terça-feira, 14 de maio de 2013

Pessegal


Já de longe se avistava a placa típica: Recanto Pôr do Sol. Toda casa de repouso tem nomes relacionados com fim da tarde, uma alusão que beira o filhadaputismo. A casa aparentava ser como um sobrado qualquer num bairro pacato da cidade. De fronte, um portão de ferro pintado de um amarelo claro. Com pequenos detalhes de cinza chumbo, o interfone é o elo entre o asilo com o mundo impossivelmente real.


O quintal muito bem decorado com várias árvores carregadas de flores e frutas. Suas copas denotavam certa fragilidade, apesar de aparentar velhas o suficiente para serem fortes. Alguma coisa nelas causava um pavor. Ora os caules mostravam rugas quase humanas e desprendiam uma casca marrom-apretejada, ora algumas folhas que secavam ainda no pé mostrando o lado sombrio da vida. Fora as raízes salientando ondas que emergiam da terra, intercalando um serpentear profundo e delicado; as frutas no chão já apodrecidas incensam o espaço como um turíbulo queimando pedras do passado.


As paredes que ladeavam a área mostravam que um dia foram amarelas, mas as cores da umidade e do tempo decoravam de forma heterogênea, mesclando todas as memórias que o local tentava esquecer com a ligeira esperança que a vida reverbera até mesmo no bolor de uma simples parede.


Ana estava sentada numa cadeira que não era de balanço, mas a cada mover de seu usuário se remexia como um alto prédio impulsionado pelo vento forte. A cadeira rangia as perdas, Ana rangia os dentes de porcelana gasta. Era hora do banho de sol. Observava cada canto daquele já muito bem conhecido jardim; não se sabe quanto tempo repetiu esta mesma rotina.


No começo, perscrutava cada vegetação, lembrava como era o mundo do lado de fora e não reconhecia o universo o qual agora fazia parte. Com o tempo, passou a contar as flores e visionava o crescimento das plantas. O Alzheimer a impedia de lembrar dos rostos que a trouxeram até este lugar (ainda não se sabe bem ao certo se este fato foi uma maldição ou uma bênção). Ana olhou para as árvores levantando uma das mãos em direção a elas; sua pele muitíssimo branca evidenciava suas veias coradas em azul muito escuro. Via um jardim de rugas. Tudo era tão seco como o caule de uma árvore, inclusive ela. Secos por dentro e por fora. Talvez, quem sabe?, ela era uma das plantas do jardim.


O sol ardia a décima segunda hora. Ana estava sozinha, já era tempo de ser retirada do jardim. Ninguém apareceu. Ana não lembrava da cuidadora, não lembrava que existia uma.


Sede.

Jardim seco.

Sol.

Árvore.

Pessegueiro.

Pêssego.

Desejo.

Ana olhava firmemente para aquele círculo alaranjado pendurado na árvore. O pêssego pintou em seus olhos um brilho de madrepérola. No peito, subia um furor que queimava a partir do umbigo e ia emergindo por dentro, atingindo a garganta que secava mais ainda. A língua procurava algum vestígio de saliva, no entanto, espalhava somente a densa secura de sua boca. A sede aumentava e o sol enérgico nos seus longos raios grossos de calor.

Em um repente, Ana decidiu levantar e colher o fruto do qual lhe causou tanta euforia. O caminho não parecia longo, quinze metros no máximo. Porém, a uma senhora que se movia com dificuldade pelo peso de longos anos e corpo molhado de reflexos endurecidos e músculos notoriamente psedoatrofiados não era um processo muito rápido e fácil.

Apoiando-se na cadeira que rangia sentindo as dores da velha, Ana se colocou de pé, olhava fixamente para o pêssego. Pegou a bengala que sempre esteve ao seu alcance e iniciou o processo de sua odisseia. Uma perna, outra perna com ajuda da bengala de madeira: um passo. Repetidas vezes proferiu a técnica. Pensou em voltar para cadeira, mas o pêssego balança nauseante a chamando por hipnose. Apesar das dores, continuou. Sua vontade e sede aumentavam a cada passo que dava. A fruta cada vez mais reluzente ao som e Ana cada vez mais perto de seu desejo.

A fina camisola balançava com o movimento de Ana. O vento soprava frio o seu corpo cada segundo mais quente. Tinha muito calor, como há muito não sentia. Degustava o sabor de estar viva; sentia sua veias pulsando um sangue um pouco mais líquido e não tão pastoso quanto achava ter.

Via o sol de outra forma a partir de quando estava sob os dedos do pessegueiro. Havia sombra e o astro só a tocava por instantes nas frestas dos galhos e folhas. A sombra era úmida e o ar convidativo, tudo ali era bem-vindo. Ana se sentiu em casa, segura. O pêssego sorriu para Ana.

Pausa.

O tempo começou a passar como se a vida fosse em câmera lenta.

As mãos, ambas erguidas em direção à fruta, subiam temerosas e desengonçadas para a tão esperada colheita. Ana era uma senhora alta comparada às outras, facilmente se destacava, o que a ajudou muito na busca pelo pêssego. Em instantes estava com as mãos preenchidas pelo objeto de seu desejo. Sentiu um pouco de tontura quando o tinha nas mãos, não sabendo se era doença ou emoção.

Para o deleite completo das suas vontades, Ana com todas as dificuldades do mundo, sentou aos pés do pessegueiro, acomodando-se, com ajuda da bengala, em cima da protuberância de uma raiz. Queria um sabor completo, sem intermédio de nada mais além dela mesma. Em um surto insano e senil jogou as dentaduras de porcelana gasta-amarelada no jardim, lambeu os lábios secos pela sede que crestava sua boca, tocou na pele lisa da fruta, acariciando sua maciez e sentiu seu corpo arrepiar.

A terra umedecida tocava sua camisola e Ana sentia molhar as coxas. Gengivas gastas pressionavam a fruta madura. A mordida era imprecisa mas persistente. Ao romper a casca fina do pêssego, um suave líquido abriu caminho na mucosa seca da língua de Ana. Doce. Divinamente doce. Corria como um rio o mel natural daquele sabor. Sua boca pequena e flácida deixava escapar parte do sumo do pêssego, que escorria pelos lados, adoçando seu rosto e fazendo caminhos de sabor que hidratavam a pele de um pescoço já seco há anos.

Ana mordia a fruta com voracidade. Dilacerava o pêssego com a fome de quem nunca comera melado, lambusando-se.

Arrepios ao vento frio. A terra úmida mesclava sua temperatura com a velha, que se retorcia entre as raízes. Ana sentia seu corpo trêmulo, e parecia que a árvore estava se movendo, a escalando de baixo para cima. Seu corpo dizia sim à natureza que emergia de fora para dentro e ao sentido aguçado que explodia de dentro para fora.

Na sua mão, não restava nada a não ser uma grossa e rígida semente embalsamada com restos de sumo do fruto. Seus dedos molhados de doçura.

O sol iluminava em relances os pés de Ana, que observava inerte todo aquele mundo estranho do jardim. Do chão, as plantas todas pareciam enormes, e ela tão pequena.

Ana sentia-se parte de algo que não precisava lembrar do quê. Estava toda tomada em flor; seu corpo florescia uma vida que há muito não sabia suportar. A velha era inteiramente pêssego: úmida, doce e macia. E no embalar do dia que já tornava-se tarde, Ana adormeceu como uma adolescente que acabara de se fazer mulher.



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Goma de Mascar

Ele mascava chiclete. Eu sempre odiei chicletes.

Era um dia como outro qualquer. Com os olhos exaustos de um dia inteiro, sentei no banco do ônibus como quem repousa numa rede em pleno início de férias. Era segunda-feira. Fechei as pálpebras na ânsia de ter o maior prazer dos que madrugam para a labuta, dormir no transporte público. Não alcancei sequer o cochilo, escutava um som distante mas irritante vindo de algum maldito fone de ouvido. Parecia rock ‘n’ roll barato. Estiquei um pouco o corpo para frente seguindo aquela música indefinida e estridente. Uma cabeleira loira, um pouco arruivada é bem verdade, mas os fios doirados eram maioria. Agora não sei se eram dourados ou os meus olhos cansados que os pintaram assim, mas como gosto das imagens que crio, deixo-os tingidos aos sabor dos meus desejos.

Cabelos curtos. Cortados aleatoriamente, não chegando a ser desgrenhados. Ele era um belo rapaz, pude perceber em uma pequena virada para o lado da janela. Um perfil simétrico. Notei o maxilar aquadradado, marcando bem o semblante de homem, porém a pele alva e sem pelo, deixou um ar angelical que me fez ajeitar a rola umas quatro vezes para o lado; ela teimava em querer sair pelo cós da calça jeans.

Desde então não parei de observar esse cara. Sentei um pouco mais para o lado, o que me deu um ponto de visão estratégica. Eu tinha a fresta do banco, um cânion para meus olhos de gavião.

Virou mais uma vez o rosto, olhava a rua através do vidro ensebado do ônibus, via um mundo de sebo. Ele mascava chiclete. O maxilar quadrado se mexia sob a pele branca como uma alavanca que abre os portões de um forte medieval. O queixo fazia movimentos hipnotizantes e circulares lembrando muito uma minibunda que rebola em algum ritual de iniciação sexual da Antiga Grécia a algum deus do vinho; o barulho estalado que vinha do interno da sua boca era paralizador. Esse tom bucólico entoava cânticos de lascícia. Era o som de um encantador de serpentes. A minha estava encantada.

Mascava. Mascava. Ruminava uma pasta densa que esvaia açúcares pela língua, dentes e garganta. Seus lábios, pequenos e pintados em dregradé do rosa ao vermelho, lentamente se abriram em movimentos de rodamoinho, a língua empurrava a goma para fora e seus dentes a seguravam pelas extremidades. O chiclete, inflado pelo fôlego juvenil do garoto, ganhou forma elíptica, redonda e grande. Uma bola rosa que estava ligada àquela boquinha que mais parecia um cu por filamentos tuti-fruti exalanndo um perfume doce enjoativo que me fez soltar pelo menos duas colheres de sopa de baba no pau. A bola explodiu fazendo a goma grudar em parte de seu rosto.

O processo de desunção do chiclete foi rápido, mas exigiu da língua um esforço grande de contorção. Ela se mostrou inteira para mim. Suas reviravoltas revelaram uma habilidade de lambida que me fez por várias vezes soltar mínimos gemidos de satisfação. Em poucos segundos, o ritual de mastigação retornou e a hipnoze deu continuidade ao meu tesão.

Não consegui contar quantas vezes esse ato se repetiu, menos ainda quantas bolas saíram em vários tamanhos e densidades do rosa.

Ele sabia que eu o observava. E gostava disso. Não sei dizer se eu gostava, sei que não conseguia olhar para mais nada, sequer sabia onde estava e seu meu ponto já havia passado. Eu não sabia mais de nada da vida.

Perscrutar aquela cena se tornou para mim ato de tragédia grega. Ao passo que meu pau latejava na viagem  da dança que aqueles lábios faziam, minha mente me envenenava com um sabor amargo na boca. Eu o desejava mais do que estar em casa. Queria que sua língua fosse o meu lar, o lar doce lar de minha rola grossa. Doia-me, quem sabe?, o fato de ser eu um homem e ele um garoto ainda sem gênero definido, quiçá virgem, puro sem as maldades que uma gozada trás.

A quem estava me enganando. O puto estava fazendo uma dança de acasalamento, mostrando todas as habilidades que sua boca nauseante pode fazer e eu, idiota que sou, pensando em inocência de sua pureza. Às favas! Eu queria fudê-lo. Sem me preocupar com seu nome e/ou história. Queria criar um estória, na qual ele é o meu buraquinho...

Pausa.

Num ato de profanação, ele quebra meu transe levantando sua mão. Estranha. Órgão com cinco tentáculos, unhas comidas de ansiedade e ligeiramente sujas. Abre a janela embaçada e o vento traz um mal estar, aliás, um não-estar, deixando meu pau, já quase gozado, frapé, mole, escondido, caramujado, quase nulo. Ele espreme os lábios quase secos como um canhão e como quem atira contra crianças atira o chiclete para fora do ônibus.

A goma rosa cai no asfalto cinza, que a deixa rançosa e esbranquiçada. Não sentia mais o aroma doce e as bola não existiam mais. A potência desta cena me causou um desespero, como se minha vida não tivesse continuidade.Que eu parasse ali.

Ele deu o sinal, desceu antes mesmo que visse nada mais do que uma sombra rasgante.

Eu estava perto de casa, desci, ainda em meia à danação dos meus pensamentos. Quando cheguei, entrei no banheiro e bati uma punheta rápida. Gosmei uma goma como ranho branco. Acinzentada. Caiu no chão como o chiclete que ainda assombrava minha lembrança. Deixei lá para secar, como uma mancha no espírito, um cisco no universo humano para o marco da minha luxúria. Esse era o meu chiclete, que em pensamento o garoto há de sempre mascar sem poder cuspir.

Ele mascava chiclete. Eu sempre odiei chicletes.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Todo Sangue Tem Culpa


O elemento que transita da vida para morte





“Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!”

A Obsessão do Sangue, de Augusto dos Anjos


O que nos vem à mente quando falamos em sangue? A morte. Geralmente é esta a sombra que esta palavra esconde na sua semântica. Mas desconfio que esta palavra abrace muito mais sentidos do que pode-se perceber em uma primeira reflexão.

A condição humana tem ligação direta com o sangue no decorrer de toda a sua vida, desde o ato sexual, à estadia no ventre, o nascimento e até a morte.

O sangue rega os órgãos sexuais preparando-os para o coito. Somente com sangue o pênis fica ereto e pronto para o coito. E é com este mesmo elemento que o útero é irrigado e alimentado. E no caso de sua morte, o sangue é usado para purificação da vagina, no processo da menstruação.

É este líquido rubro que injeta vida no útero fecundo e o alimenta pelos nove meses. Esse alimento não fica apenas nas vitaminas e minerais precisas para a geração da vida. Desde esse momento o sangue já pré-escreve parte do destino da futura pessoa que se desenvolve. O sangue carrega toda carga genética do pai e da mãe, desde olhos azuis a doenças incuráveis. A responsabilidade do nome que a família é levada também pelo elemento vermelho, claro que hoje em dia não tem tanta força neste quesito, mas ainda pode ser levado em consideração. O sangue tem sobrenome e com ele carrega-se as urgências da família, sejam elas dívidas ou heranças.

O parto é uma das manifestações de violência interna mais distinta.Obviamente o sangue é parte primária e precisa para o ato. Ele anuncia a chegada da criança, e não só isso, o sangue tem como função o rito de passagem. Ele marca presença em boa parte da mudança na vida humana. O bebê nasce banhado em sangue, aos berros, dizendo ao mundo que está vivo. O vermelho da vida completa seu primeiro ciclo.

O sangue antes dos nove meses completos pode ser como a violência da mulher em expulsar o corpo estranho que carrega, neste caso, o sangue é uma das vozes da morte.

A sombra da morte sob a presença do sangue é um dogma do proibido e da violência à vida.

Na infância, o sangue é tido como oposição à vida. Geralmente, a criança tem medo e ao se deparar com o elemento frente a frente cai no pranto. Ao passo que crescemos, já no período adolescente, o líquido nos vem novamente para selar mais uma fase da vida. A menina encara o sangue na sua primeira menstruação. Marco que inicia a primeira mudança drástica de sua vida. Mais um ato violento que desnatura a inocência da criança, dando lugar aos anseios da carne. O sangue se torna o troféu do rito de passagem para o anúncio que consagra a menina em mulher. Agora ela poderá gerar vida. E mês a mês, terá em seus dias toda a vermelhidão da vida. Logo mais, ao perder a virgindade, o sangue discretamente aparece como porta-voz  da flâmula do desejo. Essa violência é interna no homem, o sangue encharca o pênis deixando-o rígido e transformando-o em ferramenta sexual, o instrumento do prazer e a pilastra geradora da vida.

A violência à carne é o ato que põe o sangue à mostra. Ele é o líquido da vida, e nele está presente todos os componentes de cicatrização que o corpo precisa. Sangrar é sinal de saúde. O suicida, consciente disso, derrama seu sangue para se livrar da própria vida.

Na ficção o sangue aparece inúmeras vezes, uma delas é o caso do vampirismo. Esse é um exemplo muito relevante. O vampiro, como ser morto-vivo, precisa se alimentar da vida humana para que ele possa continuar a viver. Este alimento é por sua vez o sangue. É nele que a criatura encontra os nutrientes necessários para seu sustento. Precisa de sangue quente, recém tirando se seu fornecedor. Ao passo que o vampiro suga o sangue de sua vítima, ele inicia uma transfusão de vida. O agressor ganha a vida, enquanto a pessoa a perde.

Nós, os humanos, nos alimentamos da carne animal, que por sua vez, é irrigada em sangue desde sua criação. E dela tiramos as nossas proteínas, que são cruciais para nos mantermos vivos. O sangue irriga o ciclo da vida.

A religião cultua o sangue. Desde a Antiga Grécia em seus sacrifícios para os deuses ao Cristianismo com sua comunhão ao divino. O vinho representa o sangue, e bebemos ele para nos elevar espiritualmente, ou seja, revigorar a vida. Nos rituais africanos, o iniciado é banhado em sangue de animal para simbolizar o seu nascimento com as novas revelações da religião.

Os deuses gregos precisavam de vida e sangue para sua adoração. Os cristãos precisam, em um ato antropofágico, se alimentar do sangue de seu deus para que purificação da própria carne e espírito.

Não defendendo nenhum conceito religioso, apenas no intuito de levantar dados, vemos que o sangue é presente na maioria das religiões e na quase sempre tem o mesmo manto semântico.

O antropofagismo é uma marca célebre do sangue como tônico revigorante para quem o praticou. O agressor em busca de força e conhecimento se alimenta do outro para aderir as habilidades que a sua refeição humana possuia.

O sangue sempre foi o símbolo dos pactos, sejam eles satânicos ou até entre duas pessoas. Juram com sangue algo que não pode ser maculado. Ou com o elemento garantem a venda de sua vida. O sangue carregando todo seu material genético, nada mais claro que seja com ele a marca do pacto.

O sangue é o selo que une a vida e a morte em um mesmo ciclo. Ele nunca é ou pode ser considerado inocente em sua presença. Por ser um elemento carregado de sentido, jamais sua aparição será inútil, ele sempre tem algo a dizer, e com certeza, a vida, a morte ou a violência serão plano de fundo de um acontecimento de transição da vida animal.













sexta-feira, 13 de maio de 2011

O filho de Sodoma



Descobri a masturbação aos nove anos. Eu estava brincando com meu hamister de estimação, ele entrou na minha bermuda e eu tive uma sensação estranha; talvez uma certa coceira seguida de um formigamento quente que descia do meu abdômen até o órgão que a partir daquele momento não servia mais apenas para fazer xixi. Eu segurei meu pênis bem forte e o pressionei para baixo, institivamente repeti esse processo por umas quinze ou vinte vezes. Foi quando, eu senti. Era um tremor, um terremoto de pelo menos 17 pontos na escala Richter. Eu me senti morto por três segundos; não conseguia me mover e senti a vida voltando às minhas veias, o sangue pulsando rubro por todo o meu corpo e então, lá estava ela: uma gota grossa de um líquido alvo, uma única gota de um oceano de sensações e delícias, desde então me considerara homem.

Depois que descobri aquela sensação que apenas mais tarde fui descobrir que se chama orgasmo, comecei a acordar com meu pinto extremamente duro. Tenho certeza que ele acordava duas horas antes de mim. E então, minha rotina era unicamente trabalhada para ter a maior quantidade de orgasmos pelo dia. Ao acordar, no banho pela manhã, no intervalo da escola enquanto meus amigos lanchavam, assim que chegava em casa, depois do almoço, de tarde no comercial do desenho da TV Cultura, no banho de tarde e por fim, antes de dormir. Assim passaram-se vários meses e anos. Talvez os melhores da minha vida.

Eu sempre fui muito criativo nas minhas punhetas (a partir de agora meu vocabulário estará em baixíssimo nível, por motivos óbvios, não tem como ter educação britânica ao falar de sexo). Sou um empreendedor no sexo, gosto de inovar, de descobrir novas formas de prazer. E isso sempre esteve comigo, dos nove aos dezesseis anos eu transei com um mamão papaia, uma melancia, com as almofadas da sala, com o ladrilho do banheiro, com meu cachorro Bobby, meu fiel lambedor de saco (era a parte mais incrível da minha adolescência e fácil de fazer, bastava passar um pouco de patê no saco e ele começava a lamber, gozei muito assim, e só de lembrar eu sinto um prazer enorme). Tive muitas outras peripécias, mas todas do mesmo teor, quando não era uma fruta, era algum objeto que pudesse criar um prazer parecido ou meu queridinho e fiel cão.

Quando completei dezessete ganhei um presente especial de uma vizinha, Valéria. Amicíssima de minha mãe, ela tinha 42 anos se bem me lembro. Foi uma coisa rápida, e confesso que não gostei muito. Meu pau não é dos maiores que existem, mas estou acima da média brasileira. Sei que o problema não era meu pau e sim a situação. O prazer não pode ser assim, sem estímulos psicológicos. A gente precisa processar a informação sexual na mente, assim tudo fica mais intenso. Uma xana aberta na frente de um cara de 17 anos com uma adolescência regada de sexo macarrônico não era nada demais. Fui com a sede de um gladiador, mas ela gemia estranhamente, dizia coisas que eu não queria ouvir como “se torne homem comigo meu bebê”, eu já era homem há muito tempo e sim ela que não era uma mulher para mim...

Depois que experimentei o sexo com pessoas, fiquei um pouco decepcionado com o ato, percebi então que o problema era eu e meus pensamentos junto à companhia. Procurei sexo, e claro, encontrei. Passei anos inteiros dedicando minha vida à toda lascívia que emergia de meu pau. Não transei com apenas mulheres, homens, crianças, outros animais além do Bobby. Sou assumidamente heterossexual, mas só o sei, pois, fodi tudo o que pensei que fosse fodível e fiz uma bela lapidação em meus gostos. Não tenho problemas com isso, sou um perfeito homem pós-moderno que brande a bandeira da Liberdade e claro, como qualquer pessoa que participa desta filosofia, sofre por não ser preso o suficiente para ser feliz.

Quero deixar claro que fiz muitas coisas da minha vida. Sou mestrado em Relações Públicas, não poderia ser diferente. Desisti no final do segundo ano do doutorado. Por motivos simples, não quero gastar mais tempo com estudos. Não acho que o mundo possa trazer tantas novidades assim. É fatídico, tudo é igual em proporções diferentes. As pessoas não mudam nunca na sociedade; não importa o seu grau de instrução ou de grana, todos cagam a mesma horrorosa bosta e fede igual se não banhar as pregas. E outra coisa, o caviar e o angu se tornam a mesma merda marrom que a privada come. No fim, tudo é igual.

Eu só realmente conheço uma pessoa quando estou na cama com ela. É lá que tudo se aflora como deve ser. Vi dondocas se assumirem putas, como vi putas todas pudicas em sugar minha porra da minha rola carnuda. Vi homenzarrões se deleitarem em posições propícias para qualquer exame do tipo ressonância que acha até câncer. E antes que este relato pareça uma versão tosca e sexual de uma música do Raul Seixas, já digo que vi muita coisa, porém não vi tudo e nem nasci há muitos anos e tal. Minha intensão é frisar que já vi muitos paradoxos nesta minha vida infame, inclusive eu sou um deles. Mas, isso seja quem for que esteja lendo este relato irá saber mais adiante, não pretendo enrolar muito; só preciso dizer o importante e termino logo com tudo isso.

Tenho uma existência paralelística, como se fossem duas vidas que vivem uma em função da outra. E muitas vezes, não sei quem eu realmente sou. Se sou o Sr. Relações Públicas que coordena um escritório renomado em São Paulo ou se sou aquele animal de pupilas dilatadas e cheirando a suor e sem nojo ou pudor algum de nada. Acho que sou em maior a segunda opção, pois não há um momento que eu não esteja procurando algum buraco que eu possa foder e que me traga algum tipo de prazer...

Neste momento, estou nu, acariciando meu pau e sentado na sala do meu apartamento e olhando para uma réplica do Abaporu que tenho na parede e nunca tinha notado o quão gostoso seria transar com uma mulher de mãos e pés tão grandes, seria inenarrável foder entre aqueles dedões... Sem contar o fato que Tarsila devia ser uma ninfomaníaca, criar uma mulher giganta e olhando para um cactos que pra mim mais parece um imenso pau de três cabeças, só poderia vir de alguém que fodia até com próprio pincel. Quem dera eu tê-la fodido enquanto pintava.

E começo a pensar na vida.

“Eu tinha 28 anos quando conheci um casal, que hoje somos amigos. Eu já tinha fodido ela na faculdade e depois reapareceu casada. Saímos os três por algumas vezes para beber e, numa reuniãozinha na casa deles, me fizeram a proposta do ménage à trois, adorei a ideia, e, claro, topei na hora. Passaram-me uma cartilha de condições. Achei tudo muito regrado e um tanto caxias, mas quando foram dando todas as coordenadas, achei até interessante e fiquei deveras animado, ou melhor, de pau muito mais que duro. Estava rasgando a calça jeans. Era exatamente assim: ele ficaria sentado numa poltrona enquanto me olharia fodendo a mulher dele. Só poderia ser numa única posição, ela de quatro sobre mesa de centro e eu a enrabando por trás. Maravilha, pensei eu.

Tudo estava muito melhor do que eu pesava. Eu possuindo aquela xaxinha com o sabor nostálgico da faculdade e ainda vendo o maridão dela nos observado, um panaca. Como não podia mudar de posição, em pouco tempo, tudo começou a ficar chato e repetitivo. Desconcentrei-me da foda e comecei a observar o que estava a minha volta. Olhei para o panaca e lá estava ele, vidrado na cena que observava com um invejável prazer. Trazia no rosto um sorriso safado e pontiagudo como se tivesse sido riscado a faca.

Aquele sorriso me incomodava muito, tanto que fui obrigado a não olhar para ele. Olhei então a mulher, que nesta altura para mim não parecia mais humana. Não conseguia ver uma mulher à minha frente, era uma mesa em cima de outra. Eu estava fodendo uma mesa de centro feita de madeira. O buraco era duro, de uma rigidez brutal que senti meu pau machucar, mas não parei de meter, pelo contrário fodia mais forte que podia. O problema maior era ele, me olhando e tocando uma punheta que devia estar uma delícia ao julgar pela cara que fazia. Não havia como, eu precisava olhar para ele. Fixei meu olhar soberano sobre o cara, mas tudo tinha um ar tão irônico que conseguia me diminuir por inteiro. Não me lembro de ter gozado naquela noite. Sei que ela gozou muito. E ele? Nossa... Tenho raiva só de lembrar. Teve um orgasmo que eu senti mesmo estando de longe; um gemido tão intenso que me sinto arrepiado até nos cabelos do cu só de lembrar. Voltei pra casa muito estranho. Pesado, denso e quase morto. Sei que passei uma semana socando punheta pensando no orgasmo que aquele cara teve com aquele maldito olho lascivo e irônico de quem sabe muito bem o que está vendo. Apesar de eu possuir aquela mulher, era ele que a tinha. Ela era dele e não minha. A trepa tem dessas, tudo é seu até gozar, depois que você esporra na parede rubra de alguém, tudo termina e mais nada existe em delícia, só o peso de existir que fica. Não tem coisa mais constrangedora do que o pós-sexo, você nunca sabe o que dizer e se dizer...”

Acabo de gozar no Abaporu, “toma isso Tarsila”, disse sorrindo. Levanto um pouco leve e trêmulo pela gozada... Olho a vista do apartamento, a cidade cinza como sempre. E tudo parece uma condenação ao degredo. Daqui, vejo o trem passando. Ah, o trem... Tantas lembranças!

“Era noite. Eu voltava do escritório tarde. Não fui de carro, pois precisava ver pessoas, pegar obus e trem lotados e sentir os corpos cansados e suados encostando uns nos outros para eu me sentir um pouco vivo. Eu segurava a mochila com um dos braços e com o outro tentava me equilibrar no balanço nauseante do trem. Foi quando ele entrou; um jovenzinho que contava os seus quinze aninhos, um anjo. Um rostinho liso sem barba, de olhos verdes, porte médio e branco como a camisa que eu usava. Não parava de me olhar, fica olhando fixo e desviava o olho quando eu o encarava. Encarei sem medo, e como se tivesse usado a mesma faca que o panaca, marido de minha amiga, risquei um sorriso safado e escarlate. Só não foi mais escarlate do que o rosto vergonhoso que ele pintou. Ele desceu duas estações a frente, ainda faltava três para mim, mas desci mesmo assim. Eu queria ter o prazer de foder um anjo e tinha certeza que com ele seria o mais perto disso que eu chegaria. E não demorou muito para eu conseguir fazê-lo. O bom da inocência é que ela é facilmente enganada. Um suco, um sorriso, uma pegadinha no queixo e meia dúzia de palavras que você reproduz de qualquer romancezinho adolescente de vampiros que amam e pronto, você tem alguém de joelhos chupando o seu pau.

E que boca! Não adianta, homem, mesmo sem experiência chupa bem melhor do que qualquer mulher habilidosa. Homem não tem boca, tem boceta com dentes. Todo anjo é engolidor de mundo, comedor de fé e paus. Esse devorou minha neca com habilidade e presunção. Mostrou um serviço digno de aplauso. Engolia-me inteiro. Sentia seus lábios inferiores baterem no meu saco; suas mãozinhas pequenas seguravam as minhas coxas e eu o puxava pelo cabelo. Eu queria me sentir dentro de um outro alguém, dentro de um anjo. Ele rangia um barulho de engasgo e seus olhos lacrimejavam muito. Era a dor de nascer, eu estava nascendo dentro dele, eu estava me tornando um anjo mascarado. Um anjo terrível e monstruoso. Dei uns segundos de ar ao anjo e perguntei se ele estava pronto para carregar dentro dele algo que fosse só meu, um pedaço de mim. Ainda tentando se recompor, respondeu com um aceno de cabeça que sim e me olhou profundamente com os olhos brilhantes e eróticos, mas ainda simples e inocentes. Tive uma raiva enorme ao ver isso, inveja talvez... Meu sangue pulsou forte pelo corpo e senti a ira em forma de vida correr todas as minhas veias até chegar no meu pau; com dois dedos arregalei mais o que pode a boca do anjo e demoradamente fodi da língua à garganta. Fiz mais o que pude. E pouco antes de eu gozar, olhei para baixo e vi nos seus olhos molhados um mundo verde de sensações que eu nunca terei. Era aquele mesmo olhar cheio de vontade e desejo cobertos por um desconhecido medo.

Pus minha mão na nuca dele e pressionei-o contra mim. Ele sacudiu os braços como se fosse afogar, disse para ter calma, e ele parou. Meti ainda mais umas quinze vezes, uma para cada ano de sua vida e gozei... Senti minha porra descer a garganta dele como se ela ainda fizesse parte de mim, como se ela fosse uma extensão do meu pau. Olhei para ele e pensei: agora, você é um pouco eu, e eu sou menos que era antes.”

A lembrança daquele anjo me trouxe um peso considerável, tanto que sou obrigado a beber um pouco e coloquei um som pra distrair os meus pensamentos. Não tenho nada muito refinado hoje aqui em casa, uma Pitú está de ótimo tamanho. Bebia enquanto pensava, pensava e bebia mais... Bebia, lembrava, pensava... Bebia, bebia... Bêbado.

Olhei para o camarão vermelho que nadava no transparente da garrafa e navego na erupção de todos os pensamentos. Nunca fui a favor de drogas e afins, não por ideologias sociais e sim por não achar interessante sair de mim com algo que não venha de mim. A droga mais poderosa é o Prazer; ele te cega, te faz delirar e melhor, faz você não pensar em nada. O problema é que vicia e o barato dura pouco; numa trepa de uma hora você goza mesmo por uns cinco segundos quiçá um pouco mais. O que te faz querer mais, e mais e mais e mais e mais...

Depois de mais outros vários tragos da Pitú e sentindo-me mais alterado do que realmente gostaria de estar, vou à sacada do apartamento e observo a vista. De pronto, tudo era negro e conforme a minha visão ia desembaçando eu conseguia ver diversas coisas... Os que antes eram prédios em minha lembrança pareciam-me agora paus gigantes que saiam da terra na ânsia de foder o céu, os cutuca-céus, pensei eu. Depois disso, tudo ficou mais claro e amplo, eram lápides gigantes e percebi que eu vivia num imenso cemitério de sensações e pensamentos. Mas somos vivos e como somos! E os vivos fodem o tempo inteiro. Já parou pra pensar quantas pessoas devem estar trepando neste exato momento? Vale lembrar que uma pequena porcentagem destas trepas terão como final a reprodução; todos buscamos o prazer da vida, mas nem sempre o ato de gerá-la. O orgasmo é o suborno para a reprodução, Deus quis assim. Mas, aprendemos a enganar Deus e gozar fora ou em outro buraco. Não cito camisinhas, nada que me afaste do contado da pele considero como válido.

Pensar na vida é pensar em sexo. Pensar em sexo dá vontade de fazer. E eis-me de pau duro sem buraco pra foder.

Lembrei dum número guardado na carteira, e corro para o telefone.

“Oi.”

“Quem é?”

“Quero saber quanto?”

“Cento e cinquenta reais, goza duas vezes.”

“Faz tudo?”

“E mais um pouco.”

“Ok, pode vir. Você lembra meu endereço, certo?”

“Claro, você é o estranho do Ipiranga.”

“Pode ser, mas hoje serei o seu dono...”

Desligo.

Ela não demorou muito. Foi uma questão de pouco minutos ela estava amarrada na minha cama parecendo uma estrela do mar.

Não preciso dar muitos detalhes de uma foda, creio que pouca gente não saiba como foder alguém. O problema é que enquanto eu metia nela eu pensava em certas coisas. A gente diz que comeu fulana ou ciclana, por quê? Comer? Eu nunca comi ninguém... E isso me deixou triste. Como seria comer alguém? Mas comer mesmo. E senti um tesão só de pensar em tudo que minha mente produzia... Não passou muito tempo para que eu já estivesse grudado no pescoço dela, mordendo-a com muita vontade. Primeiro foi o sangue quente nadando pelos meus dentes e língua, e depois um pequeno naco de carne mal-rasgada que engoli sem mastigar. Tive nojo no começo, mas logo peguei o jeito.

Os gritos da estrela do mar foram facilmente abafados pela minha cueca e meias na boca dela. E não parei de comer. Eu mordia com força e puxava rebuscadamente a pele dela. O seu corpo tremia por inteiro, senti sua boceta tremer por dentro e o que me estimulou a meter e comer e beber mais o que ela era... O vermelho pintava o lençol azul-desbotado. E o quarto ganhava a cor da Luxúria.

O tesão cega e o prazer é iminente. A gente goza muito mais gostoso quando esquecemos que estamos acompanhados na cama.

Tive um prazer indescritível. Ainda mais em perceber que além de tudo ela estava menstruada. Tirei meu pau repleto de sangue daquele buraco rubro. Minhas duas cabeças ensanguentadas, banhadas em vida.

Fui ao banheiro me limpar e pesadamente caminhei até lá. O lugar inteiramente branco ficou respingado de dores vermelhas.

Abri o chuveiro e a água caia quente sobre meu corpo coberto por todas as excreções e pensamentos que se possa imaginar. Senti-me fraco. Fraco o suficiente para ter que sentar no chão e deixar a água cair sobre meu ombro. Fiquei observando aqueles rios de águas avermelhadas riscarem o meu piso branco e caminharem para o ralo. Tudo é tão efêmero, pensei. E todos os meus pensamentos foram voltandando conforme meu corpo ficava mais limpo. Comecei a lembrar do que tinha sobre minha cama: uma estrela do mar sem vida, comida, fodida, e bebida por mim.

Estava de pau duro de novo só de lembrar de tudo. Resolvi então, socar mais uma punhetinha antes de pensar no que eu faria com toda aquela casca de prazer, uma lambança.

Fiz uma punheta linda, foi uma memorável retrospectiva das minhas melhores fodas, pensei em muita gente, no anjo, na mesa, na estrela do mar, no Bobby... Quanta delícia!

Os solavancos do meu braço eram fortes e incisivos não parei para contar o tempo, mas senti meu corpo enrugar pela água e então, depois de uma boa sessão de pensamentos, gozei. Era uma porra acatarranhada, uma goma grossa e em grande quantidade, como se eu estivesse gozando por uma vida inteira. Era minha vida explodindo de dentro de mim e pintando meu rosto de puro branco.

Joguei a cabeça pra trás de prazer, não medi a força e nem queria medir nada de mim naquele momento. Bati fortemente a cabeça no vidro do box do banheiro. O vidro quebrou e masturbou a minha jugular. Um rio grosso de sangue desaguou pelo mar do ralo. Era um oceano vermelho que pintava o meu prazer por dentro e agora pinta o chão do meu banheiro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Febre

Ano de dois mil e dez depois de Cristo. Ano da morte de muitos de mim. Eu poderia dizer que foi (ainda está sendo) o pior ano de minha inteira. A cada ano, cada segundo o mundo gira em torno do otimismo hipócrita da sociedade. É muito fácil dizer que tudo vai dar certo se você é uma pessoa que não conhece o a frustração. Talvez eu apenas cumprido aqui mais uma invejão de pessimismo, porém não posso deixar de dizer que mesmo que seja mesmo isso, convenhamos, o mundo está rodando em certas injustiças que não podemos controlar.

Mas tudo bem, não falemos mais disso não? Ou sim.

Um ano se feacha neste momento. E claro, uma coisa ou outra mudou sim. Mas trocando tudo por miúdos. Nada mudou, chegou até a piorar um cadinho. Sou um Homem melhor, fato (e sim, com ''agá'' maiúsculo). No entanto, Homem mais sofrido também. Não apenas no sentido de que sofreu e logo, aprendeu. Não. No sentido de que sofreu e apenas isso. Sem suporte, sem nada. Sozinho no meio de muitos.

Hoje, a única coisa que realmente me deixa bem é o trabalho. Nem mesmo a graduação que sempre foi o meu xodó me faz tão bem quanto um dia já fez. A família? Bom, como dizer? Eles fazem o que podem (eu imagino). Mas ainda não foi o suficiente, nunca foi. Muitos devem se perguntar se Eu, para tanto reclamar, os trato como família. E eu vos-lhe respondo, caríssimo (a), faço também o que posso. Carregar pesos familiares pela vida, é como uma bola enorme pesando nos seus calcanhares. Assuntos como este são grilhões terríveis.

Dói. A febre queima e a pela arde, como nunca fez.

sábado, 20 de novembro de 2010

Desfolhagem

E a realidade plausível das coisas
Cai pesada na consciência paquiderme.
Sente frio,
Sente fome,
E chove?
Mas dentro ou fora?
Terrível; nem sabe quem é.

Disse: "A vida é curta demais pra passar raiva"
E porque isso disse,
O mundo queboru-se por inteiro
E nada mais lhe pesava tanto.

Agora sim, chove.

Gêiser Numa Noite Quente

Eu não preciso de conselhos,
Não quero seus olhares de caridade!
Tirem daqui as paixões, os amores torpes.
Vazem-me a alma raquítica, subnutrida;
Prefiro a Loucura, a Ebulição,
Pois sou uma explosão apocalíptica,
Um chaga no braço do herói.
Sou seu escudo lascado que
Um ferreiro abandonou num canto da rua.
Escuro, denso e sozinho...