diz respeito aos mais velhos da casa, mesmo que você ajude financeiramente (coisa mais importante na família) o que você dá não é o bastante para ser livre. É isso...

Dói internamente saber que mesmo tendo asas, não tenho céu para voar. E tantos por ai com asas e céu, mas não querem voar... O mundo é mesmo estranho, e cada dia mais acho que nestas horas alguém lá em cima dorme enquanto passamos fome...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A questão de um espaço republicano

Ao que tudo indica uma sombra escravocrata ainda paira sobre a cabeça da sociedade brasileira. De acordo com Roberto da Mata (2009) estamos, me atrevo a dizer, na “era dos eufemismos”. Onde falamos de liberdade, de espaço público (ápice da evolução democrática) mas, que no entanto, isso tudo são nomes, que servem de laranja, para ocultar o que são realmente; não temos nada que realmente seja público ou de desfrute de todos. Podemos ter grandes exemplos no nosso dia a dia mesmo. Há ruas que seus moradores decidem, para sua segurança, fechá-las colocando um portão e apenas entram aqueles que forem autorizados. Mas a rua não era pública até então? Existem praias privativas com cerca para evitar visitas indesejadas. Há um tempo, fui à Ilha Bela, linda! Levei um susto quando fui obrigado a pagar dez reais para poder conhecer uma cachoeira. E posso assegurar: não era a Mãe Natureza que me cobrou tal taxa, por sinal, seria o único ser que teria “direito” a tal atrevimento. Claro, se fosse o caso de sua existência.
É curioso como tudo isso começa a fazer sentido. Como é possível existir um espaço republicano se sempre precisamos pedir permissão, pagar ou qualquer obstrução que seja, para entrar em algum lugar que, em teoria, é público? E isso não fica apenas em uma classe social. Podem-se conseguir exemplos claros de nossos governantes e também nas regiões urbanas. E ao julgar pelo andar desta carruagem em pouco tempo teremos respiradores de ar, alguma engenhoca contemporânea que fica presa às suas narinas contando quanto de metro cúbico de oxigênio você está consumindo; para que no final do mês chegue à sua casa uma conta exorbitante do ar que você respirou.

E como se desprender de tudo isso?
Da Mata nos prende a essa questão. Fazendo-nos olhar em volta (quando digo em volta, falo tanto da sociedade como do nosso próprio umbigo, afinal todos temos uma parcela de culpa) e refletir sobre nosso espaço como um todo, mas não individual e sim, um espaço desprendido das ganâncias e realmente republicano, de todos.

Insônias

Constantemente tenho insônias. Acabo caindo sobre os algozes programas de TV da madrugada. “Olha que lindo esse abridor de latas; rápido, fácil de limpar e compacto (cabe em qualquer gaveta!).” Pelas águas! Jesus andou pelas águas. Ele é o caminho, o senhor de todos nós! Aleluia!” “Ó, á... hum...hum...mais forte! Mais forte! Ó Yes! Ó no! Estou chegando lá... ah!!!!” “O Fitoplâncton é presente nas massas d'água oceânicas de forma esparsa, em menor concentração do que na água perto da costa. O motivo é basicamente a menor quantidade de...” Basta! Maldita madrugada neste maldito século! Certas horas penso que a TV é um dos maiores instrumentos de desincultaração que já inventaram. Tudo bem que, são três e quarenta e cinco da manhã, mas por acaso um cidadão não tem mais direito a ter uma insoniasinha? Eu pago verdadeiras fortunas nesta super ultra mega TV à cabo com qualidade perfeita via satélite e todos esses outros bla bla blas que o vendedor diz para tentar lhe convencer a assinar esse protozoário sangue-suga de tempo útil que é a TV à cabo. Não é nada fácil viver no século XXI. Não mesmo! Trabalho, almoço, fofoca, trabalho, nervoso, sono, café, café, mais café, trânsito, mercado, coca-cola, trânsito, casa, louça, TV, banho, TV, cama, TV, insônia, e advinha... Mais TV... Isso é rotina que se apresente? Aliás, rotina é apresentável? Chegamos a uma era onde somos conduzidos por um ser maior (que por sinal está longe de ser Deus) que nos leva do nada à lugar nenhum.
Vou fazer um comentário agora, sei que muitos vão me achar um imbecil (bingo! Acertaram!), outros vão gostar (quem sabe), muitos nem vão ler e mais alguns não vão ter uma opinião formada sobre tal assunto (típica saída pela tangente, também a uso muito).
- Lá vai...
Ano de dois mil e nove depois de Cristo, não se sabe bem ao certo em quem ou o que acreditar, antes tinhamos o Teocentrismo (Deus, unicamente ele...), vieram com o Antropocentrismo pra mudar um pouco as coisas (claro, ninguém gosta do mesmo pensamento por muito tempo. Característica do homem não há como fugir). Renascimento, revoluçoes, capitalismo e o tempo avança apavorantemente e tudo muda ao passo que avança. Até então “tudo bem”. Mas e hoje? O que seguimos? Qual dos “ismos” que nos influencia? Pra muitos Deus é tudo já a outros não. A razão do homem é muito válida, porém ainda é preciso achar algum homem... Existem ricos que sequer sabem escrever “A Casa do Pedro é bonita.”em um caderninho de caligrafia enquanto um professor mestrado vende cocada na praça da Sé.
Estamos em época de mudaças (que novidade!), numa transição de dúvidas para, muito provavelmente, indagações psico-pedagógicas da covivência socio-espiritual do mundo contemporâneo em que vivemos. Ou seja, de lugar algum pra coisa nenhuma.
Quatro e quize. Ok, vou parar com esse devaneio meu, devo estar assutando alguns leitores. Se bem que, a maioria deles devem estar com insônia e assistindo TV (o que eu não deveria ter deixado de fazer certo?). Vou comer alguma coisa gordurosa e industrializada enquanto mato Dante, Virgílio, Machado, Eça entre outros assistindo um programinha de TV.
“Viu só? Como é útil esse polidor de prata de lei? Compre já o seu!”

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

FRATERNIDADE PÚRPURA

(Dedicado a um eterno amigo... L. S.)

Como as santas cerejeiras
Ficamos estáticos no ar
Testemunhando as graças derradeiras
Quando flores rosa púrpura ao vento jogar.

Sentindo a brisa primeira
O céu tinge-se em amarelo ouro
Lembrando-nos da vida certeira
Anuncia-se a nossa chegada com tambores de couro

É chegada a aurora das amizades!
Amo-te meu irmão
Essa é uma das minhas verdades!

Enraizamo-nos aqui, neste chão
Temos um ao outro, eterna amizade
Amigos ao etéreo unidos pelo coração!

VIDA E MORTE

Fazem-se presentes a mim,
Angustia e Indiferença
Desenvolve-se diante de um "sim”
Morte, traga-me sua presença

Ah! Quantas vezes me repudiei!
Calei-me na ignorância suprema!
Quantas tantas outras chorei
Sem mesmo ter um motivo, a dor, um tema

Agora desfruto de ti
Oh! Falta em mim à palavra,
Nem mesmo sei se existi

Em um par martirizante
Morte e Vida, juntas, na maldita estrada
E eu, entre elas nesta volúpia agonizante!

VENTOS DE MORTE

Corre sangue
Em veias secas
Aperto a sangria
Só sai pó
O Leste me chama
Ventos de morte

Bebi! Bebi até a última gota
Doce... Amargo... Mortal!...
Perfume de rosas
Cheiro de morte
A Luz se apaga
O pulso falha
E apenas escuto
O som ecoante
De uma marcha fúnebre.

SEM SAÍDA

Então me perdi
Entrei na floresta labiríntica de minha mente
Nas escadarias da amargura desci
Deixei jorrar meu sangue incandescente

Adentrei cada vez mais
Sabendo que não podia voltar
Desci, desci, fui sem olhar para traz
Envolto de amargura e meu sangue ainda a jorrar

É Gabriel, nem assim conseguiste?
Fugiu da feroz humanidade, do mundo bruto
Entrou em ti, e agora a treva lhe assiste

Esqueceste que teu peito é pura angústia?
Prendeu-se a loucura,
E desde então teu olho vive n’água!

SEM CORTINAS

Quando eu era criança
Eu sonhava, sorria...
Acreditei na existência da tal esperança
Enquanto minha mãe a mim mentia...

Todos mascararam, de mim, a verdade
Passou-se o tempo, e vi
Que o meu mundo era de pura falsidade
Debulhei-me em lágrimas, assim eu cai

Hoje nada sinto, sou frio
As lágrimas congelaram em meu rosto
Homem sem calor, agora tornei-me vil

Sou a carranca do sol posto
Sou a morte que ninguém sentiu
Da alegria, do amor, eu sou o oposto!

RENÚNCIA

Eu vi, sem abrir os olhos
Estava lá, eu senti
Dentro de mim
Nas trevas, nas sombras...

Uma chama se ascende
O frio reina
Na bruma, olhos de lobo
Fome de cão devora – me

Lua vil, noite que engole
Vento que uiva dentre as árvores ocas
Noite mórbida
Trás uma lembrança...

Escuto lamúrias de morte
Minha hora se aproxima
E na noite intensa
Livrarei-me do peso da vida

Anuncia – se a chegada
Correm lágrimas nos olhos do lobo
Minha alma clama por ti
Oh! Tão renunciada Morte!

QUEDA ÉPICA

Guerreiro me fiz!
Sublimar-me-ei numa dor vil
Ignorante! Eu, da vida, sou um mero aprendiz
Fui caindo num abismo hostil

Ah! Melancolia dos vencidos!
Mulher de ímpias mordidas
Dentes serrilhados e membros apodrecidos
Deixa-me no corpo, as mais cruéis feridas!

Minha mente vazia, é
O sepulcro de minha esperança
Sequer me lembro quando era criança

Ah! Aqui enterrei minha fé
Na pútrida terra!
Onde a dor cresce e humanidade berra!

PERDÃO DIVINO

Negarei a carne
Que me foi confiada
Trairei os meus propósitos
E sei que não levantarei aos céus
Mas parto feliz
Por ter conhecido
Um verdadeiro Amor
Amor esse
Que me foi arrancado
Pela imprudência alheia

Dor que corrói a alma
Profana lâmina...
Dois cortes, uma vida
Mãos cobertas de sangue
Corpo traído por um irmão
Olhos sem luz, alma sem vida
Chama que se apaga, vida que vai em vão
Agora, resta – me esperar
Que a Dama Negra venha me levar...

Abre – se a janela, estranha luz que entra
Visita – me um anjo
Sangue que volta a correr
Feridas que se fecham
Ânimo que se revigora
Vida que volta a brilhar
Amor que renasce na esperança
De que o mundo ingrato pode mudar
Agora encontro – me na reza
Eu Vos agradeço. Oh! Anjo
Porque eu não merecia perdão!

PEITO VAZIO

O sino da catedral grita
Quer mostrar-se vivo
Mas como pode o cobre ter vida?
Ah! O sino grita!
Desta vez nem as corolas o escuta!
Lúgrube sino,
Que anuncia a morte.
Da Torre, descem negras estolas
Fúnebres, amaldiçoadas, angustiosas...
A noite mostra-se lenta
Para aumentar a dor de todos
A cidade em silêncio,
Num luto interminável!
Morte! Morte! Morte!
Em negro astia-se a bandeira dos vencidos!
Um silêncio que dói no ouvido...
Nem mesmo o som de um grilo
Ouve-se nesta noite.
A natureza não se mostra viva
Nem sequer uma bruma espessa aparece...
Aqui, é um deserto de angustia
Onde nem mesmo a angústia se faz presente
Nada existe, nada reside aquiApenas a catedral!
Uma arquitetura em ruínas
Onde casaram lindas meninas
Cai as pedras do altar monumental
E o sino grita!
Num ecoante som
Ele apavora e estremece o meu Coliseu
Este lugar que nada vive
Que nada existe,
Este lugar, é o peito meu!

MORTE FANTÁSTICA

Fantasio fortemente cada
Gota fantástica de meu sangue fervilhante...
Manto rubro de fita grossa
Ardente como uma torrente
Da mais épica sensação fluente.
Em bolsas térmicas temporais
Nascem crostas de corais
E se quebram todos os cristais
De minha alma cansada...

Quebrou- se tudo
Romperam-se as forças cerebrais!
Morri...
É isso, o fim de um poeta
A morte daquele que
Nem sequer viveu!

MEU FIM

I

Súbito!
Vejo-me cantando
Mas meu canto não é daqueles
Cantos que acalma,
É como uma lamuria dentro d'alma
E neste canto, vou reclinando,
O som vai se apagando até
Que caio num sono profundo
Logo me vejo preso
A estas correntes parnasianas
Sou açoitado pelos gládios simbolistas
E assim continuo em meu delírio
Em febre vago dentre o pelourinho da morte
Assombra-me os ombros uma energia
Magnânima, profana ou divina ?
Não importa!
Tolo é aquele que se preocupa
Com a origem da idéia!
A minha mente é uma colméia
Zunem abelhas com o pólen profano
Onde querem e vão! Assim executam
O trabalho mundano!
Soberano desejo aparece em mim
Quero sair da forma humana
Transformar-me em uma palha, numa lasca de cana
Quero adubar a terra podre,
Quero que com meu corpo decomposto nasça algo vivo
Mais vivo do que sou hoje, ou já fui um dia!

II

Desperto!
Meia Noite bate nas horas mortas
Perdi o tempo,
Quantos dias se passaram em meu sono?
Dormi setes dias e esta é a sétima noite
Meu Deus! Acordei na sétima noite!
A lua pálida, porcelanada, gigante no céu
Meu corpo pesado, e me sinto tão só
E ainda tão cansado...Levanto!
Com um gesto involuntário, volto a lamuriarar
Aquela canção, em minha mente
Ouço sons de órgãos e violinos...
Um sibemol e um sustenido
Onde um lírico negro e um tenor albino
Cantam a morte dos ventos que me refrescam
Tento contemplar a natureza,
À olho da janela...fúnebre!
Tudo morto! Árvores paradas,
Sem sequer mexer um galho,
Nem uma folha cai ao chão,
Não há flores e nem frutos
Olho a estrada de barro,
Nada...nada...nada...
Nem mesmo a cadela que ladrara antes
Está viva, nem mesmo um maldito grilo criquilava
Minha visão era tenra, embaçada,
Via tudo num surrealismo insano
E num cubismo profano
Tudo era quadrado, tudo era retângulo!
O mundo era uma janela
Que não levava a lugar algum!

III

Saio de casa!
Descalço, desnudo
Sem nada que me apegasse ao mundo
Andei, vaguei...
Pela madrugada afora
Passaram ruas, estradas,
Até que cheguei ao pé da serra!
Uma bruma maldita passeava
Exibindo seu alvo véu
Como uma noiva que fora abandonada no altar
E eu ainda a vagar...
Numa calma destruidora, vou descendo
A serra até chegar ao mar
Fito-o de frente, suas negras águas
Misturavam-se com a madrugada
É como se o mar e o céu penumbroso
Fossem ambos um único elemento
Andei mais a frente, e sentei-me numa rocha
Sentia as mordiscadas das piranhas nos pés
E na perna já subiam os caranguejos
É como se o mar soubesse que eu iria morrer
O céu sendo coberto por nuvens pavorosas
Já trovejava! O mar agora se destaca do céu
Ondas raivosas, ventos uivantes...
O mar e o céu numa fúria épica!
Olho dentre as rochas...
Uma pequena poça d'água me chama a atenção
Olho-a e vejo o reflexo de alguém semelhante
Com que fui um dia, mas agora com uma feição sofrida
Vejo-me criança, adolescente, adulto, velho e morto
Neste reflexo sombrio,
Um pensamento me vem
Após um colossal arrepio...
É hora da minha morte!
E sem muito a questionar!
Olho o céu e olho também o mar...

IV

A aurora tingiu o céu
Trazendo a calmaria natural
Meu corpo já era pó,
Eu já sentia o afago sepulcral
E naquela poça, onde me vi,
Nadavam microorganismos
Que carregavam a minha genética...
Ficaram com meus silogismos
Ficaram com minha alma, nada de minha matéria caquética!

MEDO SUPREMO

Adstringentemente congrego meus medos
Uno-os todos e os fecundo num feto
Nasce uma criatura sem rosto, sem dedos
Repudiada por todos, sem mãe, sem teto

Criatura hostil, de crueldade singular
Sem pecados, sem virtudes, vazia...
Conhece tudo e a todos sem sair do lugar
Vil madrasta, causa a quem toca sua fobia

Maldita cria, de atitudes estranhas
Exorcizo-te de mim
Não mais a terei na minha entranha

Avatar de assídua Dor
Já sei qual é teu nome!
Criatura! Chama-te: Amor!

INSCRIÇÃO PÓSTUMA

AQUI JAZ UM POETA MORTO

INOCÊNCIA PERDIDA

Onde foi parar a minha inocência?
Como está à criança que fora outrora?
Despedaçada em maléficas alfinetadas
A criança inocente vive na Serra da Cantareira
Está na Ilha Bela, na mata, na água, na natureza
Extasiada pela arquitetura monumental da grandeza
Estática, mumificada na beleza natural das cousas
É pena...Assim eu me vejo, retrocedendo no Jardim do Éden
Nada é real, tudo numa teologia bíblica
Nessa antropologia de minha existência
Vejo que sou filho de Eva e Adão,
Onde Eva é a Amargura
E meu pai Adão é o pranto.
...
Insisto na busca da ventura,
Desolação, desolação, desolação...
Meu peito estéril, meu morto coração...
Ainda bem que a criança inocente
Não mais vive aqui, vive em outro chão,
Na verdade, ainda bem
Que ninguém vive aqui,
Apenas eu o mereço!
Este lugar, que é meu por direito!
E neste tempo, não será mais de ninguém!

INJÚRIAS

Eis- me aqui
Oh! Olho de Hórus
Do cansaço...

Eis- me aqui
Temendo, sozinho, morrendo
Ecos d’alma soando
Vibrando em microfibras noturnas

Eis- me aqui
Norte!
Sul!
Leste!
Oeste!

Eis- me aqui
Com a alma cansada
Gritando injúrias aos quatro ventos
Não os tenho em nada!
Não moro em lugar algum!
Eu, nem sequer existo!

INDIFERENÇAS

Vago dentre a multidão
E vejo que ninguém me nota
Nesta nuvem humana idiota
Participo com sofreguidão

Certamente, sou pouco para eles
Sou um operário, não abelha-rainha
A indiferença é tanto deles quanto minha
E ninguém pára, todos continuam seus deveres

Isso pouco me importa,
Não consigo gostar de seu mundo
E seu mundo também não me suporta

Eles correm para não morrer,
Eu, que abomino o ser humano,
Morro para não correr!

GUERRA INTERNA

Minha dor chora, agoniza, rasteja...
Na bruta querência que esta tem por mim
Convém a mim gritar? A voz de fora pra dentro remaneja
Sentimentos angustiantes mostram-se sem fim.

Paralizar-me-ei na noite vil
Mente e Bucho, vazios, tenros, ocos...
Neurona Algoz versus Neurona Gentil
Pelejam em risos, punhais e socos.

Entrei em mim, fitei destroços
Morre a Inocência Faminta e Ternura Leprosa
Nos passos, apenas ouço o quebrar dos ossos.

Meu sangue, que coagula na veia pavorosa
Apodrece os corpos nossos
E corrói o que resta da visão amorosa!

ENTERRADO VIVO

Habilmente
O homem
Rói com sofreguidão
As unhas pretas,
Salgadas e ensangüentadas!

Maldito! Depois de morto,
O caixão
Rústico, arranhado,
Trazia a lembrança
Assídua das unhas pretas,
Salgadas e ensangüentadas...

DORSAL

Um arrepio me vem à nuca.
Uma gélida impressão que
Em minha espinha dorsal
Navega como um negreiro
A levar seus escravos;
Sinto na mente oca
As alfinetadas da consciência
Assiduamente sobre minha pele
Nessa macabra acupuntura
De dor e sofrimento
Sinto uma grande indecisão
Na semântica de minha vida
Valeu à pena?
Quantas vezes terei que cair
Para ver que nasci unicamente para
Sofrer, para encontrar na dor
A face da verdadeira morte
Da vontade de morrer
Até que um dia, sem mais
Eu perca a vontade de acordar,
Coisa que já acontecera,
Escuto no fim do corredor
Uma gota a pingar...
Esse barulhinho
Ensurdecedor, ecoa em minha
Mente como um gigantesco sino
Da mais colossal catedral.
Dum... Dum... Dum...
Marteladas, marretadas, machadadas
Ah...
Deus?És tu?
Não! Sei que não és!
Então quem será que bate essa hora
Em minha mente?
O Diabo? Um anjo? Tão pouco...
Mais uma vez a culpa vem
Me visitar...
Entre! Maldita dama!
Afinal a casa já é sua!
Sente-se! Um café?
Claro que não!
Tu só bebes o sangue de minhas veias,
Alimenta-se de mim não é?
Desfrute!
Vamos! O que esperas?
Estou aqui! Sozinho!
Mais uma vez!
Queres o que de mim?
Minha vida? Já levaste!
Meu sangue? Já desfrutaste
Então? Não vais me matar?
Deixe estar, mulher!
Se não queres (ou podes) me matar
Deixe que eu mesmo faça isso!

DISSABORES

Coagulando, coagulando, coagulando
Meu sangue ferve!
Dentre minhas veias borbulhando
O sangue continua coagulando
Construindo a lápide de meu corpo inerme.

Ah! Grandioso verme!
Criatura infecunda da terra!
Nascido do ódio daqueles seres vivos!
Cresce quando a humanidade berra,
Alimentando-se com os mortos altivos!

Navegando neste sangue coagulante,
A deriva! A mercê do vento repugnante
Com a força de um paquiderme gigante
Minha alma tenta inutilmente se libertar
Das correntes de meu corpo fumegante!

Estático! Extasiado com a vermelhidão
De minhas vísceras expostas na multidão,
Continuo navegando neste rubro chão
Lamuriando nesta vasta estrada
A dor de minha alma desafortunada!

Trilhões de moléculas congregadas
Reúnem em si a dor de viver
Condenando um único ser
As torturas das mentes más e desgraçadas
Destruindo assim a alma já condenada...

Esses são os meus dissabores...
Eu quase sem vida, repleto de dores
Alma cansada, já sem cores
Navegando em maremotos assassinos,
Com o coração órfão dos meus amores!

DILEMA

É com colossal sofreguidão
Que lanço minhas palavras ao chão pantanoso
Elas, como os nacos de carne podre
Alimentam os vermes,
Elas alimentam as minhas angústias
As letras têm um peso morto
Em minha língua, quando as congrego,
Fazem-se palavras defuntas
Vão saindo de mim
E enquanto saem, é como
Se eu ouvisse os necrológicos
Gritarem a morte de minhas neuronas
A cada dia, cada hora, minuto, segundo...
Eu morro um pouco mais
O tempo avança apavorante
Noites... Dias...Ah! Malditas horas!
E esse cheiro de morte e essa solidão
E esse vazio, essa dor, essas lágrimas...
E mais nada, hoje é só o que tenho!
Vivo num cemitério de ilusões, onde
Se quer, no dia de finados, entra uma viva alma
Então, meu caro, nas horas mortas estou...
Realmente acho que enlouquecera
Não sei mais o que é vivo,
Não sei mais o que é morto.
Sei que vivi, sei que morri
E por hora, não sei de mais nada!

DECEPÇÃO PARADOXAL

Cantei a meu amado, magníficas trovas
Fiz-lhe lindos versos
Mas seu coração, tu não renovas!
Deixou meus membros em Amargura imersos.

Procurou em mim, quem não sou.
Eu, em minha em cegueira suprema
Dei-lhe tudo! E com algoz adaga me apunhalou
Quando lhe implorei carinho deste-me uma dor extrema

Hoje não choro mais por ti
Vejo o Gárgula que saiu do beija-flor
Não me procures, pois eu, agora, parti!

Sargento de estercorária falsidade!
Homem de lânguidas forças, sem Amor
Mato-te em mim! Não pertences a minha verdade!

DA CONSCIÊNCIA

Perambulo pelos becos madrugais
Triste, sem rumo, alimento minhas mágoas
Seguem-me passos como o atrito de duas taboas
Com medo corro, usando forças triviais...

Meu perseguidor assombra-me os calcanhares
Quanto mais rápido corro, mais sou seguido
Encurralado...Atacado num golpe dorido!
Ah! Como desejo minha alforria dos Palmares!

Basta escurecer para que seja atacado
Meu carrasco não tem dó! Apenas ferocidade,
Sinto-me preso, com o corpo atado

Não tenho escapatória, ele está por toda a cidade
Ah! Consciência tu tens me molestado
Consciência Vil, de mim, não tem piedade!

CONSCIÊCIA BESTIAL

A um filósofo consciente.

E como um monstro que protege sua cria,
Na fúria e maternidade irracional,
A Consciência envolveu-me nesta noite fria,
Sufocando-me num Amor bestial...

Ah! Pobre de mim! Apenas penso em minhas ações...
O sombrio pensamento das atitudes já tomadas
É o pivô das minhas maiores punições,
A explosão de minhas lembranças congregadas!

Maldita Consciência Humana!
Ou melhor, Maldito Ser Humano!
Ser que pensa, criador da Lei profana.

Em vão, almejo a minha morte,
Supremo desejo deste longínquo Nirvana.
Sou um ser já esquecido, não tenho esta agradável Sorte!

CÉRBERUS

Ah! Maldita arte,
Retrata em ti as desgraças
Da humanidade
Em negro, rubro, púrpura e escarlate
Pintas a natureza de teu povo infame
Hastas, gládios, escudos, e catapultas...
Acarretam as maiores cóleras humanas
Crânios, fêmur, rádios, tíbias...
Cabeças, pernas, braços, troncos...
A arte expressa isso,
Nada mais do que a desventura humana
Hum...Não sei se tenho o direito
De criticar, pois o que são os versos
Senão a própria desgraça em suas linhas?
Letras, palavras, frases
Versos, estrofes macabras...
O poeta é o assassino dos sentimentos
Enquanto a natureza mata o homem
O poeta mata a sua alma...
E a arte personifica isso sobre a tela.
Esse trio maldito, é um Cérberus,
Três cabeças, juntas numa criatura infernal
Logo a sua frente está à humanidade, em forma de criança...
E quem é o Hércules?
Quem é o ser que pode matar esse Cérberus?
Esse ser, que ainda não existe,
E espero que nunca exista,
Está na imaginação dos ignorantes!

CÂNTICO CARDÍACO

Coração exausto!
Coração que sentiu as farpas,
Grunhidos de agonia,
Em sustenidos agonizantes ele,
O músculo redentor,
Exala suas lamúrias
Pela noite fria...
Tum-tum, Tum-tum... Bate forte!
Tum... Tum...
Tum...
T...
...

AMOR VIL

Rasgo as vísceras dos amantes!
Criaturas cegas, hostis gladiadores
Dizem asneiras, seguidas de atitudes repugnantes
Amar é o epicentro dos meus temores

Como podem pessoas assim existir?
Cortejam, afloram sentimentos sujos, asquerosos
Melhor na solidão da mente ruir
Do que debulhar-se em fluidos “prazerosos”

No baile de máscaras da vida, o Amor é anfitrião!
Mercenário das virtudes, ladinos das alegrias,
Com vil astúcia, ataca-lhe a jugular e te faz cair ao chão

Fui sua vítima! Não caio mais em suas armadilhas!
Podes vir que estou armado e com pele de dragão!
Não tenho mais na boca as palavras maltrapilhas!

ALEGRIA MORTA

Nas venturas e desventuras de minha vida,
Não tive muitas felicidades
Percorri por longas cidades,
E minha mente só se fez destruída.

As areias levaram para longe de mim
As rosas, o perfume e o contentamento
Com meu coração frio eu lhe mostro o meu desalento.
Daqui por diante só cairei e sei que não terei um lindo fim.

Tenho fome de atenção,
Onde está você? Para onde fores?
Desejo-lhe com todo fervor e desanimação.

Sem forças nos braços e a face sem cores,
Trago-lhe o sepulcro dos meus amores
E a defunta alegria de meu coração!

À SOMBRA DA ESFINGE

aos desertos...

Interrogo as vísceras dos mortos,
No cemitério, em abismos constantes
E lapsos de memória, comendo
Cada vulto, posiciono minh’alma cansada.

Das respostas trigonométricas e biológicas
Destes rubros hieróglifos
Me faço hoje um pouco esfinge, que
Cuja inscrição faraônica é:
“Devoro-te para decifrar-me!”

A MORTE

Ardilosamente ela me espreita
A morte, essa assanhada dama
Quer me ver estirado na dura cama
Enquanto o coveiro o buraco ajeita

Pressiona-me por todos os lados
Infectando-me a mente e o coração
Com meu corpo em decomposição
Afoga-me com todos os meus pecados

Ah! És a suprema assassina!
No mundo, seu jardim de carne,
Mata o pai, a mãe e a menina!

Mas não apunhalou o peto meu
Sabes que não pode me matar
Pois ninguém mata a alma que já morreu!

A CULPA

Pulsa-me na traquéia o ar profano
Meus pulmões ruflam em ansiedade
E foi assim por toda minha mocidade
Carregando a Culpa em meu tergo mundano.

Açoitado inumeralíssimas vezes
Mergulhei em tormentas de insanidade
Chorei bilhões de tempestades
Fui meu carrasco por incontáveis meses

Marchei em pró da Sepultura
Cantei o Hino dos Moribundos
E com sofreguidão brandi a hasta da Desventura

Percorri por vários mundos
Em busca da Ventura
Porém, apenas me perdi em meus sonhos profundos.

QUATRO ESTAÇÕES

Primavera!
Ah! Hedionda estação!
Odor fétido da Botânica viva.
A Alegria do coito irracional.
Oh! O asco domina-me por inteiro
Afasta-se de mim Menina Florida
Leve daqui seu perfume derradeiro!

É Verão...
O anêmico astro irradia seu calor
Queima-me a derme, ofusca-me a visão
Mas nem mesmo Tu aqueces minha singular alma
E muito menos liquefaz meu ártico-coração
Não tens influência sobre mim, astro nefasto!
Eu te repudio, Oh! Penumbroso Verão!

Hum... Outono
Morte do que é vivo!
A Natureza crava em si a gélida Eutanásia
As criaturas dormem, as árvores morrem e a noite cala
Todos agonizam na invérnica expectativa
Odeio-te Outono! Tu só me paralisas!
És nada pra mim, porém sofro em ti sem alternativa!

Incestuoso Inverno
Vós molestastes seus irmãos!
Seus ventos entoam cânticos desgraçosos
Dentre as árvores ocas!
Mataste friamente tua Mãe, a Natureza.
Sem dó, come nas hebdómadas a tua própria geração
Proporciona a Angústia e alimenta-se na Incerteza!

O ciclo termina e se refaz...
Enquanto a Dor o segue logo atrás...

É! Caro poeta,
Agora vês!? Você não pertence à Era alguma
Tudo te desagrega, tudo te desfaz
Não és deste mundo e nem deste tempo.
O que fazes aqui? Afinal por que fizestes estes versos?
- Aqui? Eu sofro! E os fiz porque sou um mártir-poeta!
- Tenho lágrimas nas veias e olhos em sangue imersos!

Logo, friamente concluo:

Filho da Angústia e do Desamor,
Eu tropeço em meu paralítico ser,
Tenho em mim a essência da Dor
Sou vazio, profundo, um nada prestes a morrer!

PESADELO

Anoiteceu...
O crepúsculo afogando a noite
Como a culpa afoga minha existência.
O tempo já não passa, a hora já é morta...
Olhando cada parte de vida a minha volta
Me revolto em saber, que partilho desta alcatéia
De lobos magros e bexigosos...
E penso eu, em abismos, que talvez o estado humano,
Seja o primeiro estágio de uma precária evolução...
E um negro vulcão
Que em minhas criptas metais
Entra em atividade explosiva...
Ah! A macabra dor da consciência,
Novamente aos meus calcanhares!
Como eu, acorrentado nessas prisões carnais,
De paredes rubras, fedorentas, malditas...
Como eu, posso sentir-me livre? Tudo é tão surreal!
Se sequer posso arranhar os céus,
Ou queimar meus pés nas chamas infernais...
Não! Isso não é vida, não é nada!
Eu nem sequer ainda existo!


Adormeci...
Nas asas tumbais da dor voei,
E em ânsias, naveguei em lágrimas,
Percorri vasos sanguíneos,
Mergulhei em minhas neuronas petulantes,
E mesmo assim, não encontrei um lar,
Ah! Nem mesmo eu consigo suportar
A minha existência,
Eu sou como um buraco negro que adormeceu, que cansou,
Que não vive...
Quero acordar, quero fugir, mas os ecos,
As vibrações, que saem de toda parte, me paralisam.
O mundo é como uma bruxa, que te prende, te faz engordar
Para engolir-te por inteiro!
Ah, este sim é o derradeiro
Destino de quem procura viver, acordar
De um pesadelo medonho que é a vida humana!

ROTINA

Penso... Falo... Rezo... Vago...
Choro... Durmo... Morro...
Assim andam meus dias
Nas vinte e quatro catatônicas horas
Nada me alegra, nada me acalma
Minha dormente derme
Impede-me de sentir teu corpo
Ah! Meu Deus estarei eu morto?
Serei eu uma alma penada, perdida?
Ninguém me vê, ignorado por todos
Eu ando nas ruas amargas
Sou um pano jogado as traças
Vivo no albergue da vida,
Tomando a lágrima sentida,
De meu corpo volupioso verme!
É! Está é minha sina,
E continuo sempre na mesma rotina...
Penso... Falo... Rezo... Vago...
Choro... Durmo... Morro...

INTERIOR

à Mário Quintana

Dentro de um homem
Há outro homem
E debaixo deste
Há outro, e do outro
Outro também...
O primeiro que está
No fim deste corredor interminável
É Deus! Quando Ele fala,
O segundo passa a mensagem
Ao terceiro, que por sua vez
Passa ao quarto, e assim
Até chegar a esta casca
Humana de carne...
O peso é que a mensagem
Nunca vem como foi mandada,
Somos o desfecho de uma
Fofoca divina... Ai!

NATAL

(a um falso)

Meu Natal tem presente!
Lágrimas e Mágoas,
Embrulhadas em papéis coloridos
E com fitas de cetim brilhante...

LAR

Certa vez me perguntaram:
“- Onde tu moras?"
Com um sorriso irônico e masoquista
Respondi:
"- Para saber, tens que saber o que sou!"
"- Então me diga, o que és?"
"Ora, sou um poeta!"
Como quem perguntava o que isso tem haver,
Olhou-me interrogativamente...
Mais uma vez sorri, e disse-lhe:
"- Meu caro, sou um poeta...
Não tenho lar!
O que pode se saber é que
Onde eu moro, o Inferno e o Céu
Estão no meio do caminho..."

O FAROL

O farol, em sua árdua missão
Tenta inultimente, iluminar
As brumas do mar de escuridão,
Com apenas uma faísca a irradiar.

Para quem o vê, no negro horizonte,
Ele o abre uma falsa esperança
De que na bruma é um sol desponte
Iludi os que o vê, como se fossem criança

Ah! Maldito sol da meia-noite!
Foi o pivô do meu naufrágio
Levaste-me em emboscada, ao meu açoite!

Segui sua falsa luz! Ah! Pobre de mim...
E hoje minha alma não descansa,
Meu tormento, minha dor são sem fim!

JARDINAGEM

Alucinado em tragos de conhaque
Embalsamado nas mais medonhas sensações
Hoje não me sinto só,
Estou acompanhado por duas
Forças nauseantes:
Mágoa e Lágrima...
São elas que estão aqui!
Ambas esfregando seu sexo
Uma na outra num ritmo acelerado
Misturando-se com oxigênio
Impuro que respiro
Sinto essas lésbicas
Narina adentro
Com tal fúria e tamanha
Suavidade feminina...
Jardineiras espectrais!
Fazem de mim sua matéria-prima
A Mágoa me cava o peito,
Enquanto a Lágrima rega-me a visão!

DOZE HORAS

Dádiva macabra é o meu viver,
Ondas vermelhas, que com seu vai-e-vem
Zunem ouvido a dentro sem esmero
E com força tamanha quebram a casca do tempo...

Hastas sombrias que marcam Doze Horas,
Ondas mais frias que me levam embora.
Roedor assassino, relógio esse a minha frente
Alucinando-me no seu hipnotismo
Sofro, relógio! Em olhar-te a esmo...

RESPOSTA

Ouviram o quebrar das ondas insanas.
Ondas selvagens e negras e virgens e no cio.
A água do mar salgado-denso
Criava uma espuma craquelada que,
Em suas fissuras, mostrava-lhes
Os meus olhos verdes profundos de mar.

Foi o que viram todos àqueles que,
Por acaso do destino, entraram em meu coração.
Desculpem-me todos! Mas preciso ser assim,
Preciso do vento forte, da tempestade.
Preciso,No momento devido, urrar aos quatro cantos
E sentir no peito o mar de águas raivosas.

Pense no mar.
Vento forte, águas em fúria, ondas mitológicas!
Ressaca forte que bate sem parar nas pedras
Que o observa... Essas águas, esse mar é o meu Amor!

Se não podes compreendê-lo, por favor,
Não fique apenas o observando. Tenho certeza
Que não vais querer ser mais uma pedra
Para este mar açoitar até o fim.

Mas se não temes morrer de amor,
Se não se importa em ser afogado
Por minhas águas densas...
Aventure-se nesse mar!
Mas fique sabendo que,
Assim como eu, não poderá mais voltar!

Só mais uma chamada...

Trim-trim..
Trim-trim..
Trim-trim..
- Alô?!
- Alô?! Alô?!
...
Saco!
Há alguém querendo me deixar louco! Todas as noites, neste mesmo horário, alguém me liga, me acordando no melhor do sono, isso quando tenho sono.
Creio que faz quarenta e cinco dias que não consigo ter uma noite sequer de sono contínuo. Todas as noites, eu disse todas, este alguém ou alguma coisa me liga. Digo coisa, pois só sendo uma coisa mesmo para fazer isso comigo. Nunca fiz mal algum pra um Zé Ninguém. Tá vai, admito! Eu neguei aquelas moedas que não me fariam falta para o mendigo da esquina. Porém não sou tão errado assim, fiz o que qualquer um faz nos dias de hoje. Fumei maconha na faculdade, mas até o terceiro semestre, juro! Transei sem camisinha uma vez (na verdade foram três, mas fiz o exame está tudo certo comigo!), eu penso em fazer coisas más com algumas pessoas, só penso! Tenho inveja, tenho mesmo! Queria muito ter uma mulher igual a do meu vizinho, ela sim é que é mulher de verdade! Não é igual a minha ex, aquela mulher sem coração que me abandonou para ficar com sua melhor amiga, pois é eu disse AMIGA. Saiu de casa dizendo injúrias, disse que não sou homem para mulher alguma, que não sei como dar prazer e nunca saberei, pois falta um quê de homem em mim, vê se pode? Enfim, vamos esquecê-la... Está bem, não consigo!
Trim-trim..
Trim-trim..
- Alô?! Alô?!
...
Inferno!
Já são três e quinze da manhã! Espera um pouco, e se for ela que está me ligando? É! Pode ser... Não responde o meu alô porque está arrependida! Só pode ser!
Trim-trim..
Trim-trim..
- Helena? É você? É! Eu sei que é você, pode falar, eu também te amo!
...
Vaca! Aposto que agora mesmo ela está se esfregando com aquela caminhoneira de beira de estrada! Duas vacas sem pudor! Quem dera eu não ter pudor...
Basta! Vou tomar um copo de água, mas nem estou com sede. Vou dormir, isso sim!
...
Trim-trim..
Trim-trim..
- Mas que caralho! Ah...
Já sei, vou até o parapeito tomar um pouco de ar...
Nossa, que vista linda que tenho aqui do décimo terceiro andar. Posso ver boa parte da cidade, inclusive o mendigo cujo neguei aquelas moedas do troco do pão, neguei mesmo! Até ele parece mais feliz do que eu, olha que sono profundo que ele tem, mesmo sendo debaixo do toldo azul-sujo do Sr. Lourival. Parece até que ele sonha, maldito! Além de dormir, ainda consegue sonhar... Viu só? Pra que ele precisaria de míseras moedas, ele até sonha!
“E então, pegou as moedas do troco do pão e num momento incontrolável de ira lançou-as em direção ao mendigo que, como um bebê, dormia profundamente.”
- Toma suas moedas seu velho! Ah, acorda e pega as moedas! Você não as queria? Pega agora! Acorda! Vamos! Ah!
...
O que é que eu estou fazendo?! Nem sei se quero compreender...
Olha só, não há uma janela com a luz acesa, somente a minha, e por que será?
Esta maldita culpa que não para de me telefonar... Culpa? Eu disse mesmo a palavra Culpa? Bom eu...
Trim-trim..
Trim-trim..
Ah não! Logo agora! Não!
Trim-trim..
Trim-trim..
Meu Deus que ódio! Para! Chega! Basta!
- Alô?!
- Alô?! Alôôôôôôôôôôôôô...
...

O Gato Preto

GRRRMM...

Grunhe, arranha, mia. A única coisa que não faz é dormir. Esse gato preto maldito preso à minha garganta que tanto me faz sofrer. Como uma bola de pelos negros e vívidos ele obstrui toda e qualquer alegria que possa haver dentro de mim. Unhas afiadas prontas para serem amoladas em minha laringe; se diverte com a glote e defeca todas as tristezas garganta adentro.

Fatídico e ígneo felino de veludo malfeito que desde treze de janeiro agregou-se a mim para assassinar-me por inteiro! E desta data a frente madrugou-se tudo o que era bom, sumiu o trigo do pão e a água potável não mais tem sua a transparência cristalina...

Eu sou um imbecil, um monte de sucata medieval, um bocado de metal oxidado, meio metro de mortalha desenterrada; sou uma besta renascentista – frustrada que pinta quadros no reflexo do espelho, com figuras que realmente gostaria que fossem verdade. Como diz um companheiro niidadaista: as sucessões dos nadas em nossa vida é o que realmente nos perturba (ou, quem sabe, nos conforta). E é isso que tenho hoje. Milhares de nadas, ações não feitas, de planos não realizados e de sortes que nunca saíram dos papéis bíblicos de uma crença pseudo-religiosa que tivera.

GRRRMM...

Puxo e repuxo, torço e retorço a língua. Forço a garganta e soa ao fundo de minha cavidade bucal um miado de agonia. O gato também deve sofrer. Deve estar temeroso em meio às desventuras cravadas no meu peito. Coitadinho deste animal macabro, apenas conhecia as trevas e quando se deparou com meu interior desejou os infernos; descobriu da pior maneira que o melhor é não ser engolido pelo buraco negro de que sou feito. Sua má sorte foi ficar entalado na garganta ínfera desta criatura que cá escreve sem muita vontade. Entretanto, sabe-se bem que, ao entrar em mim, não há como voltar. Meus amores nunca voltaram, eu não voltei. Nada de que fui obrigado a engolir retornou. Apenas me causaram boas dores sulfúricas e indigestas, mas apenas isso.

GRRRMM...

Deixa estar felino, que sou lupino! Em poucos meses será absorvido pelo nada. Tu farás parte do vazio que me consome e deixará de existir assim como eu deixei naquele bubônico dia de treze de janeiro.

GRRRMM...

Revolta Poética

Certa vez li Marx. Quanto despeito! Nenhum poeta deve ler nada do capitalismo! O único número que somos resumidos, já dizia Augusto do Anjos, é o de nossa sepultura!

Coisa hedionda é ver a tamanha mania que a humanidade tem de resumir o universo no infinito. Não somos apenas isso. Um amontoado de ossos, carne e pele. Nem mesmo somos apenas espírito, alma e sentimento. Um ser vivo é muito mais que isso! Ser vivo é ser Deus! Quem dera pudéssemos um dia olhar a humanidade de longe. Á! Quem dera! Aí veríamos que a verdadeira arte é feita em “pontilhismo”. Então seria perceptível, aos olhos nus, notar que cada pessoa é um pontinho de luz, feita de inúmeras cores, e que, ao o sermos olhados de longe, bem de longe mesmo, formamos um desenho, uma pintura. Na qual é retratada a figura de um ser que vulgarmente é chamado de Deus.

Cada vida existente é um universo diferente. Cada palavra sentida escrita por um universo é uma estrela nascente que aparece atrás de um sol poente. Não é difícil entender se nos desprendermos das correntes humanas que o mundo nos impõe.

- Vou abrir um parêntese aqui: (aposto minha mão direita que um comparsa meu está rindo agora, não é Luiz?) – Já disse um físico que nada desaparece apenas se transforma. E é isso mesmo! A morte não existe, o tempo não existe! Nada além de nós existe! A vida é uma mulher dona de um bordel francês, mestra no jogo de cartas! Que brinca, aos gargalhos, com todos nós... Até que um dia aprendemos toda sua metafísica... E então, deitamos numa rede feita de nuvens, com os sonhos atrás da cabeça e os pés sobrepostos num caixote velho que teimamos chamar de destino. Com os olhos abertos fitando o céu colorido com onze cores diferentes em tonalidades iguais, uniformemente misturadas.

E ainda ficamos presos às páginas amarelas desses jornais diários. Que contam mentiras das pessoas que enganam a si mesmas... Que pena!