segunda-feira, 22 de março de 2010

Monólogo Abandonadamente Só

Hoje acordei incorporando Augusto dos Anjos!
Num súbito momento, meu corpo estremeceu e num vento repentino de desgraça, estava eu tomando um café pingado e morno perguntando-me: qual é o sentido da vida?

Se tudo eu pudesse contar! Quem dera pudesse de minha imaginação sair um dos meus outros eus. Ah! Isso sim, me faria bem... Penso. Tenho amigos SIM aos montes. Verdadeiros? Alguns! Mas, mesmo assim, eles têm boca, falariam e quebrariam todo o meu clima de flagelo destruidor. E isso eu não quero! E será que me entenderiam? Melhor não descobrir!

Queria mesmo, depois de adulto, poder choramingar no colo de alguém que em silêncio discorda de mim, pois conhece um mundo que eu nem sequer desconfio da existência. Mas eu cresci. E hoje meus carrinhos andam pelas ruas atropelando aquela velhinha que distraída atravessa a rua. Meu Batman usa a sua máscara para assaltar o moço que feliz leva seu primeiro salário sacado para casa. O meu pião cava covas para enterrar todos aqueles meus sonhos de criança que eu nem sequer me lembro. A pipa levada, que outrora dançava no vento, corta a primavera com cerol estéril em sua linha. A menininha que sentava na primeira carteira da sala de aula, aquela que era uma gracinha, hoje vende o corpo para viver. O Tavinho, que era meu melhor amigo, veste salto alto, usa saia justa e desconfio que nem Tavinho se chama mais.

O que houve? Só passaram vinte e dois anos! E qual é o porquê de tudo isso? A verdade é nem tudo tem um por que, a verdade é simplesmente que as coisas mudam, eu mudei! Mudei? Sim, mudei. Eu acreditava nos outros, eu confiava na palavra e hoje enquanto o mundo me corta a fala eu vivo no aspecto sepulcral desta sala e com a impassibilidade da mobília (aos que conhecem, sabem bem de onde tirei este trecho. Eu disse quem está incorporado em mim).

Ser sozinho. Como é, enfim, ser assim? Há alguns que mesmo rodeados de muitos ainda se sentem só e há outros que, mesmos só, têm a melhor companhia. Então posso concluir que ser sozinho, não é um mero estado físico e sim espiritual. Á! Sim, então não sou sozinho mesmo! Esses demônios a me atormentar também contam como companhia! Então vamos parar de graça e falar logo a verdade. Não sou sozinho de um aspecto e nem de outro. Tem muita gente ao meu lado, que torcem por mim e tal, porém me sinto só, tão só quanto nunca imaginara que sentiria. Não estou falando isso porque estou carente nem algo no gênero. Tenho uma vida sexual razoável (caso queiram saber), converso bem com as pessoas e etc. e tal. É uma questão de sentir, ou, quem sabe, ser sozinho mesmo sabe? Enfim, ok. Wherever...

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