sábado, 18 de dezembro de 2010

Febre

Ano de dois mil e dez depois de Cristo. Ano da morte de muitos de mim. Eu poderia dizer que foi (ainda está sendo) o pior ano de minha inteira. A cada ano, cada segundo o mundo gira em torno do otimismo hipócrita da sociedade. É muito fácil dizer que tudo vai dar certo se você é uma pessoa que não conhece o a frustração. Talvez eu apenas cumprido aqui mais uma invejão de pessimismo, porém não posso deixar de dizer que mesmo que seja mesmo isso, convenhamos, o mundo está rodando em certas injustiças que não podemos controlar.

Mas tudo bem, não falemos mais disso não? Ou sim.

Um ano se feacha neste momento. E claro, uma coisa ou outra mudou sim. Mas trocando tudo por miúdos. Nada mudou, chegou até a piorar um cadinho. Sou um Homem melhor, fato (e sim, com ''agá'' maiúsculo). No entanto, Homem mais sofrido também. Não apenas no sentido de que sofreu e logo, aprendeu. Não. No sentido de que sofreu e apenas isso. Sem suporte, sem nada. Sozinho no meio de muitos.

Hoje, a única coisa que realmente me deixa bem é o trabalho. Nem mesmo a graduação que sempre foi o meu xodó me faz tão bem quanto um dia já fez. A família? Bom, como dizer? Eles fazem o que podem (eu imagino). Mas ainda não foi o suficiente, nunca foi. Muitos devem se perguntar se Eu, para tanto reclamar, os trato como família. E eu vos-lhe respondo, caríssimo (a), faço também o que posso. Carregar pesos familiares pela vida, é como uma bola enorme pesando nos seus calcanhares. Assuntos como este são grilhões terríveis.

Dói. A febre queima e a pela arde, como nunca fez.

sábado, 20 de novembro de 2010

Desfolhagem

E a realidade plausível das coisas
Cai pesada na consciência paquiderme.
Sente frio,
Sente fome,
E chove?
Mas dentro ou fora?
Terrível; nem sabe quem é.

Disse: "A vida é curta demais pra passar raiva"
E porque isso disse,
O mundo queboru-se por inteiro
E nada mais lhe pesava tanto.

Agora sim, chove.

Gêiser Numa Noite Quente

Eu não preciso de conselhos,
Não quero seus olhares de caridade!
Tirem daqui as paixões, os amores torpes.
Vazem-me a alma raquítica, subnutrida;
Prefiro a Loucura, a Ebulição,
Pois sou uma explosão apocalíptica,
Um chaga no braço do herói.
Sou seu escudo lascado que
Um ferreiro abandonou num canto da rua.
Escuro, denso e sozinho...

Passagem

O vento é o tempo.
O tempo é o vento que passa.
A vida é o vento que no tempo vem e vai em meio de tanta lembrança.
Vai vento, vai!
E me deixa passar...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Suspiro

Li Clarice ontem à noite. Hoje acordei Macabéa. Exatamente isso, M-a-c-a-b-é-a!
Uma vontade estúpida de vomitar o sopro de vida para viver longe. Uma criatura gigante que, já acordade, grita em berros de fúria. Viver! Viver! Viver! Eu quero viver. Não apenas existir.

Aonde estão todos?
Efêmero, tudo é efêmero. Das dores aos amores. Meus amores já se foram, agora só restam as dores e, ficarei definitivamente só.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Amanhecer de Rita

Era manhã. Rita não tinha a menor ideia de que estava sendo observada. Enquanto andava um par de olhos assíduos, duros e permanentes a fitavam sem parar. Rita andava pela cozinha, pela sala e até mesmo no banheiro, lugar ápice da intimidade de uma mulher; ela ainda era olhada. Passadas já algumas horas uma sensação estranha dominava Rita. Era como se o silêncio da casa vazia fosse maculado por um eco de agonia que reboava de dentro de suas entranhas vermelhas. Estava grávida. Era um ser, uma vida que batia em suas paredes rubras de mulher. Um desespero aterrador a envolveu, a tarde tonara-se fria como o mármore; era como se o céu cantasse em tristíssimos sopranos a sua gravidez. Sentou-se sozinha no chão da cozinha. Enquanto contava as manchas de seu avental chorava bruscamente a vida que se desenvolvia dentro de si. Após secarem todas suas lágrimas a vontade de chorar continuava forte em seu âmago. Tentava chorar, mas seus olhos sentia enxutos. Porque foi amaldiçoada por uma gravidez? Perguntava-se inúmeras vezes. Uma vidazinha que começara dentro de si, porque era tão terrível assim o que para tantas seria uma benção?

O som dos sapatos de Arnaldo batia forte no taco velho da sala desarrumada. Este som cansado, de quem havia trabalhado o dia inteiro. A cada segundo o som parecia mais forte, mais perto. O que ele pensaria quando descobrisse a sua paternidade? Um fruto inesperado do matrimônio, que desgraça! Exatamente isso que ele iria pensar. Decidiu então não contar nada. Absolutamente nada. Correu desesperada para o banheiro. Castelo de toda mulher. Refúgio de qualquer desesperado. Um escape da vida real para qualquer um que vive em família. Maquiou-se lindamente como se fosse casar pela segunda vez. Beijou os lábios carnudos e cansados de Arnaldo. Sorriu uma alegria enganosa que nem mesmo as janelas acreditaram. Mas como todo marido exemplar não a olhou nos olhos e muito menos perguntou como tinha sido seu dia. Apenas praguejou cada hora daquela segunda-feira cinza como estanho.
Sentados no sofá como todo casal perfeito. Um ao lado do outro e o elo do casamento à frente deles, o televisor. Digo a Rita que perdi o emprego agora ou na cama após o sexo? Perguntava-se a cada comercial da novela. Claro não havia espaço para pensar durante a novela que nos ensina como devemos ser. Estou grávida. Estou malditamente grávida! Era o pensamento de Rita...
Estavam deitados na cama. Era uma madrugada fria. Fria? Não. Era uma madrugada sozinha. A noite caminha sozinha e abominante nas ruas da metrópole. Rita fingia que dormia como um bebê. O que a fazia se sentir pior ainda. Arnaldo revirava-se fungando fundo o que impedia até mesmo o vento de uivar nas curvas da casa velha e rude. Aquela noite durou umas quinze décadas. Era quase aurora. E que aurora! Alaranjada, vermelha, sangrenta como a morte. Rita levantou-se por impulso. Olhou Arnaldo que não se mexia mais na cama. Estava morto. Cansado e morto. Rita expeliu um grito tão forte que o dia não amanheceu, e sim, abortou o sol que a noite esperava. Foi à cozinha, colocou uma chaleira no fogo, sentou-se à mesa e chorou por uma vida inteira. O som da chaleira era um clamor de agonia das dores todas do mundo. Rita segurou uma faca e foi até o único lugar que era seu, que podia ser ela mesma: o banheiro. Tomou um banho, maquiou-se. Sorriu para o espelho mas ele não refletiu esse sorriso. E para si mesma disse algo que não entendera. Era sua alma falando.

"Não existe sinceridade no amor. Tudo que temos é uma troca. Espero de um amor tudo que meu amor lhe dá. Isso não é sinceridade. Eu não amava Arnaldo. Não amo essa criança. Mas me amo. Espero de mim tudo que não tenho aqui. Sou mulher, lúcida e presa. Presa numa vida, num casulo amaldiçoado. Não posso trazer um fruto de um casulo infeliz..."

Disse e porque isso disse fechou os olhos e viu-se em frente ao mar. Ondas enormes batendo nas pedras. Sorriu. Sentia-se livre, alada. Seus membros eram de aço, rígidos e amolados. E ao fim da noite, estripou-se com o próprio braço. Amanheceu. Agora, era uma mulher feliz.

sábado, 17 de julho de 2010

Ensaio para Vida Real

Costumamos sempre crer que a família é o centro de tudo. Depois são nossos amigos, passa-se o tempo o (a) namoradinho (inha), o amorzinho torna-se o centro de toda vida... Todo esse amor é odioso! Viver nesse mundinho de ilusões amorosas, de idealizações de algo que fantasiamos é como matar a sede com a água do seu vaso sanitário.

E eu a cada instante mais lúcido, mais acordado, percebi que tudo que passei até agora foi como um ensaio pra vida real. Como um manual de instruções que foi me dado antes da viver.

Tudo antes me parecia sem sentido algum. Recentemente, qualquer coisa que eu olho me dá adeus. Tudo e todos, parecem-me, no fundo, dizer adeus. Foi terrível perceber; pensei no começo que as pessoas tinham mudado comigo, todas elas, mas, não! Eu mudei, aliás: estou mudando. Ando e observo. O mundo passa diante dos meus olhos acenando com as mãos, como se despedisse de mim...

Estou derrotado, com a honra masculina maculada e amargo. Lúcido e amargo. Sólido e totalmente amarelo. Sinto-me, muitas vezes, como um altar sacrilegiado pelo infiel que rasga a batina no desespero do último momento.

Não tenho medo da morte. O que mais temo é o tempo que vai passar até eu chegar até ela. Como serão esses anos? Longos como estão são esses que passo hoje? Curtos para que eu não consiga construir nada?Afinal de que me adianta tanto sofrimento? A justiça é cega, bem sabemos. Mas onde está sua audição enquanto clamo nas madrugadas?

Três e trinta e sete da manhã, já é domingo e mais um dia se passa...

Casulo duma Metamorfose

Metamosfose. Exatamente isso! Estou passando por uma entorpecente metamosfose. Estou preso a um casulo tecido por vontades, gente, muita gente e experiências. A cada segundo, e por todos os lugares que passo, todas as pessoas que conheço tecem um pouco mais este casulo que aos poucos me transforma. Estou sólido, rígido como as armas forjadas no Olimpo. E mais além de tudo isso, no cerne, no âmago, estou petrificado. Presenciei tantas agruras! Tudo que vi e revi (tudo soa tão previsível!) me petrificou, vi o horror da face da Medusa no mundo e agora estou sólido, branco, crepuscular e estático. No entanto estou , de certa forma, paciente. Esperarei essa metamorfose se completar. E quando o casulo se romper, meu caros, sinto-lhes dizer que partirei. Nasci para partir, vivo por ir embora. Respiro o vento que, um dia, há de me levar para bem longe. E que o sabor agri-doce da saudade pare na perpétua grade dum verso de Virgílio: “Libertas quae sera tamen”.

quinta-feira, 8 de julho de 2010


PARA SUAS PRIMAVERAS


ao aniversário de meu pai

A oito de Julho e era manhã. E a força, tirado a aço
O dia sorriu o natalício máximo de meu progenitor,
Aquele que me acolhe na treva, no gemido de dor
Agarrando-me, em ânsias, a alma com o próprio braço!

Voltou da morte, o ressurgido do abismo profundo!
Óh anjo-cigano que poder esconde nos olhos castanhos?
O amor que emana de suas mãos, como cem rebanhos
Nocauteia-me e faz-me girar cinco vezes ao redor do mundo!

E quantas vezes eu, pessimista como sou, não lhe desafiei
Diante as peripécias e maleficências da vida e da morte?
E sempre, como todo pai ioiô faz, e o por quê ainda não sei,

A ti, um sorriso, abrirei na explosão de um rubor forte.
Pois não tenho nada senão estas palavras que lhe confiei.
Amo-te deveras, e para amar, meu rei, não preciso de Sorte!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Desejo Lamentado

O LAMENTO DAS COISAS

Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos
O choro da Energia abandonada!

E a dor da Força desaproveitada
- O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
Jazem ainda na estática do Nada!

É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza.
Da luz que não chegou a ser lampejo...

E é em suma, o subconsciente aí formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!

Augusto dos Anjos

"No fim tudo dá certo." - Ãn? Quem quer que tudo dê certo apenas no fim? Não é justo este pensamento! A gente tem que esperar o fim das coisas pra que algo realmente bom aconteça? Desculpem-me mas, não quero que seja assim! Pensamento medíocre, pequeno. Tudo tem que dar certo ou errado ao longo do percurso. Durante a caminhada. Caso contrário não faz sentido ir em frente. Atravessar um deserto inteiro por um copo d'água não me parece muito esperto. Não sou contra as lutas de vida e morte, sou inteiramente contra a esses pensamentos pequenos e rudimentares de que ''tudo vai dar certo no fim'' - como assim? Fim? Fim de quê? Da vida? - E esse positivismo cego... Socorro! Mas que mania de pensamento positivo é esse? Sinceramente isso é pura auto-piedade! Não é só porque você pensa (ou diz que pensa) que tudo vai se resolver é que vão mesmo. O mundo gira a gente vivo ou não, o vento venta sejamos bons ou ruins. O mesmo acontece com todo o resto. É sorte! Essa carnívora assanhada que come os corações dos seus servos! Creio que a essência do pensamento de hoje está no "Lamento das Coisas" de Augusto dos Anjos... No mais, é possível que eu tenha exagerado (quem sabe?) mas no entanto eu preciso mesmo exagerar! Afinal eu preciso suprir a falta que tenho, ninguém melhor do que eu mesmo...

''os olhos fechados são portas abertas para meu mundo, e nele entra os que não têm medo do insano..."

terça-feira, 6 de julho de 2010

Rascunho

E tudo no mundo, enquanto ando e observo, é extra-terrestre. Na mais terrível desesperação que se pode ter. Nada parece familiar. Tudo, sim eu digo tudo, não faz parte do mundo que vivo. Esta falta de compaixão. Falta de política. De Ética. De tudo. Essa carência que o mundo emana. Um lixo extra-terrestre.

Ainda não entendo como funciona essa coisa de sorte. Sei que uns têm outros não. Eu não tenho! E me desculpem todos os mestres mas, de que me servem todos os romances, histórias, estórias e líricas? Se há buracos na minha cueca. Machado me faz ter epifanias na alma, mas e minhas contas? Quem pagará? E vem a realidade como uma sombra absurda assombrar-me à mente. Estou fazendo a coisa certa? Escolhi mesmo o rumo certo? Apesar de as letras me alimentarem a vida ultimamente elas não fazem (ou podem fazer) nada além disso.

Como me dói dizer isso. Como me sinto violado sacrilegiando todos os que me acolhem todas as noites. Mas meu ódio é tão intenso que, ao pesar do último momento, odeio o amor que sinto por eles! Não posso deixá-los, mesmo sabendo que se não o fizer posso me perder na miserável vida do não viver...

Não vivemos de amor. Mesmo sabendo que ele é muito importante. Mesmo sendo amado por tantos. Tantos que nos querem bem. Mas... Entende? O amor é algo tão subjetivo que nem sempre, ou quase nunca, faz alguma diferença no mundo que vivemos.

A cada dia que passa me vejo mais longe dos que queria perto de mim. Ah meus amigos, por que estamos cada vez mais longe uns dos outros? Sinto-me na obrigação de ir embora. A cada dia vou me mutando para âncora enquanto todos vós são balões de ar quente, não posso acompanhá-los. São viagens, bares, sorrisos, alegrias e enlaces que não posso pagar. Desculpem-me todos. Eu não posso ir...

Tudo à frente é rascunho, esboço de algo que posso não terminar um dia...

sábado, 3 de julho de 2010

A palavra que não diz

“falas de amor pra mim, eu ouço tudo e calo” – Augusto dos Anjos

Mais que dia ensolarado. Repleto de emoções aos que querem tê-las. E eu a cada dia mais lúcido. Sim, lúcido. Insano e lúcido. Vejo os carros que passam. As pessoas que choram e riem. Os cachorros que coçam sua sarna e os gatos que pulam nos telhados na madrugada; escuto os ratos roerem toda a consciência humana debaixo do assoalho. Tenho medo, e meu medo não este medo que a humanidade sova todos os dias. Tenho medo da falta de medo que sinto. Medo da falta de tudo que me assola. Não temos mais o Futuro, não temo os inimigos, não temos a morte e nem mais a miséria.
Nesta semana, como uma guilhotina justiceira minha consciência desceu graciosa e certeira à jugular. Não estou triste. Não estou feliz. Estou lúcido, consciente. Todo e qualquer receio ou preocupação que me dilacerava morreu ontem à noite. Tudo se tornou medo de criança, e de alguma forma eu cresci (ainda não descobri se isso é bom ou ruim).

Vejo os amantes, ouço as juras de amor. Tudo me parece tão falho. Sem alma, sem vida... Que amor é esse que vocês amam? Este amor que fala e não vê, que ri e não chora. Que juras são essas que jurais? Por que fala da eternidade sem mesmo a conhecer? E digo não só porque já ouvi e disse tudo isso, mas sim, porque ouço a cada esquina, nas pessoas que não conheço, nas que costumo ver, nas que amo... Coitados!

Penso, muitas vezes, que sou uma criatura metamorfa retirada de um quadro de Dali. Eu não quero ter emoções, eu não quero ser estéril. Quero apenas viver. Algo além da sorte e do azar, do amor e do ódio que nem Deus e nem o Diabo possam intervir sobre esse ser fantástico que cá escreve no Terra Efêmera.

Escutem. Estão ouvindo? Não? É Réquiem! Não? Nada? E nem estão vendo isso imagino eu... São os guerreiros do Apocalipse jogando cartas, truco talvez. Sentem esse gosto? Agri-doce. E o cheiro de ferro? Nada não? Enfim, coitados... Coitados...

Temos mania de dizer que os mortos não falam, porém os vivos também não dizem nada. Como já disse Graciliano, a palavra foi feita pra dizer e não para enfeitar. Prefiro o silêncio do sepulcro aos adornos da boca imatura.

domingo, 27 de junho de 2010

Dos Amigos / Dos inimigos

Há certos dias que pensamos na vida. Há dias que pensamos na morte (geralmente da bezerra). Dias que não pensamos em nada e há dias que pensamos em valores. Valores! O que nos faz ter valor? Quem é que estipula os valores que temos? - sim, lá vai o Gabriel com toda sua indagação de vida e morte. Mas vamos pelo começo. Temos amigos e inimigos declarados certo? E muitos dizem por ai "diga-me com quem tu andas que eu direi quem tu és", desculpem-me todos, mas, isso não é verdade! Pura estupidez de pessoas que não conseguem olhar além do óbvio. E se fomos um pouco mais além do que os olhos enxergam? Por sinal, não seria o inimigo mais verdadeiro do que o amigo? Pensemos. Nossos inimigos se opõem a nós por semos o que somos realmente, pois nos conhecem e por isso mesmo é que nos odeiam; contudo nos respeitam. Sabem do que somos capazes. E nossos amigos? Gostam de nós pelo que não somos - eu explico: convenhamos, quando estamos ao lado de quem a gente gosta passamos uma maquiagenzinha em nosso Eu, deixamos de falar certas coisas, de fazer, de rir enfim, não nos mostramos por inteiro, ou seja, gostam de nós, mas pelo que não somos e sim, pelo que mostramos ser.
Um inimigo nos dá o valor que merecemos, o respeito que precisamos e a vontade de vencê-lo que temos oculta.
Ao pensar em tudo isso, posso concluir que melhor seria esta frase: "diga-me quantos inimigos tem que eu lhe direi o teu valor".
Quero ressaltar que não estou com raiva de amigo algum, ou sabe-se Deus o que a mente do leitor pode levá-lo a pensar e sim, estou pensando nesta dicotomia de amigos e inimigos. Não posso deixar de agradecer todos os meus inimigos, pois se não fossem eles eu não estaria como estou hoje. Lúcido, transparente e acordado.
É claro que, é mister que eu diga a importância dos amigos. São eles que transformam um demônio em anjo. São os olhos amistosos que podem ver em qualquer pessoa algo bom, que muitas vezes pode sequer existir, todavia eles vêem e após isso pode até passar a existir; é só crer (como dizia Clarice em A Hora da Estrela).
Os inimigos são os que nos dão valor e os amigos são os que têm o poder de nos transformar.
É isso, ou quase isso, ou quem sabe?, nada disso. O importante é crer não é?
'' e ele sorriu amargamente a sua consciência..."

domingo, 20 de junho de 2010

Sonhos e Pesadelos ( E o viver?)

Súbito, tive uma queda épica às criptas de minha mente... Mas que sonhos audaciosos tenho eu! Mais além de todo o pessimismo que me cerca há um homem que, preso, sonha desesperadamente. E esse sonho é como um trem antigo - daqueles a carvão, velho, enferrujado e barulhento - que corre, sobe e desce montanhas e muitas vezes entra dentros delas em túneis escuros e misteriosos.
Sonho e, por sonhar, creio que talvez tudo que sonho não passe um dia a ser nada mais que um sonho...
Eu gosto dos pesadelos! Daqueles bem terríveis; de nos fazer acordar no meio da noite suados e estremecidos. Gosto, não por nada, mas, a sensação de acordar e ver que tudo aquilo não passou de um devaneio noturno me alimenta. É boa a sensação de ver que algo ruim acabou... Quando a gente sonha algo bom e logo acordamos, vimos que era só um sonho e nada mais...
E a nossa vida não é assim, é real. Sonhos e pesadelos dançam na inércia do ar como fadas a abençoar e amaldiçoar os seres mortais.
Todo e qualquer medo pode se tornar válido, se não o medo de viver. Depois de cair muito, a gente não tem mais medo do chão - apesar de duro e frio. O segredo de não cair é sempre andar. Como uma criança que quando aprende a andar nos seus primeiros passos. Ela só cai quando para de andar, descobrindo assim, que o segredo do equilíbrio está no próximo passo. Emendando um a um e assim segue em frente. É possível que, algum segredo esteja neste fundamento.
E eu vos-lhe pergunto: "E quando queremos andar e não é nos dado caminhos, o que fazemos?"
É. Pois é...
Não é fácil conviver com uma carruagem desgovernada dentro da alma e ela não ter estrada para continuar seu percurso. Pois, um dia ela há de encontrar um muro e quando acontecer, nada mais vai restar, se não os destroços de alguém que um dia tentou ir além do que tem...

Pensemos mais nisso, quem sabe um dia não teremos o direito da escolha. Quem sabe um dia, não possamos de verdade traçar um caminho diferente... Quem sabe, um dia...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Adeus, amigo, adeus...

Seria até um disparate meu, se estendesse algum tipo de escrita sobre este maravilhoso autor. Não me sinto digno em dizer muita coisa sobre ele. Mas Saramago é alguém que me acompanha já faz um tempinho. Tenho poucas leituras sua amigo, mas o que já li foi o suficiente para me fazer rir, chorar, sentir uma ânsia desmedida, enfim, Saramago é desumano! E sempre há de ser!
Tu deixaste uma herança magnânima, e que se depender de mim, jamais será esquecido, meu caro mestre!
Guardei luto por este dia. E lutarei pelo que já escreveu no mundo!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Do Amor no Séc. XXI


Comecei a pensar mais sobre o Amor. Até pouco dias atrás eu imaginava que ele não existia. Era simples criação humana como alguns caricatos de temporada. Mas não, ele pode existir sim! Claro que é coisa rara. Vamos dizer assim: caso ele exista mesmo, o amor deve ser algo parecido com que o Conde Drácula sentia. Algo tão intenso que vai além do divino ou do profano. Simples e puro. Incondicional, ou melhor, Inefável.
É, isso mesmo, se é amor, é Inefável.
Provável que, o amor seja criação dos Deuses Gregos. Com certeza foi. Devem ter criado para si próprios e os mortais, como invejosos que são, roubaram para si; o problema é que um mortal não consegue ser um Deus e jamais sentirá ou verá o mundo como vê um Deus e não conseguiu controlar esse sentimento. Foi onde tudo começou a dar errado na Terra.
Ou quem sabe o amor é criação norte-americana, pode ser! Eles sempre querem dominar tudo, controlar tudo. Algo que deixe todos cegos, bestas e ignorantes seria uma arma e tanto não? Capaz que sejam deles essa invenção!
Então, claro, o leitor assíduo do Terra Efêmera vai pensar: "Realmente o Gabriel é um desalmado sem coração", ou pior, "Ele realmente está ferido por alguém e agora pensa com o orgulho machucado". E eu lhes respondo: Caríssimos, mostrem-me quem nunca foi ferido por alguém ou quem nunca feriu alguém. A questão não é essa. É simples, eu realmente não acredito que nos tempos em que vivemos o amor caiba no nosso dia a dia. Estamos na era da conveniência, do sexo fácil, do prezeres efêmeros e seus afins - que aliás está ai o motivo do nome do blog. Tudo hoje é muito mais passageiro do que já se sonhou um dia. Os relacionamentos duram semanas. Casamentos já são casos raros. Estamos à linha da Liberdade (ou Libertinagem?). É pena que foi esquecido o resto da causa. Onde estão a Fraternidade e a Igualdade? Enfim... A política não é efêmera, logo não cabe aqui.
E sequer disse ainda a vulgarização do amor que há hoje em dia. Temo que daqui alguns anos as pessoas se cumprimentem dizendo que amam umas as outras. Imagine isso! "Bom dia, eu te amo. Tudo bem?". Só de pensar me dá arrepios. Ah, o que me fez lembrar do ''tudo bem?'', ele também já virou cumprimento. Hoje ninguém quer saber se você está bem realmente. É praxe responder ''tudo e você?'', co-resposta "tudo também'' pronto! Você foi educado. E se eu não estiver bem? Não importa! Aliás sua vida não é importante ao outro viu! Me lembra Mário Quintana: "O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada haver com isso."
E depois de viver na Terra no séc XXI num bairro urbano e conhecer as pessoas que conheci, por exemplo, você vem me dizer que o amor existe? Desculpe, mas, hoje ele é tema para a Literatura e nada mais. Pode ser que um dia desses eu, quem sabe?, me apaixone e fique convicto do contrário. Pode ser. Entretanto, bem sabemos onde isso vai dar. É tão claro como a reação química da aspirina efervescente quando toca a água. Efemerismo. É tempo de efemerismo!
É assim: olhares, beijos, sexo, sorrisos, presentes... Então, não servimos mais. Um minuto de desespero, três ou quatro lágrimas e fim.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Relato de um dia cinza

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulto demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou maduro bastante ainda. Ou nunca serei.” (adaptado para o masculino) - Clarice Lispector
Que curioso! Eu nunca gostei de Clarice. Talvez seja porque não a conhecia de verdade ou talvez, quem sabe?, por conhecer que não gostava. Por saber que alguém me lia antes mesmo de me formar humano.
Quer saber? serei maduro apenas onde sei sê-lo. Ou quando quiser sê-lo. No mais, serei a mais peralta e maldita criança que vos escreve este relato.
Quer saber também? Sinto sua falta, na mais temível desesperação de que se pôde ouvir que exista! Queria que estivesse aqui ou eu estar ai. Tão difícil estar vivo com você morto...
Enfim, mudando o assunto. Hoje acodei como se fosse filho de Pessoa com Espanca. Numa doce melancolia. As pessoas acham que podem enganar sempre umas as outras. Tolos! As verdade sempre, eu disse sempre, reverbera do chão. Não importa o quanto você a enterre. Ela é mais leve que o ar, entretanto pesa na consciência. Creio que muita gente neste mundo não sabe ainda como se importar com os outros. Isso explicaria muita coisa!
Não é necessário que me escondam a verdade. Sou forte suficiente para aguentá-la. E mesmo que não fosse, ainda a prefiro.
Existe uma diferença entre ter interesse e fingir estar interessado. Eu sei bem diferenciá-la. Feliz ou infelizmente sei. Aprendi, nem era tão difícil assim...
"Tudo que sacrifiquei para adorá-lo
- Mas hoje, vendo o horror dos meus destroços,
Tenho vontade até de estrangulá-lo
E reduzi-lo muitas vezes a ossos!"
Augusto dos Anjos - Fragmento de "Estrofes Sentidas"
Entende? Mais ou menos isso. E tenho como resposta as pelavras do mesmo poeta:
"Nisto, abre, em ânsias, a tumbal janela
E diz, olhando o céu que além se expande:
"- A maldade do mundo é muito grande,
Mas meu orgulho ainda é maior do que ela!
Quebro montanhas e aos tufões resisto
Numa absoluta impassibilidade",
E como um desafio à eternidade
Atira a luva para o próprio Cristo!"
Augusto dos Anjos - Fragmento de "A Luva"
E por mais incrível que lhes pareçam, estou alegre em saber que os meus calos estão espertos e duros o bastante para continuar a andar.
Encerro este relato com as palavras de meu pai do dia de hoje.
"Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer fato?Estou só, só como ninguém ainda estêve,
Õco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.
Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.
Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma idéia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe."
Fernando Pessoa, ele mesmo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um Paciente Fantástico

" e Deus criou o homem à sua semelhança..."

Moisés, mais conhecido como Dr. Matarazzo, psicólogo renomado, pós-doutorado, sua fama era de grande porte em todo o país e em alguns países da América do Norte já se falavam muito sobre seus êxitos profissionais. Recentemente abriu um escritório na cobertura do arranha - céu mais alto da cidade. Certo dia recebera um e-mail marcando uma consulta; e nele era pedido privacidade absoluta para um dia inteiro. Dinheiro não é problema – foi frisado bem no e-mail, no qual também seguia algumas recomendações para o Dr., quando o paciente entrasse o Dr. não poderia, de maneira alguma, olhar para seu paciente, deveria permanecer de costas para ele o tempo todo, desde a hora que ele entrasse a hora que ele saísse. Dizia que se fosse possível, marcasse a consulta para o próximo domingo e mais nada. E assinou o e-mail “Grato, Senhor.” E o que mais intrigou o Matarazzo foi que não havia remetente do e-mail, entretanto o fato de ganhar por um dia inteiro de consulta o fez esquecer todos estes pormenores. Mas que estranho, deve ser um caso muito interessante! – pensou Dr. Matarazzo.
- Senhorita Madalena, preciso que venha trabalhar no próximo domingo. – exigiu o Dr. a sua secretária.
- Impossível Dr., esqueceu-se que é o dia de meu casamento? – lembrou.
- Eu pago o triplo do que pagaria!
- Desculpe-me Dr., mas é o dia mais importante de minha vida, infelizmente não poderei...
- Tudo bem então, eu venho só. Bom saber que posso contar com meus funcionários! – ironizou o Dr. já desligando o telefone.
Os dias foram passando lentamente. As suas consultas demoravam décadas para terminar tanta era sua ansiedade para saber como seria o seu domingo e maior ainda a sua curiosidade de quem seria o tal Senhor. Será uma celebridade? Um ricaço? Algum empresário? Não conseguia pensar em alguém tão importante assim...
Na sexta-feira uma quantia considerável de dinheiro foi depositada na conta do Dr., era óbvio foi o tal Senhor! O que aumentou sua curiosidade de tal forma que não dormiu na sexta. E seu sábado foi inquietante que não conseguiu comer quase nada a não ser uns pedaços de pão com algumas taças do seu vinho favorito.
Eram cinco e quarenta da manhã do domingo e Matarazzo já estava no consultório, afinal não sabia ao certo que horas chegaria o tão esperado e ansiado Senhor. E foi quando as dez e trinta e três um bilhete passou livre por debaixo da porta e nele dizia assim:
“Sente-se em sua cadeira e vire-a de costas para o divã. De maneira alguma olhe para mim em momento algum. Obrigado meu filho”
Sorriu uma interrogação que até parecia alegria. Estava eufórico. Seguiu as recomendações a risca e antes mesmo que dissesse um “pode entrar Senhor”, a porta se abriu, e era como se o próprio som do mundo tivesse desaparecido do consultório. Um silêncio absurdo, somente os passos do Senhor batia no assoalho e o som de seu corpo deitando no divã...
Matarazzo transpirava. Queria olhar para trás, sabia que não podia. Segurou sua ansiedade colossal e disse tão baixo que nem mesmo ele ouvira:
- Diga-me como está? Como se sente?
“Eu...
(Que voz é essa? Não é alta, mas, parece que fala dentro de mim. – pensou enquanto ouvia)
... Eu sou Deus. Não um Deus qualquer. Deus de verdade! Mas não sei se posso sê-lo...
- Uhm... Entendo. – disse, mas, seu pensamento batia forte nos sentido de que levaria alguém achar que poderia ser Deus; pensava nas teorias dos pensadores e nada encontrava sobre tal assunto.
“Sei o que está pensando meu filho, mas sou real, existo mesmo e realmente sou Deus. Mas enfim, na verdade não importa se você crê em mim e sim, o importante é que creio em você e por isso estou aqui. Continuando: criei a humanidade, se bem que foi por um acaso. Sonhei certa tarde que havia muita gente em um planeta e quando acordei, eles existiam. Foi quando descobri que era Deus. Eles não sabiam de mim por um tempo, após alguns anos e alguns acontecimentos começaram a me adorar. Pediam-me muitas graças e eu as dava. E essa rotina foi me estressando de tal ponto que não sabia mais o que fazer. As pessoas sempre me pedem as coisas certas para eles, mas por um acaso alguém já pensou em ser certo para as coisas que dou?
- Isso é verdade, mas me diga como foi sua infância?
Deus sorriu, ajeitou-se no divã e disse:
“Não tive infância, sou Deus lembra-se? Então, estou começando a achar que não posso continuar a ser Deus. Todos me pedem coisas, a todo tempo! Coisas que muitas vezes cabem a eles a serem feitas. Este que o problema. Por isso que prefiro os ateus. Não crêem em mim, fazem tudo por si e quando precisam de mim com um olhar pidão de criança de rua não dizem nada, mas escuto tudo... eu não quero que me adorem ou que se ajoelhem ou que paguem penitencias; eu só quero que eles cresçam e vejam que estou por perto, mas, não posso fazer tudo por eles. Eu espero mais deles, ou melhor, de vocês do que vocês de mim! Todos reclamam quando lhes dão mais trabalho do que os cabe certo? E por que Eu tenho que fazer o que não me cabe? Entende? É tão difícil...
Após dizer este relato, o clima se tornou pesado. Matarazzo viu sua vida toda passar diante de seus olhos, sentiu algo estranho em seu interior que não sabia definir ao certo e que, no entanto, batia forte no seu peito como um vulcão, ou melhor, uma explosão, o Big-Bag.
- Você não está brincando não é? Você, quer dizer, o Senhor é Deus mesmo!
“Sim, eu disse que era.”
- Meu Deus do céu! Acho que fiquei louco! – cuidadosamente levantou para não olhar para trás e serviu-se de uma boa dose de um doze anos.
“Não está louco meu filho, na verdade eu só gostaria de desabafar. Não é fácil ficar vigiando o mundo, não poder me abrir com ninguém. Sempre tenho que ser o Deus, Todo Poderoso, que não tem aflições... Não é nada fácil pra eu assumir esse papel... Sempre quis ser pintor! Como pode perceber, eu pintei o mundo todo!”
Os dois caíram numa gargalhada gostosa, Deus riu por sua piada apesar de saber que não teve graça alguma e quando ria o céu trovejava por inteiro e Matarazzo ria e não sabia o porquê do riso, talvez a bebida ou sabe-se lá Deus o porquê... E as risadas continuavam sem parar, riam, riam e riam mais. E quando Matarazzo percebeu estava virando cadeira, era sem querer na verdade, a cadeira virou por tantas vezes que seus pés giravam de tanto rir. Quando se deparou diante de seu divã vazio. Súbito, não ria mais. Seus olhos dividiam um sentimento de alívio e preocupação. Aconteceu mesmo? – indagou-se. Levantou, dirigiu-se ao divã e o tocou. Gelado! Como se fosse banhado por um líquido congelante. Sorriu e pensou tão alto que até Deus ouviu:
“Não sei se aconteceu de verdade, mas não importa! Eu nunca acreditei em Deus e hoje que sei que ele pode ser tão humano quanto eu, é possível que possa existir; só basta acreditar. E pode deixar, meu Velho, farei minha parte! Mas não deixe de fazer a sua!"
E caiu mais uma vez em gargalhadas, agora já estava um pouco bêbado...
E Deus também estava rindo. E com toda certeza também estava bêbado.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Velho, a Morte e a Palavra

"É quando a morte beija a vida e a experiência cavalga na vontade de viver que é possível perceber o quanto a vida é efêmera e precisa de cada pedaço do mundo pra existir, seja ele vívido ou mórbido... A morte é a sombra da vida, uma não existe sem a outra; o começo da morte é a vida e a vida torna-se, enfim, um dia, em morte!"

Ele arrumava com carinho sua mala. Meio apressado mas nada que o fizesse esquecer algo importante. Era domingo, dormia até tarde aos domingos. Mas hoje não! Tivera um sonho estranho, algo inquieto que o deixou deveras pensativo; e então acordou cedissimo no domingo e resolveu, assim mesmo de repente, visitar uma casa de repouso - por favor, sem eufemismos - um Asilo. Não sabia bem ao certo o que iria fazer lá. Mas foi. E lá, uma casa lindissima o esperava. Um jardim maravilhoso com árvores frutíferas, azaleias do branco ao rosa. Bancos pintados e de uma delicadeza incontestável. Tudo muito lindo, de dar inveja a qualquer um. Que vontade de passar uns tempos aqui - pensou. Essa sensação de lar não permaneceu por muito tempo, ao entrar na casa um odor colossal de urina masturbou sem esmero suas narinas. O clima pesou tanto que a cada passo que ele dava envelhecia uns quinze anos. O café da manhã batia com força na garganta numa ânsia enorme.
Andava, andava e andava mais. Pelos corredores, que horror! Os velhos apesar de limpos exalavam morte. Os olhares! Ah os olhares; jamais esqueceria daqueles olhares vazios. Era como se gritassem: Mate-me! ou quem sabe, talvez "Abraçe-me". Não sabia definir ao certo.
Acelerou o passo, como se quisesse fugir de monstros e um "o que estou fazendo aqui?" batia forte em todas as suas neuronas...
Cansado, já com um ânimo de como se tivesse envelhecido oitenta anos em menos de vinte passos, sentou num sofá mais duro do que as piores das consciências.
- Que sofá péssimo, que velho sentaria aqui? - disse e neste mesmo instante um velho pigarrento murmurou algo que se pode ouvir por todo o corredor...
"Velho? Quem você está chamando de velho?"
- Desculpe senhor, não queria te acordar.
"Senhor? Você não sabe mesmo nada da vida não é meu jovem?"
- Pois não?
"Escute: O que é velho? O que é novo? Acordar? Quando estamos dormindo? Eu estou aos pés da morte, passei pela estrada da vida inteira. Tive mulher, filhos, netos e um bisneto. Construi uma família linda e uma vida das mais deslumbrantes cores. E hoje eis-me aqui!"
- Mas...
"Não precisa dizer, quer saber o porque que eu estou aqui. Vejo isso em seus olhos. Ora, quem quer um velho lhe estorvando a vida? Uso fraldas meu jovem, tenho mais metal no corpo do que ossos, se é que é possível chamar estas hastes de arame de ossos. Tenho uma pele sanfonada que nem mesmo meu pai me reconheceria. Vim porque acharam que seria a melhor opção. Pra quem? Uhm, pra mim é claro! O que um velho de noventa e um anos precisa mais do que tenho aqui? Sou o mais velho deste lugar, o próximo da lista da morte o nome riscado das páginas da vida."
...
"Não fale nada. Permita-me que eu diga mais do que já disse minha vida toda. Pelo menos algo importante.
Quando se está nesta etapa de pré-morte, você descobre que sua vida passou em um segundo e que não fez a metade do que poderia, ou que chegou a sonhar. E não realizar o seu sonho é um desperdício! Ainda me arrependo em não ter tomado aquele sorvete na praça, de não ter dado boas risadas no bar regado a cachaça de Minas, de não ter beijado Dona Ana... E hoje estou nadando nas minhas próprias fezes esperando que alguém me troque... - o velho sorriu tristemente, mas de uma maneira tão sutil que o jovem sequer percebeu, pegou um papel amassado e uma caneta e escreveu alguma coisa que não consegui identificar - tome e leia apenas quando estiver fora deste lugar. Obedeça-me, certo?
- Tudo bem. Como o Senhor preferir... E...
"Eu ainda não terminei! Como esses jovens são ansiosos! Vou ser breve, não passaremos a tarde aqui e nem vou contar minha história de vida, mesmo porque ela é apenas uma história que morrerá comigo. Minhas dores acabarão, as lágrimas secarão o meu canto não será mais cantado e só. Serei apenas alguém que não existirá mais. Mas antes que isso aconteça quero deixar em você meu rapaz, uma sentelha de vida:
Não deixe que nada seja eterno, não permita que te aprisionem no possível. Seja o que desejar ser. As prisões carnais são muito fortes, mas acabam e se você chegar um dia no meu estágio tem que ter a certeza de que foi homem, humano e que esteve sempre no máximo de que pode estar...
Não é nada demais eu sei, mas é algo que talvez possa lhe fazer falta um dia. Agora saia daqui e vá viver!"
E ele saiu, pegou o papel que o velho escreveu tremulamente em letra quase ilegível e, com a ansiedade de uma criança no vinte e quatro de Dezembro as onze e meia, o leu.
Dizia:
"Não tenho patrão se não os meus desejos e minha punição é unicamente a minha consciência. É assim que vivi. É assim que se vive para uma morte sem precisar olhar pra trás pois tudo que necessita está bem aqui ao seu lado."
- Dário. Dário. Acorda! - disse sua mãe.
- Ãn? Nossa, estou atrasado...
E ele acordou, era uma quarta-feira. Atrasado pro trabalho. Mas aquele sonho quase real foi tão forte que ficou cravado em sua memória.
Os anos foram passando, sua família foi construída. Teve mulher, filhos, netos e um bisneto. Todas as noites lembrava daquele sonho, e quando viu seus filhos discutindo com quem ele ficaria aos finais de semana e um justificando ao outro o porquê de que não podia ser consigo, feliz e seguramente bem disse sorrindo como se a vida lhe abrisse o sorriso de adeus:
"Levem-me para um asilo!"

sábado, 29 de maio de 2010

Relato de Fé

Hoje não farei nenhum conto de alta hermenêutica e menos ainda um poema de alta linguagem sifrada ou direta. Hoje apenas hoje, quero mais é deixar um relato, um aviso (quem sabe?). Acordei com espírito revolucionário, inquieto. Digo sem medo de ser feliz (pois hoje não tenho mais medo de ser feliz ou triste, mesmo porque já experimentei os dois sabores e sei que posso enfrentá-los) declaro guerra ao Destino! A minha sorte de hoje em diante está nas minhas mãos! Eu, unicamente eu, irei traçar meu caminho. Farei dele o que bem sonhar e nada mais. Não quero nada além disso.

Já me disseram que o que vamos passar nesta vida está escrito na pedra, ou seja, não podemos mudar. Se assim for, acabo de comprar uma boa talhadeira, EU escreverei na MINHA pedra e ninguém mais. Se a pedra é minha, o direito de escrever é meu. Não? Pouco importa, assim será! Na minha pedra, eu escrevo! Pronto.

Cansei de deixar meu futuro nas mãos dos Deuses, não desacredito neles, de maneira alguma. Acontece que há uma hora que temos que desmamar dos nossos pais. Isso tem que acontecer com Deus também. Temos que desmamar das mamadeiras divinas. É hora de caminhar com nossas pernas, nos destinar a tudo que precisamos. Errar, pagar por isso; aprender, acertar e ganhar por isso também.

É hora de viver de verdade, não serei marionete das próprias orações. A partir de agora corto os fios que me agarram e aumento a minha fé de uma maneira que não podes entender mas eu posso sentir...

Tenho plena certeza que Deus e todos os outros que creio estão sorrindo neste instante.

"Não tenho patrão senão os meus desejos e meu castigo é minha consciência..." - palavras de um amigo que encontrei pelas estradas

sexta-feira, 21 de maio de 2010

MAIS UMA NOITE

as madrugadas que não dormem
Vento!
O uivar das forças de Zéfiro
Trazia as mágoas
Em meu peito inerne.
Estremece a casa, os olhos tremem...
Quanto medo! Quanto frio! Ai! Quanto!
Deus é morto. Metros e mais metros
De mortalha desenterada tampam as janelas
Como cortinas móbidas que
Balançavam loucas no trotar da tempestade!

Chuva!
Batia como alavanca o coração aflito
O sangue corria rápido, deixando
O rosto rubro, tenso, quimérico, explosivo!
Ecoava um grito de agonia
Nas criptas obscuras da garganta
Da criatura melancólica
Em que me apresento...

Noite!
Ai dos meus ais! Como sofrem!
O medo goteja quente em minha espinha;
A morte entoa um cântido que fede a peixe
E anda nos corredores da casa iluminando
Num feixe de dor as minhas amarguras...
Ai de mim! E este Deus que só dorme!
E este Deus que é morto!

Aurora!
O pior da mágoa, da culpa é
Que mesmo sendo fortes e destruidoras
elas não matam! Malditas!
Sobrevivi a mais uma noite.
Ai de mim, e essa dor que não finda!
E este Deus que não acorda,
Este Deus que é morto!
....................................................................................

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eles têm razão?

"Tenho mil universos dentro de mim, e em nenhum deles cabe alguém ou alguma coisa que não seja tão louco quanto eu..."

Fiquei pensando por umas horas como eu funciono. De que sou feito. O que me faz levantar todos os dias... E não cheguei à conclusão alguma!
Funciono assim como o vento. Numa invariabilidade exorbitante. Sou feito de sensações terríveis, de mágoas profundas e alegrias passageiras. Levanto todos os dias por birra infantil, por achar muito desaforo ter meus dias desapresentáveis desta forma... Levanto por puro teste de sorte. Quero ver até onde essa má-sorte vai...
Penso. Repenso. E penso novamente. O que preciso fazer pra que tudo isso mude? Não vejo nada de errado com meus atos. Sou alguém normal, como qualquer um filho da puta desta Terra. Maquiado de erros e acertos, assim como você!
Vida é sorte! Não pode existir outra tese que seja mais verdadeira que essa! Muitos podem pensar que estou fazendo um relato invejoso. Que seja isso então! O fato é que muitos têm a sorte de conseguir o que querem, de gostar do fácil, do populoso, do rentável...
Eu? Quero o que não consigo, gosto do compliado e mesmo que não gostasse ele me aparece sempre, não há como fugir. Prefiro o mais vazio, e meus gostos não dão dinheiro. Meu curso é ótimo, amo-o a cada dia. Cada aula me faz ter orgasmos com a alma. Mas convenhamos Letras hoje em dia não tem valor algum. Estagiário de Letras não ganha, e quando ganha é uma exploração maldita sobre os conhecimentos que recebe na universidade.
Estudamos as Literaturas, as Gramáticas e teorias mirabolantes do mundo da Língua... E.. O que?
"Ele sabe tudo isso, mas nossa conta de luz veio 69,57" - Eles têm razão?
"Você não vai aceitar essa proposta de emprego? Não importa que vai ganhar R$300,00 é a sua área!" - Eles têm razão?
"Por que você nao vai ser frentista? Sai do posto e vai pra faculdade oras!" Eles têm razão?
Não sei quanto a todo vocês que tentam me ler sem fechar esta página virtual, mas sinceramente quero (preciso) de mais do que isso, muito mais!
Não vou me acostumar com o regular, com o pouco ou até com o bom. Não aceito nada que não possa ser chamado de, no mínomo, ótimo.
Não quero ser rico, nem milhonário. Não tenho essa gana de matéria. Mas preciso viver neste lugar enxarcado de suor e sangue... Viver? Esqueça! Viver é sorte! Puramente sorte, e infelizmente não a tenho...
Estou a nau sem água e como dizem por ai: ninguém tem nada haver com isso... Eles têm razão?
Nem todos tiveram a chance de escolha. Tudo que passei tive que passar, tudo que passo tenho que passar. Um caminho sem escoha e apenas isso...
Eles têm razão?
Eles têm razão?
...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Desvio






Versos Íntimos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!



Augusto dos Anjos

Hoje não estou para amigos e menos ainda para inimigos. Precisava, nem que seja um instante, sumir, correr pela selva e gritar, gritar desesperadamente e chamar por um nome proibido.
Mas prefiro não colocá-lo aqui por motivos de proteção. E levando em consideração que este texto não será lido por muitos não há verossimilhança escrever o nome de alguém que nem sequer existe mais no mundo dos vivos...
Em sua memória Belo mio,
"A saudade é um filme sem cor que o coração que ver colorido..."
Odeio tudo, principalmente o fato de não poder, mesmo querendo, te odiar!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O REALEJO

No fim da rua escura um som antiquado e frenético ressoava pelos becos das casas. Mas a rua permanecia completamente nua. Não havia uma viva alma; até mesmo o próprio vento negara sua presença. Somente o som quimérico de um realejo pairava no ar. No meio do sereno surge um velho sujo e misterioso com o olhar cético como se levasse consigo a dor da humanidade de todas as eras. Carregava com sofreguidão o realejo cinza girando a manivela e iniciando aquele som amaldiçoado que nadava na inécia da rua nua. Havia uma ave dentro do realejo, não tinha muitas penas, e sim, muitas feridas e seu bico não fechava por inteiro. A rua emanava morte e exalava um odor muito parecido com o das lápides...

Gira a manivela e toca-se a música.
A ave colhe o bilhete impresso
E nele, em síntese, o seu destino!
O Realejo come vontades e aspira
Os desejos dos sonhadores.
Coitados!
Mau sabem eles que o homem torpe
E sem nome escreve bêbado
O que para ele não tem sentido!
E no papel que a jovem inocente
e bela e triste e travessa
Ganhara estava escrito:
"O Amor, meus caros, não tem definição, tem pressa!"

E ela sorriu como uma flor toda banhada de sol e pequenamente disse:
Meu senhor, o Amor não tem pressa, e também não pode ser definido, pois é mister que a sua grandeza não possa ser medida pelo homem. Se isso um dia acontecesse o Amor acabaria. Tudo o que o homem pôde definir sucumbiu à sua descrença... O dia que a ciência descobrir o que é o Amor, ele deixará de existir. O mesmo aconteceria com Deus e todos os outros santos, anjos, orixás e suas divindades.
É o homem que tem pressa. Ele é uma locomotiva viva descarrilhada em busca de um progresso que nem mesmo ele entende... Mas não falemos de metafísica! Apenas olha esta rua nua e fria enquanto eu me despeço, de qualquer forma obrigada pelo bilhete impresso...

E num súbito momento a menina se fundiu com a bruma e da mesma forma que amanhece o sol ela desapareceu...
E o velho bêbado sorriu uma interrogação e dentre os soluços da bebedeira bolbulciou algo parecido com isso:

- "Um criança que guarda em si o sentido da vida não faz muito sentido a um velho; mas depois dos setenta anos nada precisa fazer sentido..."

Ele soltou a ave que voou sem pensar em nada. Deixou cair o realejo, que se desmontou inteiro no chão. Foi andando até o fim rua nua e fria e deitou junto ao meio fio. Deu um trago forte no seu conhaque, tossiu, sorriu e, ao som de um realejo distante, morreu.

domingo, 9 de maio de 2010

Rosas e Mortes

"- O amor tem vozes misteriosas
No coração implume...
- Como são cheirosas as primeiras rosas,
E os primeiros beijos como têm perfume!

- O amor tem prantos de abandono
No coração que morre...
- As folhas tombam quando vem o outono,
E ninguém as socorre!

- O amor tem noites, noites inteiras,
De agonias e de letargos...
- Que tristeza têm as rosas derradeiras,
E os últimos beijos como são amargos!"

Alphonsus de Guimaraens


O doce e o amargo. O amor e o ódio. Tudo que é oposto, que é extremo faz parte de um mesmo ser. A casca da manga doce é amarga, quem ama está sujeito também a odiar. Os beijos mais doces de amor podem, um dia, se transfomarem, assim mesmo de repente, em palavras duras de ódio.
No entretanto não quero dizer que sou contra ou a favor de algo. Digo unicamente para constatação e apenas isso; bem sabemos que é assim mesmo, sempre foi e há de ser sempre assim.
Considero, de certa forma, bom, aproveitável e saboroso. O bom degustador tem que saborear todos os gostos sem preconceitos. E assim toca-se a vida, saboreando os gostos que ela nos trás e os que procuramos também, é isso.
"(...)
Olhos, olhares evocadores
De espectros mudos de altivo porte...
Fechai a campa dos meus amores,
Oficiantes da minha morte!"
Fragmento derradeiro de Olhos - Alphonsus de Guimaraens

Pensamento Solto - Sete e Quinze



"(...)
O rio roxo e triste, ó rio morto,
O rio roxo, amargo...
Rio de vãs melancolias de Horto
Caídas do céu largo!

Rio do esquecimento tenebroso,
Amargantemente frio,
Amargantemente sepulcral, lutuoso,
Amargantemente rio!
(...)"
Fragmento de Esquecimento de Cruz e Souza - Broquéis e Faróis


Primeiramente deixo todas as minhas condulências aos literatos de nossa língua e os de todas as líguas mortas e vivas e também aos próximos poetas que irão morrer pelas Letras!

Muitos precisaram de absinto, Ópio e afins para romper os limites do impossível e escrever desvairadamente como um tresloucado e tenro poeta; já eu, não bebo! Ao invés disso, respiro o carbono das ruas cinzas de São Paulo. Desta selva asfáutica engolidora de mundos!


Estava eu na boemia e peguei-me em pensamentos exorbitantes! Estava sozinho em presença, mas, mesmo que pareça incrível, estava completamente paramentado de mim mesmo. Não me faltava nada, sequer uma partícula.


Preciso dizer que a Revolução ainda me inqueita. A cada dia que nasce sinto dentro de mim uma fera em ebulição, uma besta apocalíptica que vem anunciar o despertar de uma nova era de desmundos!


Não existe hoje apenas o Gabriel em mim, há um universo inteiramente dinâmico e pragmático (nada efêmero) que corrobora para a explosão que se aproxima!


Aguardem-me canalhas! O cantochão de dínamos profundos, que jazia na estática do nada, irá mover milhões de mundos durante esta jornada!


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Madrugada

"Tá tudo tão estranho; a cor da estação é cinza como este céu de estanho..."

A lua estava meia escondida destre as nuvens ensanguentadas hoje. É fim de lua cheia, já estava todinha amarela, mas escondida. Parece-me que a noite sabe o que nós sentimos por dentro e que as vezes a natureza reflete o seu íntimo (pensamento extremamente ultra-romântico eu sei) mas hoje, até o balançar das árvores batia triste ao vento impiedoso.
E a mente, o pensamento, e a consciência assíduos ao extremo com sua plenitude batem de fronte com meu ser. Faz ecoar pela rua um som tristonho como o som de um violoncelo nos tons mais baixos que se pode ousar... Mas não sou meu inimigo! Nada que existe dentro de mim pode ou está contra mim. Meu verdadeiro inimigo está em casa me aguardando. Travesseiro! Ele sim, é o pior inimigo do homem! É nele que choro todas as noites, é para ele que conto minhas mágoa e fúrias. Logo ele, que deveria ser macio e confortável tem a rigidez da rocha e o peso da fúria de Cristo quando expulsou os mercadores da igreja... Até o mais forte dos homens não pode resistir a seu travesseiro. Pode ficar bem e sorrir o dia todo mas quando deitar sua cabeça deste retângulo macio e branco toda esta força cairá por terra! Quendo estamos sós, apenas nós, a cama e o travesseiro, os nossos vícios, virtudes e pecados vêm nos aporrinhar as pestanas...
Maldito seja meu travesseiro!

"(...)
Piedade, noite! Abrindo a imensa espectral mão
Que me sufoca como a tampa dum caixão,
Aquela Sombra agarra a tua sombra e vem
Sugar-me em seu feroz tentáculo de além...

Mas sobre a grande, velha e rude casa, a noite
Só solidão me dá por seio a que me acoite,
E eu luto sem saber com quê, com quem, eu morro
Sabendo que ninguém me há-de vir dar socorro...
(...)"
Fragmento de Soluço na Noite - José Régio

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Templo

Eu sou um sonhador, um eterno idealizador que sem muita vontade caminha pela estrada...
Hoje acordei meio assombrado por Fernando Pessoa, Álvaro de Campos na verdade. Me parece que ele está sobre minhas costas ditanto melancolicamente o meu destino...

Se serei nada ou tudo, não sei. Se caso serei alguma pessoa importante ou apenas mais uma que passa pela rua sem ser notada; se vou me reconhecer no reflexo do espelho ou não... Na verdade isso não me importa mais. Pouco me importa quem serei no futuro ou quem fui no passado e menos ainda quem sou agora! E por quê? Você deve está se perguntando, não é caro leitor? (se é que alguém lê o que escrevo). É simples, porque não sei ao certo quem sou ou o que sou, mas sinto o que minha presença representa, não posso definir em palavras ou desenhos entretanto posso sentir todo esse labirinto, essa essência...
E não me importa, não me importa nada!

Estou cansado demais para me importar! Cansado de pensar se vou parecer certo para o mundo. Cansado de me contrariar em prol de castelos de cartas...
Comecei agora a construir não um castelo e nem uma casa, mas algo muito mais além, construo agora um templo! Não é como o de Mafra mas será meu...

Um templo! Um templo de Deus? Do Demônio? Não, um templo da Revolução! Dentro dele não haverá cadeiras, pois é proibido ficar sentado, ninguém esperará um Mesias que virá pagar pelos nossos pecados e sim, todos pagarão por eles e lutarão pelo que acreditam!

O Templo da Revolução, onde nada é divino ou profano, tudo é inquietude, é transporte, é experiência!

Mas, falemos dele mais a frente... Afinal, devaneios são devaneios e ninguém tem nada haver com isso...

sábado, 1 de maio de 2010

- Enquanto conservas o Conservadorismo, vivo a dinâmica do Impossível!

Eu tenho tanta coisa pra falar, mas não sei se faltam palavras no mundo para expressar o que sinto ou se falta mundo nas minhas palavras.
Passei por sérias transformações nos últimos dias; vi que é possível respirar ar apaziguador sem precisar que ele saia da respiração de um alguém. A falta que poderia haver em mim não é maior do que meu desejo de revolução. O percurso é longo mas o caminho é certo, isto é um fato!
Tenho uma fome de impossível que seria pecado dizer que preciso de um único acontecimento para encontrar o que busco. eu quero tocar o intangível, fazer o impossível e ver o invisível e ei de fazê-lo, porque assim o quero.
É como um sábio já me disse uma vez, milagre mesmo não é um câncer ser curado e sim, o doente aprender a conviver com esse câncer sem praguejar a sua sorte e viver cada dia com a força do viver. Aprender a conviver com as trevas ao lado é muito mais miraculoso do que eliminá-las! Afinal, as Trevas também são uma criação Divina...

Tenho uma fé que vai além da fé religiosa, tenho uma fé revolucionária que anda e se mexe como um rio de lava incandescente e que com a fúria de um epicentro assola os medos da evolução humana.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Ceifa

"(...)
O ceifeiro rebelde pende mais a cabeça para a seara, como se as torturas e as esperanças lhe pesassem.
(...)
O ar fica a repetir aquela chicotada no silêncio opressivo.
Nem um pássaro anda no ar. Não conseguem singrar agora naquele céu de metais em fusão.
Os pássaros não voam. Mas os ceifeiros trabalham.
A ceifa não pára - a ceifa não pára nunca.
(...)
A lâmina das foices vai cega de todo. Os punhos não lhe podem dar luz, pois o vigor já morreu de há muito. Só o impulso dos braços tombas as espigas.
A ceifa corre lenta. Dolorosa e lenta.
E os capatazes bramam.
(...)"
Trecho de Gaibéus, romance de Alves Redol

Creio que não preciso dizer muito, o silêncio as vezes é a melhor resposta ou, quem sabe, a melhor coisa a se fazer neste momento.
E temo de o silêncio não bastar...
Enfim!



domingo, 18 de abril de 2010

Dos meus amores...








O Amor, ah o Amor! É algo que temo em descobrir que possa não ser o que pensamos. Augusto, meu mestre, soube definir o Amor em sua obra. E venho a concordar com com ele; me nego a crer que tudo isso que passei possa ser amor de verdade. O Amor não é algo cheio de firulas, plumas e lantejoulas. Amor é comer manga do pé, é andar descalço na lama, é rir na chuva, é deixar seu cachorro lamber seu rosto e gostar disso. "O Amor é cego", what hell is this? Cego? Não, creio que não. Nós sabemos bem o que fazemos, o amor é apenas uma justificatica (por assim dizer) incontestável para as inconsequências humanas. Digo isso e por que digo não quero passar a ninguém que não creio no amor, muito bem pelo contrário, creio até mais do que deveria! Mas a cada pedra pulada de nossa vida um pedacinho mais do quebra-cabeça é nos dado e quando vi, percebi assustado essa matemática. "A família é uma instituição falida" - disse uma professora minha - e é isso mesmo! Estamos numa sociedade extremamente carente de atenção familiar; e crescemos assim sem muita coisa e quando encontramos pessoas na nossa vida esperamos receber dela algo que não tivemos antes. A família caiu ao Decadentismo do séc. XIX e o Realismo polvilhou feu em tudo que restou...


Amor é aquilo que sinto quando vejo minha vó sorrindo, é o que faz meu peito explodir quando vejo meus amigos felizes, é o que escorre dos meus dentes ao ser refletido pelo espelho, é a energia que enama de mim quando rezo a Oxum... Isso é Amor, Amore, Amour, Love, Liebe... Os adjacentes disso são apenas adjacentes.


Ninguém tem a obrigação de amar ninguém se não a si próprio.


"O mundo inteiro pode te repudiar; o único que não pode é ti mesmo." - Emmanuel




Idealismo




Falas de amor, e eu ouço tudo e calo

O amor na Humanidade é uma mentira.

É. E é por isto que na minha lira

De amores fúteis poucas vezes falo.




O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

Quando, se o amor que a Humanidade inspira

É o amor do sibarita e da hetaíra,

De Messalina e de Sardanapalo?




Pois é mister que, para o amor sagrado,

O mundo fique imaterializado

— Alavanca desviada do seu fulcro —




E haja só amizade verdadeira

Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!




Augusto dos Anjois




Versos de Amor

a um poeta erótico



Parece muito doce aquela cana.

Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!

O amor, poeta, é como a cana azeda,

A toda a boca que o não prova engana.



Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,

Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,

Todas as ciências menos esta ciência!




Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo

Mas certo, o egoísta amor este é que acinte

Amas, oposto a mim. Por conseguinte

Chamas amor aquilo que eu não chamo.





Oposto ideal ao meu ideal conservas.

Diverso é, pois, o ponto outro de vista

Consoante o qual, observo o amor, do egoísta

Modo de ver, consoante o qual, o observas.



Porque o amor, tal como eu o estou amando,

É Espírito, é éter, é substância fluida,

É assim como o ar que a gente pega e cuida,

Cuida, entretanto, não estar pegando!



E a transubstanciação de instintos rudes,

Imponderabilíssima e impalpável,

Que anda acima da carne miserável

Como anda a garça acima dos açudes!



Para reproduzir tal sentimento

Daqui por diante, atenta a orelha cauta,

Como Mársias - o inventor da flauta -

Vou inventar também outro instrumento!



Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo

Ambiciono, que o idioma em que te eu falo

Possam todas as línguas decliná-lo

Possam todos os homens compreendê-lo!



Para que, enfim, chegando à última calma

Meu podre coração roto não role,

Integralmente desfibrado e mole,

Como um saco vazio dentro d'alma!




Augusto dos Anjos


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Bilhete


"Só digo o que penso, só faço o que gosto e aquilo que creio. Não nasci para ser metade. Em nada, para nada, nem para ninguém. Sou inteiro, por essência. Terás de mim o inteiro, exceto se me deres apenas metade. Deixo minha seriedade para as horas em que ela é inevitável. No mais, fico sorrindo à toa." - Maysa, a cantora.

ODE DO PESAR

Invejo os pecados que a religião abomina.
Tenho necessidade de ser intenso.
Quero ser sol, lua, magma, estrela vespertina;
Nado na horas, brindo séculos, mergulho no mar imenso!

Invejo as ninfas que
Seduzem num olhar.
Invejo o vento frio
Que é sentido na pele descalça.

Soberano desejo de ser este vinho,
Este fermentado de uvas.
Queria ter sabor!
Alemintar a fome, regar a sede
De um alguém...

Mas, que entretanto, sou este homem
Incompleto, vazio, sem amor
Fardado a vagar pela estrada,
Testemunhar a Felicidade alheia
E acariciar os que sofrem
Sendo obrigado a esquecer
Minha própria dor...

Assim como fui esquecido
Por Deus...
Por....
Deus!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A FLOR

Como as flores nos campos
Ela exala seu perfume derradeiro
Mostra sua pétala ofertada aos santos
Trazendo-nos o suspiro primeiro
Ah! Flor! Ès primaveras!
Desabroxa no romper da aurora
Mostra-se impar, no decorrer das eras
E sua beleza em todos os cantos desaflora
Mostre-se ao mundo Flor,
Eu a vejo parada,
Mostre todo esse seu Amor.
Ja te conheço, ja daquela estrada
Ès flor do mundo, do ardor.
Tens tudo do mundo e o mundo não te tens em nada!

Passagem...

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." - Miguel Sousa Tavares

O Ipê Amarelo

Eu quero um ipê amarelo! Nossa como eu quero um ipê amarelo!De copas amplas, de grandiosa amplitude, de galhos de proporções épicas com folhas verdíssimas, e que no inverno, todas elas se desmantelem no chão, deixando-o todo puro, todo nu... Ai então as flores amarelinhas tomem o lugar do esverdeado...flores amarelas! Isso mesmo todas amarelas, com um amarelo ouro, com alguns tons mais claros indicando a pureza desta singular árvore. Tão inocente minha árvore! Ah! Meu ipêzinho amarelinho, tão bonitinho, tão inocente, que deixaria uma criança com aparência mundana... Seu tronco! Firme e forte, que nem mesmo o mais rude dos lenhadores poderia derrubá-lo! Tronco marrom! Tronco forte! Tronco-rocha! Sim, isso tudo é meu ipê amarelo! Como quero meu ipê amarelo! Amarelinho, amarelão, é meu ipê. Ele é assim tão ipêzinho esse meu ipêzão... Tão ipê, tão real, que até parece sonho...

domingo, 4 de abril de 2010

DA FELICIDADE


"Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”
(Mário Quintana)


sexta-feira, 2 de abril de 2010

"Sonho Infantil"


"Num canto guardado,

Um João bobo, que pança!

Um sorriso estampado,

Um brinquedo criança.


E eu cada vez mais criança

Via o João meu e gostava da pança.

Envelhecendo o João Bobo furou

Eu fui crescendo e o sonho acabou..."


Edilson B. Miranda (pai)

quarta-feira, 31 de março de 2010

"Libertas Quae Sera Tamen"

É tão difícil mudar; esperar que tudo mude ou fazer com que as coisas mudem. É preciso primeiro vencer o medo da mudança (coisa hediondamente tenebrosa). Também sinto medo de mudar, mas acontece é que o medo é pouco perto da necessidade desta mudança bendita! E se é assim, como não a querer?
As pessoas me decepcionaram muito! Dificilmente confiarei cegamente em alguém daqui pra frente. Amigos são bons! Sim! Namoros também. entretanto é complicado isso, tudo é a seu favor enquanto há algo de proveitoso pra si, caso não haja ''good bye my honney''... É assim mesmo? Sempre há de ser assim?
Ontem ouvi um ''eu pensei que te conhecia Gabriel"... Isso me fez lembrar que nunca conhecemos as pessoas suficientemente, e nunca vamos!
Bem Vindos ao meu mundo! Eu também não me conheço o suficiente e nunca me iludi achando que me conhecia! E sei que não os conheço também...
E nem por isso deixo de amá-los.
E depois de tudo isso, deste início de semana no mínimo estranho, venho por meio desta postagem informar que me fecharei em um novo casulo, ou me enterrarei em terra fértil ou efêmera (quem sabe?).
Uma nova fase de "Mórphus" entrará em vigor! E então eu poderei gritar: "Nothing Else Matters"...
Apesar de Virgílio estar à minha sombra sussurrando: "Libertas quae sera tamen", vou libertar agora parte da harpa boêmia e entoar um cântico profundo dos dissabores meus; e quando novamente sentir meu peito mais que vazio, eu o completarei comigo mesmo. Amém!







...sentirei falta de muita coisa desta fase, mas não podemos viver de memórias e nem de saudades. Como diz Mário Quintana: ''a saudade faz a gente parar no tempo'', e não quero ficar parado. Preciso andar e quem for dos meus que me acompanhe, não posso mais esperar ninguém...

Águas...


Olha o pingo d'água no fio
Olha! Olha o pingo.
O pingo que escorre do teto.
Olha o pingo! Olha o pingo d'água!
A chuva cai. E estou triste.
Olha! Olha o pingo!
Pingo d'água que mina da face,
Olha o pingo!
O pranto vai. Olha!
Olha o pingo d'água...




... e entretanto,
não enxergas nada!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Diferenças!

Soneto de Fidelidade
(Vinícius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto da Separação
(Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o presentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

[Que coisa! Como pode dois assuntos serem tão opostos e mesmo assim um ser consequência do outro?]

Gotaria que Camões, Bocage e Vinicius sentassem na mesma mesa e num trio fantástico e no uso da pena reescrevessem o meu Destino...

Mangas

Ontem à tarde, comi uma manga doce após o almoço. Que delícia! Lembre-me então, de quando era pequeno;e o quão eram importantes essas pequenas coisas. A manga, o iogurte, o suco, o desenho na TV Cultura. Quando terminei a fatia suculenta da manga docíssima senti minha face lambuzada com seu sumo, nas mãos gotejavam pingos amarelo-ouro e tão condensados que lembravam a geléia real da Abelha Rainha. Neste instante, fui então, invadido por uma alegria, ou melhor, uma Felicidade radiante que é como se o sol tivesse amanhecido dentro de mim. E mais nada importou. Tenho problemas sim, todos têm! Mas ontem os esqueci. Pode parecer patético eu sei, mas como uma simples manga (que não é mais tão simples assim) pode me trazer algo que já procurava há tanto tempo? Chovia muito. Geralmente fico triste em dias de chuva, mas não; eu sentia como se a chuva fosse o suor do calor intenso que tinha por dentro desta matéria infame. Percebi ontem também o quanto sou querido pelas pessoas à minha volta, o quanto sou importante por essas pessoas. As pequenas coisas, ah se não fossem elas! Ouvi ontem de mim mesmo para mim ‘’tudo vem e vai, mas as mangas, essas sim serão eternas’’. Pra quem entende as figuras de linguagem está claro o campo semântico não? Hehehe...

E por isso, a cada dia mais, as mangas é que são a tal da Felicidade, é o dizem por ai nas docas de minh’alma...

quinta-feira, 25 de março de 2010

VERSOS D'UM ALUNO




a Siomara Pacheco



Vejo uma mestra que descansa

E nos seus olhos castanhos

Perdura a força de mil rebanhos

E em seu sorriso mora um sonho de criança.



Educa, ensina das Letras a Saussure

"A Gramática é uma sombra amiga!"

E de giz maquiada, uma tradição antiga,

É assim que gradua a todos. Ela a instruir!



Existem muitos mestres na Universidade,

Alunos, Doutores, et coetera. A mente os ampara

em um lugar ímpar com tamanha singularidade!



É claro que a tudo a gente comprara,

Mas existe a tal da afinidade

E por isso, vem-me à mente um único nome: Siomara!

segunda-feira, 22 de março de 2010

NO SEMINÁRIO

Aperto mais ponto de meu cilício
Com a vã tentativa da pureza alcançar.
Corre a fita grossa e rubra do sacrifício.
É o meu sangue. e tento o Criador alcançar.
E neste altar é que estão vivas todas as minhas
Súplicas de homem!

Na dor me concentro
Com minha carne dilacerada pelo aço
Vejo que o que faço não é o bastante
Para que eu sinta as Asas da Salvação
Ruflarem sobre minha carne infame...


Açoitando-me com o cinturão
De São Francisco, na bruta e áspera
Intenção de suplantar o vício
Vejo-me caindo no precipício
Das tentações profanas do mundo!

Em dores, desmaio, e em minha
Inconsciência sonho com
A derrota dos pecados meus
E quando me rendo ao meu desvario:
Desperto!

Fito meu claustro, cruzes e monstros
Observam-me com gastura
As cortinas antes amarelas
Agora, com meu sangue, já vermelhas
E feitas de barro, as telhas
Caem aos montes no chão.

Um estremecimento arrebatador
Domina-me o corpo por inteiro,
E o mundo estremece no seu fim derradeiro!
E esse mundo em sua forma de elipse
Recebe agora um novo Apocalipse,
As minhas tentações!

Esta é minha cruz, o meu suplício!
Deste mau não sei como me livrar,
E com a vã tentativa de a pureza alcançar,
Aperto mais ponto de meu cilício...