a Luiz Santiago.
Da Lua cinza de outono.
Em sua queda, suas asas batiam desordenadas
Assim como seu coração apressado.
Quando bruscamente chega ao chão
Sente na pele as folhas secas que, outrora
Verdejantes, enfeitavam a flora.
Observa, retrai, fraqueja e observa novamente.
Um vazio o domina por inteiro neste momento,
Tenta chorar e nem sequer as lágrimas
O acompanha. Procura Deus, e a cada busca
Uma derrota. Deus não estava lá!
Estarrecido pelo abandono de seu Mestre,
Inundado por um vazio colossal
As estalactites do medo pingavam gota a gota
Um líquido marrom escarlate sobre sua esperança esmeralda.
Silenciou-se. E num momento introspectivo de pensamentos,
Em seu existencialismo supremo,
Decidiu, assim mesmo de repente,
Deixar de ser anjo, assumir uma forma menos divina,
Entretanto, mais viva!
Primeiro, arrancou-se as asas friamente
Cruzando os braços, cada mão segurando uma asa
E as puxou num momento de Ira do mais alto calão.
Coisa que nunca sentira na vida. Já não podia mais voar.
Depois foi a vez dos olhos. (um olho de anjo pode ver
Muito mais além, precisava perder esse dom também!)
Então, usando seus dedos macios, cegou-se arrancando
A luz divina dos olhos, não via mais o belo...
E, por fim, com um grito ecoante, vazou de sua alma
As qualidades: Compaixão, Caridade, Ternura e Humildade,
Todas juntas de mãos dadas ascenderam novamente à Lua Cinza.
Andou por longas noites floresta adentro,
E em seu semblante pareciam-lhe cravados mil anos.
O ar cada vez mais úmido e sujo inflava-lhe os pulmões
Com Carbono e Hidrogênio, lacrimejava e tossia e em sua
Tosse exalava o fogo fátuo dos pântanos.
Seus pés, agora rachados, afundavam na lama fria e suas unhas, que
Incrivelmente já estavam enormes, cavavam covas enquanto andava.
Já nem lembrava mais quem era ou quem foi um dia...
Só parou de andar quando, a sua frente, encontrou um rio de águas fétidas
E neste rio, ao olhar seu reflexo nas águas negras, não conseguia reconhecer-se.
E quando, num momento aterrador, percebeu em que criatura tinha se tornado,
Tornara-se humano!
Desesperado, num salto olímpico, afogou-se nas águas podres que nelas refletiam
Seu rosto e agora também a Lua cinza e simplesmente desejou ter asas para voar
Até aquele grande astro que do alto ofuscava-lhe os olhos semi-cegos.
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