domingo, 18 de abril de 2010

Dos meus amores...








O Amor, ah o Amor! É algo que temo em descobrir que possa não ser o que pensamos. Augusto, meu mestre, soube definir o Amor em sua obra. E venho a concordar com com ele; me nego a crer que tudo isso que passei possa ser amor de verdade. O Amor não é algo cheio de firulas, plumas e lantejoulas. Amor é comer manga do pé, é andar descalço na lama, é rir na chuva, é deixar seu cachorro lamber seu rosto e gostar disso. "O Amor é cego", what hell is this? Cego? Não, creio que não. Nós sabemos bem o que fazemos, o amor é apenas uma justificatica (por assim dizer) incontestável para as inconsequências humanas. Digo isso e por que digo não quero passar a ninguém que não creio no amor, muito bem pelo contrário, creio até mais do que deveria! Mas a cada pedra pulada de nossa vida um pedacinho mais do quebra-cabeça é nos dado e quando vi, percebi assustado essa matemática. "A família é uma instituição falida" - disse uma professora minha - e é isso mesmo! Estamos numa sociedade extremamente carente de atenção familiar; e crescemos assim sem muita coisa e quando encontramos pessoas na nossa vida esperamos receber dela algo que não tivemos antes. A família caiu ao Decadentismo do séc. XIX e o Realismo polvilhou feu em tudo que restou...


Amor é aquilo que sinto quando vejo minha vó sorrindo, é o que faz meu peito explodir quando vejo meus amigos felizes, é o que escorre dos meus dentes ao ser refletido pelo espelho, é a energia que enama de mim quando rezo a Oxum... Isso é Amor, Amore, Amour, Love, Liebe... Os adjacentes disso são apenas adjacentes.


Ninguém tem a obrigação de amar ninguém se não a si próprio.


"O mundo inteiro pode te repudiar; o único que não pode é ti mesmo." - Emmanuel




Idealismo




Falas de amor, e eu ouço tudo e calo

O amor na Humanidade é uma mentira.

É. E é por isto que na minha lira

De amores fúteis poucas vezes falo.




O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

Quando, se o amor que a Humanidade inspira

É o amor do sibarita e da hetaíra,

De Messalina e de Sardanapalo?




Pois é mister que, para o amor sagrado,

O mundo fique imaterializado

— Alavanca desviada do seu fulcro —




E haja só amizade verdadeira

Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!




Augusto dos Anjois




Versos de Amor

a um poeta erótico



Parece muito doce aquela cana.

Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!

O amor, poeta, é como a cana azeda,

A toda a boca que o não prova engana.



Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,

Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,

Todas as ciências menos esta ciência!




Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo

Mas certo, o egoísta amor este é que acinte

Amas, oposto a mim. Por conseguinte

Chamas amor aquilo que eu não chamo.





Oposto ideal ao meu ideal conservas.

Diverso é, pois, o ponto outro de vista

Consoante o qual, observo o amor, do egoísta

Modo de ver, consoante o qual, o observas.



Porque o amor, tal como eu o estou amando,

É Espírito, é éter, é substância fluida,

É assim como o ar que a gente pega e cuida,

Cuida, entretanto, não estar pegando!



E a transubstanciação de instintos rudes,

Imponderabilíssima e impalpável,

Que anda acima da carne miserável

Como anda a garça acima dos açudes!



Para reproduzir tal sentimento

Daqui por diante, atenta a orelha cauta,

Como Mársias - o inventor da flauta -

Vou inventar também outro instrumento!



Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo

Ambiciono, que o idioma em que te eu falo

Possam todas as línguas decliná-lo

Possam todos os homens compreendê-lo!



Para que, enfim, chegando à última calma

Meu podre coração roto não role,

Integralmente desfibrado e mole,

Como um saco vazio dentro d'alma!




Augusto dos Anjos


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