sábado, 18 de dezembro de 2010
Febre
Mas tudo bem, não falemos mais disso não? Ou sim.
Um ano se feacha neste momento. E claro, uma coisa ou outra mudou sim. Mas trocando tudo por miúdos. Nada mudou, chegou até a piorar um cadinho. Sou um Homem melhor, fato (e sim, com ''agá'' maiúsculo). No entanto, Homem mais sofrido também. Não apenas no sentido de que sofreu e logo, aprendeu. Não. No sentido de que sofreu e apenas isso. Sem suporte, sem nada. Sozinho no meio de muitos.
Hoje, a única coisa que realmente me deixa bem é o trabalho. Nem mesmo a graduação que sempre foi o meu xodó me faz tão bem quanto um dia já fez. A família? Bom, como dizer? Eles fazem o que podem (eu imagino). Mas ainda não foi o suficiente, nunca foi. Muitos devem se perguntar se Eu, para tanto reclamar, os trato como família. E eu vos-lhe respondo, caríssimo (a), faço também o que posso. Carregar pesos familiares pela vida, é como uma bola enorme pesando nos seus calcanhares. Assuntos como este são grilhões terríveis.
Dói. A febre queima e a pela arde, como nunca fez.
sábado, 20 de novembro de 2010
Desfolhagem
Cai pesada na consciência paquiderme.
Sente frio,
Sente fome,
E chove?
Mas dentro ou fora?
Terrível; nem sabe quem é.
Disse: "A vida é curta demais pra passar raiva"
E porque isso disse,
O mundo queboru-se por inteiro
E nada mais lhe pesava tanto.
Agora sim, chove.
Gêiser Numa Noite Quente
Não quero seus olhares de caridade!
Tirem daqui as paixões, os amores torpes.
Vazem-me a alma raquítica, subnutrida;
Prefiro a Loucura, a Ebulição,
Pois sou uma explosão apocalíptica,
Um chaga no braço do herói.
Sou seu escudo lascado que
Um ferreiro abandonou num canto da rua.
Escuro, denso e sozinho...
Passagem
O vento é o tempo.
O tempo é o vento que passa.
A vida é o vento que no tempo vem e vai em meio de tanta lembrança.
Vai vento, vai!
E me deixa passar...
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Suspiro
Uma vontade estúpida de vomitar o sopro de vida para viver longe. Uma criatura gigante que, já acordade, grita em berros de fúria. Viver! Viver! Viver! Eu quero viver. Não apenas existir.
Aonde estão todos?
Efêmero, tudo é efêmero. Das dores aos amores. Meus amores já se foram, agora só restam as dores e, ficarei definitivamente só.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
O Amanhecer de Rita
sábado, 17 de julho de 2010
Ensaio para Vida Real
E eu a cada instante mais lúcido, mais acordado, percebi que tudo que passei até agora foi como um ensaio pra vida real. Como um manual de instruções que foi me dado antes da viver.
Tudo antes me parecia sem sentido algum. Recentemente, qualquer coisa que eu olho me dá adeus. Tudo e todos, parecem-me, no fundo, dizer adeus. Foi terrível perceber; pensei no começo que as pessoas tinham mudado comigo, todas elas, mas, não! Eu mudei, aliás: estou mudando. Ando e observo. O mundo passa diante dos meus olhos acenando com as mãos, como se despedisse de mim...
Estou derrotado, com a honra masculina maculada e amargo. Lúcido e amargo. Sólido e totalmente amarelo. Sinto-me, muitas vezes, como um altar sacrilegiado pelo infiel que rasga a batina no desespero do último momento.
Não tenho medo da morte. O que mais temo é o tempo que vai passar até eu chegar até ela. Como serão esses anos? Longos como estão são esses que passo hoje? Curtos para que eu não consiga construir nada?Afinal de que me adianta tanto sofrimento? A justiça é cega, bem sabemos. Mas onde está sua audição enquanto clamo nas madrugadas?
Três e trinta e sete da manhã, já é domingo e mais um dia se passa...
Casulo duma Metamorfose
quinta-feira, 8 de julho de 2010

A oito de Julho e era manhã. E a força, tirado a aço
O dia sorriu o natalício máximo de meu progenitor,
Aquele que me acolhe na treva, no gemido de dor
Agarrando-me, em ânsias, a alma com o próprio braço!
Voltou da morte, o ressurgido do abismo profundo!
Óh anjo-cigano que poder esconde nos olhos castanhos?
O amor que emana de suas mãos, como cem rebanhos
Nocauteia-me e faz-me girar cinco vezes ao redor do mundo!
E quantas vezes eu, pessimista como sou, não lhe desafiei
Diante as peripécias e maleficências da vida e da morte?
E sempre, como todo pai ioiô faz, e o por quê ainda não sei,
A ti, um sorriso, abrirei na explosão de um rubor forte.
Pois não tenho nada senão estas palavras que lhe confiei.
Amo-te deveras, e para amar, meu rei, não preciso de Sorte!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
O Desejo Lamentado
Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos
O choro da Energia abandonada!
E a dor da Força desaproveitada
- O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
Jazem ainda na estática do Nada!
É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza.
Da luz que não chegou a ser lampejo...
E é em suma, o subconsciente aí formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!
Augusto dos Anjos
"No fim tudo dá certo." - Ãn? Quem quer que tudo dê certo apenas no fim? Não é justo este pensamento! A gente tem que esperar o fim das coisas pra que algo realmente bom aconteça? Desculpem-me mas, não quero que seja assim! Pensamento medíocre, pequeno. Tudo tem que dar certo ou errado ao longo do percurso. Durante a caminhada. Caso contrário não faz sentido ir em frente. Atravessar um deserto inteiro por um copo d'água não me parece muito esperto. Não sou contra as lutas de vida e morte, sou inteiramente contra a esses pensamentos pequenos e rudimentares de que ''tudo vai dar certo no fim'' - como assim? Fim? Fim de quê? Da vida? - E esse positivismo cego... Socorro! Mas que mania de pensamento positivo é esse? Sinceramente isso é pura auto-piedade! Não é só porque você pensa (ou diz que pensa) que tudo vai se resolver é que vão mesmo. O mundo gira a gente vivo ou não, o vento venta sejamos bons ou ruins. O mesmo acontece com todo o resto. É sorte! Essa carnívora assanhada que come os corações dos seus servos! Creio que a essência do pensamento de hoje está no "Lamento das Coisas" de Augusto dos Anjos... No mais, é possível que eu tenha exagerado (quem sabe?) mas no entanto eu preciso mesmo exagerar! Afinal eu preciso suprir a falta que tenho, ninguém melhor do que eu mesmo...
''os olhos fechados são portas abertas para meu mundo, e nele entra os que não têm medo do insano..."
terça-feira, 6 de julho de 2010
Rascunho
Ainda não entendo como funciona essa coisa de sorte. Sei que uns têm outros não. Eu não tenho! E me desculpem todos os mestres mas, de que me servem todos os romances, histórias, estórias e líricas? Se há buracos na minha cueca. Machado me faz ter epifanias na alma, mas e minhas contas? Quem pagará? E vem a realidade como uma sombra absurda assombrar-me à mente. Estou fazendo a coisa certa? Escolhi mesmo o rumo certo? Apesar de as letras me alimentarem a vida ultimamente elas não fazem (ou podem fazer) nada além disso.
Como me dói dizer isso. Como me sinto violado sacrilegiando todos os que me acolhem todas as noites. Mas meu ódio é tão intenso que, ao pesar do último momento, odeio o amor que sinto por eles! Não posso deixá-los, mesmo sabendo que se não o fizer posso me perder na miserável vida do não viver...
Não vivemos de amor. Mesmo sabendo que ele é muito importante. Mesmo sendo amado por tantos. Tantos que nos querem bem. Mas... Entende? O amor é algo tão subjetivo que nem sempre, ou quase nunca, faz alguma diferença no mundo que vivemos.
A cada dia que passa me vejo mais longe dos que queria perto de mim. Ah meus amigos, por que estamos cada vez mais longe uns dos outros? Sinto-me na obrigação de ir embora. A cada dia vou me mutando para âncora enquanto todos vós são balões de ar quente, não posso acompanhá-los. São viagens, bares, sorrisos, alegrias e enlaces que não posso pagar. Desculpem-me todos. Eu não posso ir...
Tudo à frente é rascunho, esboço de algo que posso não terminar um dia...
sábado, 3 de julho de 2010
A palavra que não diz
Mais que dia ensolarado. Repleto de emoções aos que querem tê-las. E eu a cada dia mais lúcido. Sim, lúcido. Insano e lúcido. Vejo os carros que passam. As pessoas que choram e riem. Os cachorros que coçam sua sarna e os gatos que pulam nos telhados na madrugada; escuto os ratos roerem toda a consciência humana debaixo do assoalho. Tenho medo, e meu medo não este medo que a humanidade sova todos os dias. Tenho medo da falta de medo que sinto. Medo da falta de tudo que me assola. Não temos mais o Futuro, não temo os inimigos, não temos a morte e nem mais a miséria.
Nesta semana, como uma guilhotina justiceira minha consciência desceu graciosa e certeira à jugular. Não estou triste. Não estou feliz. Estou lúcido, consciente. Todo e qualquer receio ou preocupação que me dilacerava morreu ontem à noite. Tudo se tornou medo de criança, e de alguma forma eu cresci (ainda não descobri se isso é bom ou ruim).
Vejo os amantes, ouço as juras de amor. Tudo me parece tão falho. Sem alma, sem vida... Que amor é esse que vocês amam? Este amor que fala e não vê, que ri e não chora. Que juras são essas que jurais? Por que fala da eternidade sem mesmo a conhecer? E digo não só porque já ouvi e disse tudo isso, mas sim, porque ouço a cada esquina, nas pessoas que não conheço, nas que costumo ver, nas que amo... Coitados!
Penso, muitas vezes, que sou uma criatura metamorfa retirada de um quadro de Dali. Eu não quero ter emoções, eu não quero ser estéril. Quero apenas viver. Algo além da sorte e do azar, do amor e do ódio que nem Deus e nem o Diabo possam intervir sobre esse ser fantástico que cá escreve no Terra Efêmera.
Escutem. Estão ouvindo? Não? É Réquiem! Não? Nada? E nem estão vendo isso imagino eu... São os guerreiros do Apocalipse jogando cartas, truco talvez. Sentem esse gosto? Agri-doce. E o cheiro de ferro? Nada não? Enfim, coitados... Coitados...
Temos mania de dizer que os mortos não falam, porém os vivos também não dizem nada. Como já disse Graciliano, a palavra foi feita pra dizer e não para enfeitar. Prefiro o silêncio do sepulcro aos adornos da boca imatura.
domingo, 27 de junho de 2010
Dos Amigos / Dos inimigos
Um inimigo nos dá o valor que merecemos, o respeito que precisamos e a vontade de vencê-lo que temos oculta.
Ao pensar em tudo isso, posso concluir que melhor seria esta frase: "diga-me quantos inimigos tem que eu lhe direi o teu valor".
Quero ressaltar que não estou com raiva de amigo algum, ou sabe-se Deus o que a mente do leitor pode levá-lo a pensar e sim, estou pensando nesta dicotomia de amigos e inimigos. Não posso deixar de agradecer todos os meus inimigos, pois se não fossem eles eu não estaria como estou hoje. Lúcido, transparente e acordado.
É claro que, é mister que eu diga a importância dos amigos. São eles que transformam um demônio em anjo. São os olhos amistosos que podem ver em qualquer pessoa algo bom, que muitas vezes pode sequer existir, todavia eles vêem e após isso pode até passar a existir; é só crer (como dizia Clarice em A Hora da Estrela).
Os inimigos são os que nos dão valor e os amigos são os que têm o poder de nos transformar.
É isso, ou quase isso, ou quem sabe?, nada disso. O importante é crer não é?
'' e ele sorriu amargamente a sua consciência..."
domingo, 20 de junho de 2010
Sonhos e Pesadelos ( E o viver?)
Sonho e, por sonhar, creio que talvez tudo que sonho não passe um dia a ser nada mais que um sonho...
Eu gosto dos pesadelos! Daqueles bem terríveis; de nos fazer acordar no meio da noite suados e estremecidos. Gosto, não por nada, mas, a sensação de acordar e ver que tudo aquilo não passou de um devaneio noturno me alimenta. É boa a sensação de ver que algo ruim acabou... Quando a gente sonha algo bom e logo acordamos, vimos que era só um sonho e nada mais...
E a nossa vida não é assim, é real. Sonhos e pesadelos dançam na inércia do ar como fadas a abençoar e amaldiçoar os seres mortais.
Todo e qualquer medo pode se tornar válido, se não o medo de viver. Depois de cair muito, a gente não tem mais medo do chão - apesar de duro e frio. O segredo de não cair é sempre andar. Como uma criança que quando aprende a andar nos seus primeiros passos. Ela só cai quando para de andar, descobrindo assim, que o segredo do equilíbrio está no próximo passo. Emendando um a um e assim segue em frente. É possível que, algum segredo esteja neste fundamento.
E eu vos-lhe pergunto: "E quando queremos andar e não é nos dado caminhos, o que fazemos?"
É. Pois é...
Não é fácil conviver com uma carruagem desgovernada dentro da alma e ela não ter estrada para continuar seu percurso. Pois, um dia ela há de encontrar um muro e quando acontecer, nada mais vai restar, se não os destroços de alguém que um dia tentou ir além do que tem...
Pensemos mais nisso, quem sabe um dia não teremos o direito da escolha. Quem sabe um dia, não possamos de verdade traçar um caminho diferente... Quem sabe, um dia...
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Adeus, amigo, adeus...

sexta-feira, 11 de junho de 2010
Do Amor no Séc. XXI

quinta-feira, 10 de junho de 2010
Relato de um dia cinza
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Um Paciente Fantástico
- Senhorita Madalena, preciso que venha trabalhar no próximo domingo. – exigiu o Dr. a sua secretária.
- Impossível Dr., esqueceu-se que é o dia de meu casamento? – lembrou.
- Eu pago o triplo do que pagaria!
- Desculpe-me Dr., mas é o dia mais importante de minha vida, infelizmente não poderei...
- Tudo bem então, eu venho só. Bom saber que posso contar com meus funcionários! – ironizou o Dr. já desligando o telefone.
Os dias foram passando lentamente. As suas consultas demoravam décadas para terminar tanta era sua ansiedade para saber como seria o seu domingo e maior ainda a sua curiosidade de quem seria o tal Senhor. Será uma celebridade? Um ricaço? Algum empresário? Não conseguia pensar em alguém tão importante assim...
Na sexta-feira uma quantia considerável de dinheiro foi depositada na conta do Dr., era óbvio foi o tal Senhor! O que aumentou sua curiosidade de tal forma que não dormiu na sexta. E seu sábado foi inquietante que não conseguiu comer quase nada a não ser uns pedaços de pão com algumas taças do seu vinho favorito.
Eram cinco e quarenta da manhã do domingo e Matarazzo já estava no consultório, afinal não sabia ao certo que horas chegaria o tão esperado e ansiado Senhor. E foi quando as dez e trinta e três um bilhete passou livre por debaixo da porta e nele dizia assim:
“Sente-se em sua cadeira e vire-a de costas para o divã. De maneira alguma olhe para mim em momento algum. Obrigado meu filho”
Sorriu uma interrogação que até parecia alegria. Estava eufórico. Seguiu as recomendações a risca e antes mesmo que dissesse um “pode entrar Senhor”, a porta se abriu, e era como se o próprio som do mundo tivesse desaparecido do consultório. Um silêncio absurdo, somente os passos do Senhor batia no assoalho e o som de seu corpo deitando no divã...
Matarazzo transpirava. Queria olhar para trás, sabia que não podia. Segurou sua ansiedade colossal e disse tão baixo que nem mesmo ele ouvira:
- Diga-me como está? Como se sente?
“Eu...
(Que voz é essa? Não é alta, mas, parece que fala dentro de mim. – pensou enquanto ouvia)
... Eu sou Deus. Não um Deus qualquer. Deus de verdade! Mas não sei se posso sê-lo...
- Uhm... Entendo. – disse, mas, seu pensamento batia forte nos sentido de que levaria alguém achar que poderia ser Deus; pensava nas teorias dos pensadores e nada encontrava sobre tal assunto.
“Sei o que está pensando meu filho, mas sou real, existo mesmo e realmente sou Deus. Mas enfim, na verdade não importa se você crê em mim e sim, o importante é que creio em você e por isso estou aqui. Continuando: criei a humanidade, se bem que foi por um acaso. Sonhei certa tarde que havia muita gente em um planeta e quando acordei, eles existiam. Foi quando descobri que era Deus. Eles não sabiam de mim por um tempo, após alguns anos e alguns acontecimentos começaram a me adorar. Pediam-me muitas graças e eu as dava. E essa rotina foi me estressando de tal ponto que não sabia mais o que fazer. As pessoas sempre me pedem as coisas certas para eles, mas por um acaso alguém já pensou em ser certo para as coisas que dou?
- Isso é verdade, mas me diga como foi sua infância?
Deus sorriu, ajeitou-se no divã e disse:
“Não tive infância, sou Deus lembra-se? Então, estou começando a achar que não posso continuar a ser Deus. Todos me pedem coisas, a todo tempo! Coisas que muitas vezes cabem a eles a serem feitas. Este que o problema. Por isso que prefiro os ateus. Não crêem em mim, fazem tudo por si e quando precisam de mim com um olhar pidão de criança de rua não dizem nada, mas escuto tudo... eu não quero que me adorem ou que se ajoelhem ou que paguem penitencias; eu só quero que eles cresçam e vejam que estou por perto, mas, não posso fazer tudo por eles. Eu espero mais deles, ou melhor, de vocês do que vocês de mim! Todos reclamam quando lhes dão mais trabalho do que os cabe certo? E por que Eu tenho que fazer o que não me cabe? Entende? É tão difícil...
Após dizer este relato, o clima se tornou pesado. Matarazzo viu sua vida toda passar diante de seus olhos, sentiu algo estranho em seu interior que não sabia definir ao certo e que, no entanto, batia forte no seu peito como um vulcão, ou melhor, uma explosão, o Big-Bag.
- Você não está brincando não é? Você, quer dizer, o Senhor é Deus mesmo!
“Sim, eu disse que era.”
- Meu Deus do céu! Acho que fiquei louco! – cuidadosamente levantou para não olhar para trás e serviu-se de uma boa dose de um doze anos.
“Não está louco meu filho, na verdade eu só gostaria de desabafar. Não é fácil ficar vigiando o mundo, não poder me abrir com ninguém. Sempre tenho que ser o Deus, Todo Poderoso, que não tem aflições... Não é nada fácil pra eu assumir esse papel... Sempre quis ser pintor! Como pode perceber, eu pintei o mundo todo!”
Os dois caíram numa gargalhada gostosa, Deus riu por sua piada apesar de saber que não teve graça alguma e quando ria o céu trovejava por inteiro e Matarazzo ria e não sabia o porquê do riso, talvez a bebida ou sabe-se lá Deus o porquê... E as risadas continuavam sem parar, riam, riam e riam mais. E quando Matarazzo percebeu estava virando cadeira, era sem querer na verdade, a cadeira virou por tantas vezes que seus pés giravam de tanto rir. Quando se deparou diante de seu divã vazio. Súbito, não ria mais. Seus olhos dividiam um sentimento de alívio e preocupação. Aconteceu mesmo? – indagou-se. Levantou, dirigiu-se ao divã e o tocou. Gelado! Como se fosse banhado por um líquido congelante. Sorriu e pensou tão alto que até Deus ouviu:
“Não sei se aconteceu de verdade, mas não importa! Eu nunca acreditei em Deus e hoje que sei que ele pode ser tão humano quanto eu, é possível que possa existir; só basta acreditar. E pode deixar, meu Velho, farei minha parte! Mas não deixe de fazer a sua!"
E caiu mais uma vez em gargalhadas, agora já estava um pouco bêbado...
E Deus também estava rindo. E com toda certeza também estava bêbado.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O Velho, a Morte e a Palavra
Ele arrumava com carinho sua mala. Meio apressado mas nada que o fizesse esquecer algo importante. Era domingo, dormia até tarde aos domingos. Mas hoje não! Tivera um sonho estranho, algo inquieto que o deixou deveras pensativo; e então acordou cedissimo no domingo e resolveu, assim mesmo de repente, visitar uma casa de repouso - por favor, sem eufemismos - um Asilo. Não sabia bem ao certo o que iria fazer lá. Mas foi. E lá, uma casa lindissima o esperava. Um jardim maravilhoso com árvores frutíferas, azaleias do branco ao rosa. Bancos pintados e de uma delicadeza incontestável. Tudo muito lindo, de dar inveja a qualquer um. Que vontade de passar uns tempos aqui - pensou. Essa sensação de lar não permaneceu por muito tempo, ao entrar na casa um odor colossal de urina masturbou sem esmero suas narinas. O clima pesou tanto que a cada passo que ele dava envelhecia uns quinze anos. O café da manhã batia com força na garganta numa ânsia enorme.
Andava, andava e andava mais. Pelos corredores, que horror! Os velhos apesar de limpos exalavam morte. Os olhares! Ah os olhares; jamais esqueceria daqueles olhares vazios. Era como se gritassem: Mate-me! ou quem sabe, talvez "Abraçe-me". Não sabia definir ao certo.
Acelerou o passo, como se quisesse fugir de monstros e um "o que estou fazendo aqui?" batia forte em todas as suas neuronas...
Cansado, já com um ânimo de como se tivesse envelhecido oitenta anos em menos de vinte passos, sentou num sofá mais duro do que as piores das consciências.
- Que sofá péssimo, que velho sentaria aqui? - disse e neste mesmo instante um velho pigarrento murmurou algo que se pode ouvir por todo o corredor...
"Velho? Quem você está chamando de velho?"
- Desculpe senhor, não queria te acordar.
"Senhor? Você não sabe mesmo nada da vida não é meu jovem?"
- Pois não?
"Escute: O que é velho? O que é novo? Acordar? Quando estamos dormindo? Eu estou aos pés da morte, passei pela estrada da vida inteira. Tive mulher, filhos, netos e um bisneto. Construi uma família linda e uma vida das mais deslumbrantes cores. E hoje eis-me aqui!"
- Mas...
"Não precisa dizer, quer saber o porque que eu estou aqui. Vejo isso em seus olhos. Ora, quem quer um velho lhe estorvando a vida? Uso fraldas meu jovem, tenho mais metal no corpo do que ossos, se é que é possível chamar estas hastes de arame de ossos. Tenho uma pele sanfonada que nem mesmo meu pai me reconheceria. Vim porque acharam que seria a melhor opção. Pra quem? Uhm, pra mim é claro! O que um velho de noventa e um anos precisa mais do que tenho aqui? Sou o mais velho deste lugar, o próximo da lista da morte o nome riscado das páginas da vida."
...
"Não fale nada. Permita-me que eu diga mais do que já disse minha vida toda. Pelo menos algo importante.
Quando se está nesta etapa de pré-morte, você descobre que sua vida passou em um segundo e que não fez a metade do que poderia, ou que chegou a sonhar. E não realizar o seu sonho é um desperdício! Ainda me arrependo em não ter tomado aquele sorvete na praça, de não ter dado boas risadas no bar regado a cachaça de Minas, de não ter beijado Dona Ana... E hoje estou nadando nas minhas próprias fezes esperando que alguém me troque... - o velho sorriu tristemente, mas de uma maneira tão sutil que o jovem sequer percebeu, pegou um papel amassado e uma caneta e escreveu alguma coisa que não consegui identificar - tome e leia apenas quando estiver fora deste lugar. Obedeça-me, certo?
- Tudo bem. Como o Senhor preferir... E...
"Eu ainda não terminei! Como esses jovens são ansiosos! Vou ser breve, não passaremos a tarde aqui e nem vou contar minha história de vida, mesmo porque ela é apenas uma história que morrerá comigo. Minhas dores acabarão, as lágrimas secarão o meu canto não será mais cantado e só. Serei apenas alguém que não existirá mais. Mas antes que isso aconteça quero deixar em você meu rapaz, uma sentelha de vida:
Não deixe que nada seja eterno, não permita que te aprisionem no possível. Seja o que desejar ser. As prisões carnais são muito fortes, mas acabam e se você chegar um dia no meu estágio tem que ter a certeza de que foi homem, humano e que esteve sempre no máximo de que pode estar...
Não é nada demais eu sei, mas é algo que talvez possa lhe fazer falta um dia. Agora saia daqui e vá viver!"
E ele saiu, pegou o papel que o velho escreveu tremulamente em letra quase ilegível e, com a ansiedade de uma criança no vinte e quatro de Dezembro as onze e meia, o leu.
Dizia:
"Não tenho patrão se não os meus desejos e minha punição é unicamente a minha consciência. É assim que vivi. É assim que se vive para uma morte sem precisar olhar pra trás pois tudo que necessita está bem aqui ao seu lado."
- Dário. Dário. Acorda! - disse sua mãe.
- Ãn? Nossa, estou atrasado...
E ele acordou, era uma quarta-feira. Atrasado pro trabalho. Mas aquele sonho quase real foi tão forte que ficou cravado em sua memória.
Os anos foram passando, sua família foi construída. Teve mulher, filhos, netos e um bisneto. Todas as noites lembrava daquele sonho, e quando viu seus filhos discutindo com quem ele ficaria aos finais de semana e um justificando ao outro o porquê de que não podia ser consigo, feliz e seguramente bem disse sorrindo como se a vida lhe abrisse o sorriso de adeus:
"Levem-me para um asilo!"
sábado, 29 de maio de 2010
Relato de Fé
Já me disseram que o que vamos passar nesta vida está escrito na pedra, ou seja, não podemos mudar. Se assim for, acabo de comprar uma boa talhadeira, EU escreverei na MINHA pedra e ninguém mais. Se a pedra é minha, o direito de escrever é meu. Não? Pouco importa, assim será! Na minha pedra, eu escrevo! Pronto.
Cansei de deixar meu futuro nas mãos dos Deuses, não desacredito neles, de maneira alguma. Acontece que há uma hora que temos que desmamar dos nossos pais. Isso tem que acontecer com Deus também. Temos que desmamar das mamadeiras divinas. É hora de caminhar com nossas pernas, nos destinar a tudo que precisamos. Errar, pagar por isso; aprender, acertar e ganhar por isso também.
É hora de viver de verdade, não serei marionete das próprias orações. A partir de agora corto os fios que me agarram e aumento a minha fé de uma maneira que não podes entender mas eu posso sentir...
Tenho plena certeza que Deus e todos os outros que creio estão sorrindo neste instante.
"Não tenho patrão senão os meus desejos e meu castigo é minha consciência..." - palavras de um amigo que encontrei pelas estradas
sexta-feira, 21 de maio de 2010
MAIS UMA NOITE
O uivar das forças de Zéfiro
Trazia as mágoas
Em meu peito inerne.
Estremece a casa, os olhos tremem...
Quanto medo! Quanto frio! Ai! Quanto!
Deus é morto. Metros e mais metros
De mortalha desenterada tampam as janelas
Como cortinas móbidas que
Balançavam loucas no trotar da tempestade!
Chuva!
Batia como alavanca o coração aflito
O sangue corria rápido, deixando
O rosto rubro, tenso, quimérico, explosivo!
Ecoava um grito de agonia
Nas criptas obscuras da garganta
Da criatura melancólica
Em que me apresento...
Noite!
Ai dos meus ais! Como sofrem!
O medo goteja quente em minha espinha;
A morte entoa um cântido que fede a peixe
E anda nos corredores da casa iluminando
Num feixe de dor as minhas amarguras...
Ai de mim! E este Deus que só dorme!
E este Deus que é morto!
Aurora!
O pior da mágoa, da culpa é
Que mesmo sendo fortes e destruidoras
elas não matam! Malditas!
Sobrevivi a mais uma noite.
Ai de mim, e essa dor que não finda!
E este Deus que não acorda,
Este Deus que é morto!
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quarta-feira, 19 de maio de 2010
Eles têm razão?
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Desvio

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
segunda-feira, 10 de maio de 2010
O REALEJO
E ela sorriu como uma flor toda banhada de sol e pequenamente disse:
Meu senhor, o Amor não tem pressa, e também não pode ser definido, pois é mister que a sua grandeza não possa ser medida pelo homem. Se isso um dia acontecesse o Amor acabaria. Tudo o que o homem pôde definir sucumbiu à sua descrença... O dia que a ciência descobrir o que é o Amor, ele deixará de existir. O mesmo aconteceria com Deus e todos os outros santos, anjos, orixás e suas divindades.
É o homem que tem pressa. Ele é uma locomotiva viva descarrilhada em busca de um progresso que nem mesmo ele entende... Mas não falemos de metafísica! Apenas olha esta rua nua e fria enquanto eu me despeço, de qualquer forma obrigada pelo bilhete impresso...
E num súbito momento a menina se fundiu com a bruma e da mesma forma que amanhece o sol ela desapareceu...
E o velho bêbado sorriu uma interrogação e dentre os soluços da bebedeira bolbulciou algo parecido com isso:
- "Um criança que guarda em si o sentido da vida não faz muito sentido a um velho; mas depois dos setenta anos nada precisa fazer sentido..."
Ele soltou a ave que voou sem pensar em nada. Deixou cair o realejo, que se desmontou inteiro no chão. Foi andando até o fim rua nua e fria e deitou junto ao meio fio. Deu um trago forte no seu conhaque, tossiu, sorriu e, ao som de um realejo distante, morreu.
domingo, 9 de maio de 2010
Rosas e Mortes
No coração implume...
- Como são cheirosas as primeiras rosas,
E os primeiros beijos como têm perfume!
- O amor tem prantos de abandono
No coração que morre...
- As folhas tombam quando vem o outono,
E ninguém as socorre!
- O amor tem noites, noites inteiras,
De agonias e de letargos...
- Que tristeza têm as rosas derradeiras,
E os últimos beijos como são amargos!"
Alphonsus de Guimaraens
Pensamento Solto - Sete e Quinze

quarta-feira, 5 de maio de 2010
Madrugada
A lua estava meia escondida destre as nuvens ensanguentadas hoje. É fim de lua cheia, já estava todinha amarela, mas escondida. Parece-me que a noite sabe o que nós sentimos por dentro e que as vezes a natureza reflete o seu íntimo (pensamento extremamente ultra-romântico eu sei) mas hoje, até o balançar das árvores batia triste ao vento impiedoso.
E a mente, o pensamento, e a consciência assíduos ao extremo com sua plenitude batem de fronte com meu ser. Faz ecoar pela rua um som tristonho como o som de um violoncelo nos tons mais baixos que se pode ousar... Mas não sou meu inimigo! Nada que existe dentro de mim pode ou está contra mim. Meu verdadeiro inimigo está em casa me aguardando. Travesseiro! Ele sim, é o pior inimigo do homem! É nele que choro todas as noites, é para ele que conto minhas mágoa e fúrias. Logo ele, que deveria ser macio e confortável tem a rigidez da rocha e o peso da fúria de Cristo quando expulsou os mercadores da igreja... Até o mais forte dos homens não pode resistir a seu travesseiro. Pode ficar bem e sorrir o dia todo mas quando deitar sua cabeça deste retângulo macio e branco toda esta força cairá por terra! Quendo estamos sós, apenas nós, a cama e o travesseiro, os nossos vícios, virtudes e pecados vêm nos aporrinhar as pestanas...
Maldito seja meu travesseiro!
"(...)
Piedade, noite! Abrindo a imensa espectral mão
Que me sufoca como a tampa dum caixão,
Aquela Sombra agarra a tua sombra e vem
Sugar-me em seu feroz tentáculo de além...
Mas sobre a grande, velha e rude casa, a noite
Só solidão me dá por seio a que me acoite,
E eu luto sem saber com quê, com quem, eu morro
Sabendo que ninguém me há-de vir dar socorro...
(...)"
Fragmento de Soluço na Noite - José Régio
terça-feira, 4 de maio de 2010
O Templo
Hoje acordei meio assombrado por Fernando Pessoa, Álvaro de Campos na verdade. Me parece que ele está sobre minhas costas ditanto melancolicamente o meu destino...
Se serei nada ou tudo, não sei. Se caso serei alguma pessoa importante ou apenas mais uma que passa pela rua sem ser notada; se vou me reconhecer no reflexo do espelho ou não... Na verdade isso não me importa mais. Pouco me importa quem serei no futuro ou quem fui no passado e menos ainda quem sou agora! E por quê? Você deve está se perguntando, não é caro leitor? (se é que alguém lê o que escrevo). É simples, porque não sei ao certo quem sou ou o que sou, mas sinto o que minha presença representa, não posso definir em palavras ou desenhos entretanto posso sentir todo esse labirinto, essa essência...
E não me importa, não me importa nada!
Estou cansado demais para me importar! Cansado de pensar se vou parecer certo para o mundo. Cansado de me contrariar em prol de castelos de cartas...
Comecei agora a construir não um castelo e nem uma casa, mas algo muito mais além, construo agora um templo! Não é como o de Mafra mas será meu...
Um templo! Um templo de Deus? Do Demônio? Não, um templo da Revolução! Dentro dele não haverá cadeiras, pois é proibido ficar sentado, ninguém esperará um Mesias que virá pagar pelos nossos pecados e sim, todos pagarão por eles e lutarão pelo que acreditam!
O Templo da Revolução, onde nada é divino ou profano, tudo é inquietude, é transporte, é experiência!
Mas, falemos dele mais a frente... Afinal, devaneios são devaneios e ninguém tem nada haver com isso...
sábado, 1 de maio de 2010
Fé
Eu tenho tanta coisa pra falar, mas não sei se faltam palavras no mundo para expressar o que sinto ou se falta mundo nas minhas palavras.
Passei por sérias transformações nos últimos dias; vi que é possível respirar ar apaziguador sem precisar que ele saia da respiração de um alguém. A falta que poderia haver em mim não é maior do que meu desejo de revolução. O percurso é longo mas o caminho é certo, isto é um fato!
Tenho uma fome de impossível que seria pecado dizer que preciso de um único acontecimento para encontrar o que busco. eu quero tocar o intangível, fazer o impossível e ver o invisível e ei de fazê-lo, porque assim o quero.
É como um sábio já me disse uma vez, milagre mesmo não é um câncer ser curado e sim, o doente aprender a conviver com esse câncer sem praguejar a sua sorte e viver cada dia com a força do viver. Aprender a conviver com as trevas ao lado é muito mais miraculoso do que eliminá-las! Afinal, as Trevas também são uma criação Divina...
Tenho uma fé que vai além da fé religiosa, tenho uma fé revolucionária que anda e se mexe como um rio de lava incandescente e que com a fúria de um epicentro assola os medos da evolução humana.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A Ceifa
O ceifeiro rebelde pende mais a cabeça para a seara, como se as torturas e as esperanças lhe pesassem.
(...)
O ar fica a repetir aquela chicotada no silêncio opressivo.
Nem um pássaro anda no ar. Não conseguem singrar agora naquele céu de metais em fusão.
Os pássaros não voam. Mas os ceifeiros trabalham.
A ceifa não pára - a ceifa não pára nunca.
(...)
A lâmina das foices vai cega de todo. Os punhos não lhe podem dar luz, pois o vigor já morreu de há muito. Só o impulso dos braços tombas as espigas.
A ceifa corre lenta. Dolorosa e lenta.
E os capatazes bramam.
(...)"
Trecho de Gaibéus, romance de Alves Redol
Creio que não preciso dizer muito, o silêncio as vezes é a melhor resposta ou, quem sabe, a melhor coisa a se fazer neste momento.
E temo de o silêncio não bastar...
Enfim!
domingo, 18 de abril de 2010
Dos meus amores...

Parece muito doce aquela cana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
E a transubstanciação de instintos rudes,
Para reproduzir tal sentimento
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Para que, enfim, chegando à última calma
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Bilhete
"Só digo o que penso, só faço o que gosto e aquilo que creio. Não nasci para ser metade. Em nada, para nada, nem para ninguém. Sou inteiro, por essência. Terás de mim o inteiro, exceto se me deres apenas metade. Deixo minha seriedade para as horas em que ela é inevitável. No mais, fico sorrindo à toa." - Maysa, a cantora.
ODE DO PESAR
Tenho necessidade de ser intenso.
Quero ser sol, lua, magma, estrela vespertina;
Nado na horas, brindo séculos, mergulho no mar imenso!
Invejo as ninfas que
Seduzem num olhar.
Invejo o vento frio
Que é sentido na pele descalça.
Soberano desejo de ser este vinho,
Este fermentado de uvas.
Queria ter sabor!
Alemintar a fome, regar a sede
De um alguém...
Mas, que entretanto, sou este homem
Incompleto, vazio, sem amor
Fardado a vagar pela estrada,
Testemunhar a Felicidade alheia
E acariciar os que sofrem
Sendo obrigado a esquecer
Minha própria dor...
Assim como fui esquecido
Por Deus...
Por....
Deus!
quarta-feira, 7 de abril de 2010
A FLOR
Passagem...
O Ipê Amarelo

domingo, 4 de abril de 2010
DA FELICIDADE
sexta-feira, 2 de abril de 2010
"Sonho Infantil"
quarta-feira, 31 de março de 2010
"Libertas Quae Sera Tamen"

Águas...
sexta-feira, 26 de março de 2010
Diferenças!
(Vinícius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto da Separação
(Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o presentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
[Que coisa! Como pode dois assuntos serem tão opostos e mesmo assim um ser consequência do outro?]
Gotaria que Camões, Bocage e Vinicius sentassem na mesma mesa e num trio fantástico e no uso da pena reescrevessem o meu Destino...
Mangas
Ontem à tarde, comi uma manga doce após o almoço. Que delícia! Lembre-me então, de quando era pequeno;e o quão eram importantes essas pequenas coisas. A manga, o iogurte, o suco, o desenho na TV Cultura. Quando terminei a fatia suculenta da manga docíssima senti minha face lambuzada com seu sumo, nas mãos gotejavam pingos amarelo-ouro e tão condensados que lembravam a geléia real da Abelha Rainha. Neste instante, fui então, invadido por uma alegria, ou melhor, uma Felicidade radiante que é como se o sol tivesse amanhecido dentro de mim. E mais nada importou. Tenho problemas sim, todos têm! Mas ontem os esqueci. Pode parecer patético eu sei, mas como uma simples manga (que não é mais tão simples assim) pode me trazer algo que já procurava há tanto tempo? Chovia muito. Geralmente fico triste em dias de chuva, mas não; eu sentia como se a chuva fosse o suor do calor intenso que tinha por dentro desta matéria infame. Percebi ontem também o quanto sou querido pelas pessoas à minha volta, o quanto sou importante por essas pessoas. As pequenas coisas, ah se não fossem elas! Ouvi ontem de mim mesmo para mim ‘’tudo vem e vai, mas as mangas, essas sim serão eternas’’. Pra quem entende as figuras de linguagem está claro o campo semântico não? Hehehe...
E por isso, a cada dia mais, as mangas é que são a tal da Felicidade, é o dizem por ai nas docas de minh’alma...
quinta-feira, 25 de março de 2010
VERSOS D'UM ALUNO
segunda-feira, 22 de março de 2010
NO SEMINÁRIO
Aperto mais ponto de meu cilício
Com a vã tentativa da pureza alcançar.
Corre a fita grossa e rubra do sacrifício.
É o meu sangue. e tento o Criador alcançar.
E neste altar é que estão vivas todas as minhas
Súplicas de homem!
Na dor me concentro
Com minha carne dilacerada pelo aço
Vejo que o que faço não é o bastante
Para que eu sinta as Asas da Salvação
Ruflarem sobre minha carne infame...
Açoitando-me com o cinturão
De São Francisco, na bruta e áspera
Intenção de suplantar o vício
Vejo-me caindo no precipício
Das tentações profanas do mundo!
Em dores, desmaio, e em minha
Inconsciência sonho com
A derrota dos pecados meus
E quando me rendo ao meu desvario:
Desperto!
Fito meu claustro, cruzes e monstros
Observam-me com gastura
As cortinas antes amarelas
Agora, com meu sangue, já vermelhas
E feitas de barro, as telhas
Caem aos montes no chão.
Um estremecimento arrebatador
Domina-me o corpo por inteiro,
E o mundo estremece no seu fim derradeiro!
E esse mundo em sua forma de elipse
Recebe agora um novo Apocalipse,
As minhas tentações!
Esta é minha cruz, o meu suplício!
Deste mau não sei como me livrar,
E com a vã tentativa de a pureza alcançar,
Aperto mais ponto de meu cilício...